Visitas da Dy

sábado, 19 de outubro de 2019

Duas faces




Despi-me das roupas e das caras.
(E bocas eram só para os seus beijos.)
Na entrega, nua, eu era escura e clara, perversa e boa.
Porque o pertencimento é tudo e nada:
É ser dono de si ao ponto de doar-se
E completamente do outro, oblata.
(Não há, de modo algum, controle)
Sou, então, um rio caudaloso
Que deságua em outro rio,
Maior e mais veloz, violentamente bonito,
Infinitamente inquieto
Em busca de suas próprias profundezas.
Não sei se entrego meu corpo, matéria finita,
Ou minha alma, relâmpago na escuridão de seus olhos.
Esqueço seu rosto
E o decoro de olhos fechados.
Esqueço seu nome,
Desnecessário, já que não o chamo.
Tem a divindade de uma criatura pura,
As artimanhas de um ser decaído.
Por isso, encanta e domina,
Algo de misto ente o deus e o diabo.

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