Visitas da Dy

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Naturais




Relâmpagos cortaram os céus.
Pisquei os olhos rápido demais.
Um trovão rasgou meus ouvidos
E na velocidade do som tive arrepios.
De repente tudo era um breu,
Meus olhos fechados.
De repente a água jorrava
De repente o vapor subia
Tudo isso me tomava
Eram ares de frio e calor
Eram confusões solúveis em saliva
Eram poucas explicações em nenhuma palavra
Por sorte eu tinha suas mãos:
Contornos nos quais eu me sentia amparada.
O relógio estava abandonado na sala
Precipitamos como as nuvens
Desejosas de um desfazer-se
Reinventamos verbos e fenômenos                                         

Fomos naturais.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Semente




(Poema para o querido Mário Brasil)

É que hoje eu cansei de ser árvore
Cansei de parar os raios
Cansei de envergar com furacões em copos d'água
Cansei da imagem imaculada de força
Cansei até de ter coragem.
Hoje cansei de ser grande.
Árvore frondosa que lhe cedeu abrigo,
Canto de conforto, tempo-espaço-amigo.
Hoje quero me apequenar:
Vou semente virar.
Vou me regar com o sal necessário e útil:
Um tanto de dor, lágrimas incontinentes,
Outro tanto de labor, o suor de minhas (próprias) construções.
Hoje serei a vontade de brotar.
Nada continuidades
Tudo (re)novo,
Tentar (de)novo.              
Tenho o poder da leveza:
Alimento-me de poesia!



quinta-feira, 26 de outubro de 2017

Ser Novo




Hoje, ele bebeu o medo.
Alegou que foi direto de meus lábios.
Hoje, ele tocou o medo.
Segundo ele, estava bem na ponta de meus dedos.
Eu, ao contrário, não senti nenhum gosto amargo
Não experimentei sensações frias.
Não tremi com o vento da noite
Nem lamentei o lado da cama esvaziado
Porque ainda me lembrava dele preenchido.
Hoje, ele não soube o que fazer.
Não sabia sequer o que havia provado:
Não era medo o que invadia sua alma
Era a liberdade de suas asas.
Elas não estão mais presas!
E tudo o que bebeu e tocou e provou
Resumem-se a uma palavra: novo!

Então, que aceite seu ser novo, de novo.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Batom vermelho


         Onde estão os beijos? Ficaram tão desbotados desde a última vez...
          Eu me lembro do vivo do batom vermelho, marcando sua pele, morrendo nos lábios, saciando vontades, uma sede que vinha de longe.
          Eu me lembro do gosto das palavras impressas no meu corpo pelo seu corpo. Da leitura em braile feita pela ponta da língua, de onde suas palavras moravam e, ao conhecer meu corpo, lhe abandonaram, adotando meu seio como morada.
          Eu me lembro de ser pouco mais que raios ou sóis, lampejos nos seus olhos breus. Rebrilhavam cores. E eu me desfazia com os beijos, como um suspiro no céu da boca.
         Eu me lembro de estar perdida entre o céu e a terra, de ser algo como a água, queda livre, tempestades, pouca paz, muito querer. Mas passou.
          Pousou um mim o lânguido esquecimento, secou-se a alegria de recebê-lo em meu ventre...
         E onde estão os beijos que choviam gratuitos? Guardados em poças mudas? No canto de sua boca que não sorri ou estacionaram em guarda-chuvas que me cobrem e impedem que eu me banhe de amor?

         Onde estão os beijos? Ainda estou perdida a procurá-los. Ainda tenho batom vermelho e o desejo de usá-lo.