Visitas da Dy

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Despedida (para Mari)



(Para Mari, que acaba de nos deixar 17/12/19)

Tinha tanta vida,
Tanta sede de liberdade,
Tantas asas que voou.
Aproveitou a noite e foi:
No caminho de casa, silenciou.
Parecia uma borboleta...
Agora é mais leve que jamais fora,
Nós somos um bocado saudade.

domingo, 8 de dezembro de 2019

Reinações




Acenda as estrelas de meu olhar,
Desembole os fios de meu cabelo
Com a ponta de seus dedos.
Leve-me para seus sonhos,
Para que eu reine absoluta
Nas madrugadas quentes.
Observe o curso das águas,
O som do vento, meu canto.
O tempo para quando nos encontramos
Só eu danço entre suas mãos,
Entre seus desejos:
Meu reino paralelo.


sábado, 7 de dezembro de 2019

Contemplação do Deserto Interior



Falta tão pouco... 
E faltará tanto quando o dia chegar... 
Saberei eu contar as areias que formam o deserto ou serei eu o próprio deserto? 
Saberei medir até onde a paisagem caberá em meus olhos ou seguirei perdida em miragens? 
Os caminhos que percorrerei ficarão marcados com as pegadas ou elas irão sumir com o vento? 
E as histórias que gostaria de contar ainda terão o mesmo enredo? 
Qual será a lua que contemplarei? Será ela cheia de promessas de dias felizes, será nova de caminhos e possibilidades, será um crescente de esperanças sussurradas a um nassin ou serão minguantes dos planos que não realizarei porque não eram só meus? 
Caberão nas linhas de minha mão os nomes de príncipes e princesas ou o destino me reserva a solidão de um beduíno? 
Que a caravana venha em seu tempo certo. E que as riquezas sejam muito maiores do que posso contar: que sejam afetos e sonhos e realizações e felicidades. 
Assim como meus olhos desejam pousar no deserto, meu coração deseja fazer ninho em um par de mãos. Maktub. A espera faz-se necessária.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

Sacrário



Estamos sós e a noite segue
Fazemos preces à lua crescente
E esquecemos os cansaços,
Os sofrimentos e os desgostos
Porque somos nosso querer
E queremos sempre mais
Estar no peito-acolhida que nos foi ofertado
Como se coubesse nele todo afeto
Todo carinho, todo sentimento do mundo

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Poema de amor



Essa não é uma poesia de amor,
Mas, vai que ela te acerta?
Vai que te encontro com esse verso
Solteiro em rima qualquer?
Essa é uma poesia de beleza
Das ressacas de teu olhar
Profundo e melancólico
Como se todo ontem fosse saudade
E todo amanhã ainda demorasse tanto por vir.
Esse é um poema da tua beleza
Em ver a vida passar
Aproveitando os momentos,
Voltando tarde pra casa, 
Tomando sereno.
Essa não é uma poesia de amor,
Mas, pode ser se você deixar.
Pode ser lida no meio do seu quintal.
Pode ter meu nome no final
Fazendo rima feliz
Colocado ao lado do teu,
Aumentando a beleza,
Porque esse é um poema simples
Do cotidiano
Da pausa que faço lembrando de ti.



quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Letras



A contragosto não lhe darei ouro
Sequer uma argola.
Pratas, também, não as tenho.
O pouco cobre que carrego
Arcam com os dias que (sobre)vivo.
A única coisa que possuo é alma.
Uma alma inquieta e voraz,
Ardente e impulsiva.
Uma alma que quer tudo,
Vive tudo, sente tudo
E, por dom ou teimosia, brinca com as letras
Domina arranjos e combina sentidos.
Então, não espere muita coisa
De mim, desse baú de histórias,
Só lhe serão doadas letras
Tantas quanto puder ler.
Tantas quanto me inspirar.

terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Geometrias



Talvez o amor caiba entre suas mãos.
Talvez ele caiba em uma forma geométrica:
Uma caixa, um pote, um quarto.
A mim não importam as formas.
Importa-me a fluidez:
O modo como tudo se desorganiza.
A falta de tino. O arrepio.
A palavra trêmula. O suspiro.
A pupila dilatada. O sorriso.
A boca seca, entreaberta, muda.
O amor parece com o silêncio ao contrário.
E, talvez, caiba em ainda forma,
Mas, ainda não acredito nisso.
Pra mim ele é puro desafio
E ignora matemáticas e geometrias.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Insolações



Chove sobre meu corpo quente
Tudo está em brasa
Resquícios do sol, do sal,
Das minhas chamas interiores.
Banham-me as gotas geladas
E não me esfriam.
Tocam minha pele e não a refrescam.
O fogo que me arde vem de dentro.
Não se dissipa com a água.
Não se diminui se não à espera
De ser tão maior que extrapola a si,
Provoca incêndios
Ao ponto de queimar o corpo ao lado.
Febre que se acalma, mas, não cura.
Insolações.

domingo, 1 de dezembro de 2019

Escalada



À quantas anda tua loucura, 
Tua vontade escancarada,
Convertida em atos de paixão?
Ontem ela escalou paredes
Só pensando "ses" e "senões"
E trocaria tudo pela única certeza:
Aquela que mora nos corpos que se amam.
À quantas andam teus passos
No rumo do concreto,
Esforça-te e faz ou espera absorto?
Ontem à noite ela fez poesia,
Cantou e dançou à sua espera
E, de novo, escalou... pensamentos.
As vontades dela são explícitas:
Penduradas nas paredes,
Quadros de aquarela
E as suas, onde estão?

sábado, 30 de novembro de 2019

Porvir




Somos do muito e do pouco:
Muitos sonhos, pouca calma.
Somos imensos e mínimos
Como se o universo inteiro 
Fosse um grão de areia.
E morremos na praia
Nas nossas distâncias
Cativos em nós
Sem deixar a onda nos aproximar
Morremos frios, ainda que ardendo ao sol.
O que nos faz igual é sermos tantos
E não menos que reinos,
Castelos e fortalezas,
In-trans-po-ní-veis
Armaduras
Que escondem pérolas,
A beleza do ser,
O ouro de Ofir
(Atravessando fronteiras)
Carregamentos inteiros de descobertas
Chances do porvir:
Evitaremos o desperdício?

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Calabouço




Caminhante na vida,
Andante das palavras,
Distraída por natureza e por versos,
Caí em armadilha desmedida.
Como que por encanto e magia
Envolvi-me com (sua) poesia
E aprisionada estou 
No calabouço de suas histórias
Em um tanto de segredos,
Meu degredo noturno,
Minha canção matutina,
De quem conta as horas
À espera da liberdade
Que só chega quando me abre
Os sentidos e as sensações,
Desamarrando-me com seus beijos,
Desfazendo-me sutilmente,
Na ponta dos dedos.

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Anti-negação





Não me negue sentimentos
Sofro menos quando tento:
Ser esse pé de vento
Que lhe bagunça a papelada,
Que lhe refresca da insolação,
Que lhe recita meu nome,
Deixando-o vivo em sua memória.
Habituei-me aos cantos, sombras e quintais.
Habituei-me a doar e a ceder 
E ouso agora reverter:
Quero experimentações,
Portanto, não me negue sentimentos,
Deixe-me entrever seus vãos,
Recriar seus espaços,
Deixe-me ser mais leve
Do jeito que posso:
Sou mais feliz quando tento.

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Solidez



Na prateleira, o amor é sólido
Estático, lindo.
Fotografia.
Mas, esse amor não me comove,
Não me tenta,
Não me apetece.
Não me dá sobrevivências.
E digo com a boca cheia de beijos
Que querem ser dados
Em plenas vivências,
Movimentos,
Andanças,
Vôos,
Nós.

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Morte




Pinta as unhas,
Veste negro.
Traz as garras de rapina.
Sobrevoa leitos,
Dança no meio da rua.
Quase louca, mete medo,
Mas é em seus braços o fim
Do gozo ou da dor
Adormeceremos incautos,
Profundos em jazigos.
Há quem diga que por ela
Chegamos à paz eterna.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Incensos




Imensos céus nos cobrem.
Sobre nós tecem seus prazeres,
Cozinhando o juízo
Ao sol do meio-dia.
Ardendo os corpos 
Em seus alvos lençóis
Às solidões das meias-noites.
E ousamos crer que nos céus moram os deuses
E elevamos preces incensadas,
Mais aladas que as palavras,
Esperançosos de um milagre.
Tu, ao contrário, acendes incensos ao amor
Perfumas o quarto, a sala, a vida
Enquanto sonhas com rendas e véus,
Enquanto desejas sussurros e beijos,
Enquanto amas aquela que o inspira.
E aqui, incansáveis, os incensos queimam
E envolvem o corpo sinuoso da amada
Em tua cama e longe dela
Porque é duradouro o perfume do amor
E ela o ostenta satisfeita e orgulhosa:
Está sob o céu, mas em seu altar
Ela reina como sua Afrodite particular.

domingo, 24 de novembro de 2019

Escolhas




Não sou eu um ser de garbos,
De eiras e beiras,
Tampouco delicadezas,
Mas abuso das avarezas:
Dispenso lamúrias sobremaneiras,
Seriedades tantas e pautas vagas.
Neste mundo estou mais para
Um ser de amor e passagens:
Amo o que de ti me dá:
O riso estreito,
A força tamanha,
O noturno aconchego,
O vasto preito.
E a mim isso basta.
E devolvo o que posso
Por conta e risco:
Um tanto de liberdade,
Gargalhada cheia,
Um vinho salpicado de amargor.
Pouca dosagem, muita vontade.
No fundo sou de passagem
E a hora de partir chega 
Com o nascente ou poente
Mas, ao anoitecer, 
Desejo ser só de amor
Fazer de ti minha paisagem rotineira
Contar as luas no brilho de seus olhos
Saber que posso ir, mas, escolher ficar.

sábado, 23 de novembro de 2019

Prece a Anteros




(*Anteros, na mitologia grega, é o deus do amor correspondido)

Há em todo querer 
Uma pitada de encanto e mistério,
Projeção e sonho,
Desejo e descoberta.
É o ardor apaixonado dos platônicos.
É a sede eterna de Tântalo.
Fruto dos deuses:
Suplício ou dádiva, entorpecente.
A busca é sua maior ventura.
Mas, o meu querer é pueril:
É imediato e duradouro,
É um querer de Anteros
Quase a tempo e hora,
Mas não está, o bem-amado, 
Ao alcance do toque.
Não está, o bem-amado,
À distância de um beijo.
Então, de verdadeiro, 
De puramente verdadeiro, não há o amor
Apenas vontades e preces.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Pequena luz



Eu, pequena luz, esmorecendo.
Tuas mãos macias sendo aconchego.
Um respiro no desespero,
Um alívio no cansaço.
Em seu ombro pouso leve e desconcertada.
Em seu peito descanso meus sonhos.
É um peito tão largo e profundo
Que jamais ousaria atravessar...
Desfaço-me desse esforço
O aceito ninho-noite que me afaga.
Sob a luz de seus olhos cresço novamente.
Fico bem maior do que sou,
Bem maior que o mundo.
E, gigante incandescente, volto à luta.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Tardes Perfumadas




O desassossego todo é filho do tempo.
Do tempo em que o desejo é constância,
Que o corpo é ardor,
Que o amor é saudade
E o peito é vago.
É tudo um desalinho
Frêmitos da juventude,
Inquietudes tão naturais quanto brutais .
Enquanto isso, a existência caminha,
Breve eternidade,
Acostumada com a ausência,
Com perfume de fim de tarde.
A juventude passa e se acalma.
O amor chega e faz morada.
As horas se estendem.
O fim tarda.
O toque que alucina também abranda
E se perpetua na memória.

quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Esconderijo



Não sei se o sinto ou imagino,
Se o escrevo ou sonho,
Mas, o poema cresce.
Ganha lastro, alastra,
Invade, inquieta e acalma.
Porque é parte da divina arte,
Porque é tudo que me cabe
E se ouso ser entusiasmos
É que sei haver um esconderijo
Onde moram segredos e medos,
Onde habitam versos amorosos
De noites ardentes,
Leitos de tranquilidade.
Porque me tira o sono, mas, dá a paz.
Estremece a alma, mas, brotam sorrisos
Que fugiram de mim
Abandonaram meus próprios esconderijos
Porque já fomos iguais
E há de se haver uma saída,
Uma chance, um tempo-espaço único
Em que os corpos se encontrem e se abandonem
Em que as palavras se desnudem,
Se desejem, se consumam.
Há de haver a liberdade do verbo
Fazer 
Sem que haja pudores
Ser
Estar
Compartilhar
Alcançar o novo e sair das cavernas
Não voltar à escuridão
O tempo de se esconder é findo
E a entrega começa ao darmos as mãos.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Tanto




Não fossem as palavras
Era só um papel
Não fosse a madrugada
Seriam apenas horas a correr.
Era tudo o que não era
E padecia um pouco 
Todo dia
E sabia esperar
Que o menos crescesse 
E transbordasse
Que o tanto 
bastasse.


segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Alento Noturno





          Se eu pudesse, em uma noite dessas em que você desbota, faria dessas palavras um abraço, um afago e uma canção (música me acalma).
          Eu buscaria em algum lugar um lampejo de esperança e colocaria no seu bolso ou penduraria no seu pescoço, tipo patuá, pra te convencer de que ali na frente as coisas vão melhorar.
          Eu cederia mais um abraço a cada notícia ruim que nos golpeia, nos envergonha, nos envenena todos os dias, pra você saber que não é o único a sofrer.
          Eu entoaria como um mantra a máxima árabe que ensina "que tudo passa" só pra ver brotar a tranquilidade nos olhos salpicados de angústia.
          Mas, de tudo isso, talvez só um abraço silencioso fosse eficaz porque mesmo sendo mágicas as palavras, elas ainda não traduzem certas coisas. Paz de espírito, equilíbrio e afeto são intraduzíveis em palavras.

domingo, 10 de novembro de 2019

Azimute




(Pôr do sol em Muriaé, 10 de novembro de 2019. Foto gentilmente cedida do acervo pessoal de Saulo Otoni)


Era findo o dia com suas cores,
Deslumbrantes aquarelas,
Dividindo o céu,
Semeando esperas:
Da lembrança,
Do poema,
Do beijo,
Do café.
E todo pensamento era refúgio.
E todo pensamento guardava o sol
No canto do olho,
No canto do peito,
No canto do pássaro,
Que embala as coragens nossas,
Herança da infância,
Num céu-menino-quase-preto
Esperando ser salpicado de cintilâncias.
O sol se põe e se deita no azimute.
Nós, miúdos, esperamos seu levante
Para levantar também.

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Coreografia




Dói-me o cotidiano,
As revoluções não feitas,
Os irmãos que lutam e caem
Em doação pela causa.
Dói-me a solidão de estrelas e de versos,
Sua poesia que me falta,
Sua voz que não ouço.
Dói-me o corpo cansado,
Exausto do dia a dia,
Da jornada longa e pesada.
Mas, se há um consolo, seu nome é dança
Onde sou maior que o mundo
Onde sou dona do sorriso de Monalisa,
Onde leio sua mão e seus pensamentos
E promovo encantamentos:
Prendo seus olhos,
Aguço seus desejos
E chamo suas mãos.
Não há outro momento tão mágico
Quanto aquele em que o corpo se liberta
Ondula, gira, vibra, se equilibra
E flui:
O universo se desenha em uma coreografia

quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Lira




A tristeza da lira reverbera o poeta:
A alma que sente mais do que deveria,
A boca que grita as dores suas e do mundo.
Mas, que ainda assim, canta o amor
A esperança leve, ainda que tardia,
De ver o bem-amado chegar,
Pupila dilatada pela surpresa,
Desalinho, desatino, destino!
E a lira embala os sonhos
Nus, crus, como deveriam ser.
E o poeta se deixa levar
Não por escolha,
Mas, por envolvimento.

terça-feira, 29 de outubro de 2019

Fogos e Artifícios




Como se eu aceitasse todas as vozes
Que me chamaram de louca.
Como se eu ignorasse meus algozes
E gritasse até ficar rouca.
Como se, de fato, eu fosse bruxa, encantante,
Lançando-lhe meu charme-feitiço.
E aceitasse salvar-me da noite angustiante,
Entregando seus amores ao meu serviço.
Assim, arrebatado, ouviria meus cantares de longe,
E mesmo que nossos corpos se despedissem,
Saberíamos guardar nossos segredos como monges:
Em silêncios profundos e resilientes  até que se expandissem
Ao passo só o reencontro nos abrandasse enfim
Porque não é vão o amar
Nem pouco o querer-tão-bem-assim
Muito menos a vontade de ficar.
Seríamos, então, o enigma e a esfinge, egípcios.
Você me decifrando e eu lhe devorando, fogos e artifícios.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Lava




Sou um vulcão
E aqui dentro tudo explode,
Chama-viva, lava incontida.
Poço de desejos, incandescências.
E, ai de mim, que ouso alturas
Depois que acordei da rotina.
Antes de seus olhos, eu era passante
E as horas (poucas) tranquilidades.
Agora, suor e sussurros me rondam
Agora, carne e osso são poucos
Agora, lascívias e labores me ocupam,
Invadem-me e incendeiam.
Erupções multicoloridas de sonhos e jardins,
De praças e descansados domingos,
E minha lava descontrolada 
Devastando as quietudes,
Trazendo a violenta força das paixões
Que só se assemelham ao bater de asas dos colibris:
Delicadeza e brutalidade complementares.
A urgência do agir sem deixar rastro.


domingo, 27 de outubro de 2019

Self Pity




Há um tanto de histórias caladas,
Desejos guardados
E me perco: entre elas,
As lembranças, as vontades.
Projeções e imagens
E, aqui dentro, há um mar revolto
Por tudo aquilo que quero
E não ouso.
E, aqui fora, finjo ser um céu tranquilo,
Mas, gosto de tempestades e seus raios.
Gosto de pertencer à paisagem,
Embora deseje pertencer aos seus braços.
Vivo um desencontro com meus sentimentos,
Abandono do coração,
Cansaço do corpo,
Cama-imensidão
(Ainda sonho entregas,
Mas, bebo solidão).

sábado, 26 de outubro de 2019

Riso




Eu gosto do meu riso solto
Sem compasso, ocupando seus espaços
Quase escandaloso, sem rédea
Nem rumo: livre!
Do tipo que vem sem motivo
Do tipo que se congela na memória
E fica guardado entre cores
Entre cheiros
Entre meu perfume favorito
E minhas flores: do cabelo e do vestido.
Eu gosto do meu riso
Quando nasce em você
E faz morada em meu corpo,
Porque pousa nos lábios,
Mas, ilumina os olhos
E me dá levezas.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

Adequações





Borboletas no estômago? Nunca as tive.
E vens e perguntas-me os porquês,
Os senões, 
Se cometeria desvarios,
Se construiria histórias,
Se ousaria aquietar-me o espírito selvagem,
Amansar minhas tempestades interiores.
Ao que te digo, querido:
Nada disso poderia acontecer-me,
Nada disso me cairia bem
Porque não sonho pousios,
Mas vôos altos e profundos.
Não sonho sossegos,
Mas, cavalgadas livres, sob um céu alaranjado,
Experimentações de liberdade!
Não se trata de se domar,
Mas, de se acompanhar.
Mude o verbo!

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Colheita





Tenho, pois, mãos entreabertas
Prontas a colher a ti e tuas flores.
Tenho, pois, outonos inteiros
Para serem aquecidos pelo café
E seus cheiros.
Sou do tempo de agora
Tanto quanto já fui das fogueiras.
Sou dos ventos bravos e brandos,
Das urgências e pausas cheias:
Paro o relógio com um sussurro,
Acelero teu peito com um beijo.
Se me tomas pela mão, nego o arreio:
Dou galopes selvagens, desnorteio
Corto o teu céu (da boca) como um raio,
Mas, cedo à luta, repouso em teu leito.


quarta-feira, 23 de outubro de 2019

Adormecer




Sai das pontas de seus dedos, a minha desordem
Um emaranhado de nadas
Que confundem, miragens.
Um emaranhado de distâncias
Que sufocam, madrugadas.
Uma coleção de ilusões
Que ofuscam, amanhecer.
E eis que não sou mais que a criança
Que se contenta com o enigma
Que desiste da resolução
Que dorme de tanto cansaço.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

Ineváfel




Atrelada aos seus sonhos,
Em minha cama sigo insone
Como se eu precisasse estar acordada
Para que Maya lhe presenteasse com meus feitos.
Atrelados à sua boca, meu nome e meu desejo:
Ora sussurrados, ora mastigados
Como se eu mesma não os pudesse controlar,
Como se, de fato, estivessem presos
Não a mim, mas, ao que quero
Ao alcance do toque,
O inefável?

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Travessia





Canta odes de prazer e regozijo.
Canta em vozes altas
Até mesmo o que já foi sussurrado.
É o que lhe sobra: lembrança.
Daquela travessia lenta
Da larga anca,
Dos seus passeios noturnos,
Entremeio a rios e cavernas,
Montanhas e vales.
E lhe vale outra lembrança:
A do descanso puro,
Dos largos ombros-abrigo,
Do peito-leito em que o amor repousou
Exausto, estanque, extasiado.
Canta seus versos de sem-fim
Canta a promessa de um dia vir 
De ser mais do que o tempo foi
De ser breve e eterno
E espera o saber,
O separar mito e história,
O fazer e o querer.

domingo, 20 de outubro de 2019

Fogo ou fogueira?!





Por que eu desejaria perder-me em sua cama?
Se, por acaso, eu adormecesse
E minha alma se prendesse à sua,
O que faria?
Há nessas margens um rio irrepresável.
Há nessa cela um querer incendiário,
Quase kamikaze,
De quem vai sem medo ao desconhecido.
De quem ousa, desprezando o perigo.
Mas, e se minh'alma se prendesse à sua?
Fogo ou fogueira?!

sábado, 19 de outubro de 2019

Duas faces




Despi-me das roupas e das caras.
(E bocas eram só para os seus beijos.)
Na entrega, nua, eu era escura e clara, perversa e boa.
Porque o pertencimento é tudo e nada:
É ser dono de si ao ponto de doar-se
E completamente do outro, oblata.
(Não há, de modo algum, controle)
Sou, então, um rio caudaloso
Que deságua em outro rio,
Maior e mais veloz, violentamente bonito,
Infinitamente inquieto
Em busca de suas próprias profundezas.
Não sei se entrego meu corpo, matéria finita,
Ou minha alma, relâmpago na escuridão de seus olhos.
Esqueço seu rosto
E o decoro de olhos fechados.
Esqueço seu nome,
Desnecessário, já que não o chamo.
Tem a divindade de uma criatura pura,
As artimanhas de um ser decaído.
Por isso, encanta e domina,
Algo de misto ente o deus e o diabo.