Visitas da Dy

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Ancestralidade





No início éramos luzes inquietas, brilhantes,
Adoradas, sábias, contagiantes, ouvidas.
De nossos ventres paríamos o mundo,
Nosso fogo queimava o mal,
Mas, incomodava.
E, então, nos calaram.
Em masmorras, em forcas,
Em afazeres domésticos.
Rasgaram nossas vestes,
Incendiaram-nos e fizeram-nos cinzas.
Fomos parte da fogueira,
Mas, recolhidas as brasas,
a alma ainda pulsava.
E de bruxas a caminhantes,
Ganhamos as estradas, as ruas,
As mãos do destino
E reacendemos a chama da vida
Acolhendo-a no peito
Até que exploda.
Até que sejamos liberdade.
Até que sejamos, de novo, só amor.

terça-feira, 28 de abril de 2020

Caçada




Selvagem, forte, arredia.
Livre, vigorosa, bravia.
Em noites de lua cheia, uivo,
Corro, afio minhas unhas em suas costas,
Unhas negras de caçadora.

Mas, quando a lua diminui,
Às vezes, encolho, choro e quero canto
De solidão, de ninar, de seu leito.
Queria ser a caça que levou pra casa
E fartou-se a noite inteira.

Queria, em todas as luas, 
Seu cheiro, seu corpo, suas histórias
Deitar meu caos ao pé de seu ouvido
Adormecer de um cansaço lento
Que mescla sua presença real e em sonho
E só se diferencia pelo gosto de seus lábios
Que mora nos meus à noite 
E se renova nas manhãs 
Com bons dias de lírio e verbena
Ao redor de minha cintura.

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Recriações




Claro, como algo intangível,
Penso que te amo.
E faz parte do enigma da vida
Não saber como e quando chegaste,
Tampouco a que vieste.
De certo, não chorei por ti,
Talvez, de emoção, pela lua, pela voz,
Pelas minhas flores que colheste 
Tão delicadamente entre os dedos.
E, nos meus sonhos, tu me amas
E és meu no intervalo de tempo
Preciso em que pousas em meu ventre.
Mas, a noite está febril e não durmo
E não sonho e hoje não tive seu amor,
Então, crio modos de tê-lo:
Fecho os olhos para vê-lo
E encontro-o dentro de mim
Como se por magia pudesse ter entrado.
Como se meus arrepios por ti
Tivessem sido causados.

domingo, 26 de abril de 2020

Do Mistério de Amanhecer





E, seja qual for o tempo
Quantas batidas o relógio der,
Quantas saudades o peito guardar,
Tens o dom do mistério de amanhecer:
Basta que chegues e o sol brilha,
A névoa se dissipa
E os olhos se enchem de alegria.

sexta-feira, 24 de abril de 2020

Sofá Amarelo




Da fresta da porta do quarto
Entrevejo o sofá amarelo,
Almofadas vermelhas, vinho.
Minhas penas cruzadas sobre o veludo
A vitrola sem data com música antiga
E seu tapete me convidando à entrega.
Ainda nem saiu do trabalho
E já estou à sua espera.
Vou bagunçar a sua estante
E debruçar em sua janela
Gosto de ver as estrelas
Que me traz na ponta de seus dedos.

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Chuva de Verão




No encontro definitivo dos corpos
Entremeados de mãos e carícias,
Beijos e lampejos completam-se em si.
Pouco importa a estação.
Pouco importa o tempo.
Entre amores e aromas
Chove pelo corpo inteiro.
Chove uma chuva de Verão
Quente, repentina, intensa
Que passa e marca
Deixa saudade com gosto de desejo.

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Renascer




Ao acordar você renasce:
É a possibilidade de ser melhor,
Maior e mais humano.
É a possibilidade de transformar,
De amar, de contagiar
A todos com positividade.
A decisão é sua:
Repetir ou renascer de verdade?
Eis a questão.