Visitas da Dy

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Procura



Procurei-lhe em cada boca que beijei
– confesso que foram poucas –
E pelas noites adentro te chamei,
Tanto que minha voz fez-se rouca.

Em cada abraço buscava teu perfume
Passava entre braços numa dança interminável
No meio das estrelas imaginava ver teu lume
E meus olhos sentiam de ti uma saudade inesgotável.

No adiantar das horas eu penava
A noite fria me consumia
E, de teimoso, o novo dia raiava.

Ah, como é belo o amor que não se tem
E por teu amor, até morreria...
Só não morro, porque ao final, sei que não vens...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Um Passo de Cada Vez



Ninguém se assume fraco e isso já dizia o poeta Fernando Pessoa, por ele mesmo, não os heterônimos, salvo minha memória que vive a me pregar peças. Mas eu me assumo! E isso eu disse outro dia, cheia de mim!
E me assumo mesmo! Já levei porrada, já perdi muitos jogos, muitas batalhas, mas nunca a guerra, porque essa só perderei no dia em que meu sangue escorrer pelo chão. A guerra só estará vencida quando conseguirem fechar meus olhos pra que eu não veja o sol. Só estarei vencida quando não puder mais sonhar com a lua e o brilho das estrelas. Antes disso, ainda respirarei e ainda terei o gosto pela luta.
Ah, por quantas vezes já sofri... por quantas vezes já vi meu coração despedaçado porque julgava não poder voltar atrás com minha palavra... perdi pontos comigo mesma. Quase perdi esse jogo, mas deu tempo de salvar, de me salvar. Deu tempo de aprender a negociar as promessas, a aprender a me desligar de promessas cujo receptor não as merecia.
E já chorei muito por ter agido da maneira errada. Algumas vezes fui parasita, peguei carona na idéia do outro, comprei brigas que não eram minhas, contei vantagens que nem sequer sabia como tinham sido tiradas... que vexame! Se alguém mais atento me fizesse uma simples pergunta me pegaria na curva, sem lenço, sem documento, sem explicação. Um verdadeiro papelão...
Por quantas vezes já chorei debaixo do chuveiro, lugar eu gosto mesmo é de cantar, de me achar a diva da música... já chorei abraçada aos joelhos por motivos bobos, por motivos que mereciam e em algumas crises que nem sabia o motivo. Só chorava... deve ser isso que acontece quando entramos no tal inferno astral... pode ser essa a explicação...
Ridícula eu? Desconfio que todos somos. Eu sou! O ser ridículo é aquele que não anda na moda? Muito prazer, eu crio a minha moda! Franja não está em alta? Eu estou, corte o meu cabelo, por favor! Vestidos estão em baixa... oh, que maravilha! Quero três: um de cada cor! E daí que não se combinam mais os sapatos e as bolsas, que já não se ouvem Queen? Quero mais que o mundo se exploda em confetes que é para eu fazer a minha festa! Não tenho vergonha de ser eu e assumir as minhas vontades e gostos. Ridícula, pode ser! Não ligo!
Ah, olho para os lados e vejo tanta gente bonita, elegante, inteligente! Todos nasceram assim: sabendo tudo! Pena eu não os invejar... acho que deveria, mas não consigo... estou bem nesse caminho de aprender cada dia um passo. Penso que ao descobrir o mundo aos poucos vou saboreando-o muito mais, apreciando cada nota do sabor, sorvendo tudo o que há de mais refinado e delicado.
Olho para os lados e tenho apenas o desejo de ver mais pessoas que se assumam como são: verdadeiras, de carne, osso, defeitos, gostos, medos e sonhos...
Seria tão bom livrar-me dessa angústia que me aperta o peito quando tenho a impressão de ser só nesse mundo, de não ter pares, de estar no planeta errado...
Fico cada dia mais cansada desses super gênios, modelos e exemplos que me aparecem... ou a loja de máscaras está com um sucesso absoluto – e temo pelo dia em que as máquinas de produção derem pane e todos percam seus disfarces – ou estou mesmo num mundo que não me pertence.
Algo está errado. Sou eu? São os novos deuses perfeitos que me cercam? São meus defeitos e falhas que se alojaram em meu espírito ao invés de ficarem bem longe? Não sei, mas enquanto busco essa resposta vou andando pelo caminho a observar cada flor, cada espinho, apreendendo cada detalhe na memória, porque se um dia me esquecer quem eu sou vou lembrar pelo menos de onde eu vim...

Sombra de nós mesmos



Eu não tinha esses olhos tristes,
Essas mãos geladas,
Essas noites sem sono e sem sonhos.
Costumava ser mais alegre antes...
Já não sei onde foram parar as cores,
Será que a tinta acabou?
Olho ao redor e vejo prédios cinzas,
Pretos, beges e brancos.
Anúncios prometem milagres
Vendem de tudo,
Compram-nos a alma.
Onde vamos parar desse jeito?
Nosso destino é mesmo ir às compras?
Estamos fadados aos shoppings centers,
Fast foods, magazines e blá, blá, blá?
Quero de volta as bodegas, quitandas e vendinhas.
Quero praças com casais de namorados,
(novos ou velhinhos)
Quero crianças brincando nas ruas.
Chega de tantos carros!
Essas buzinas me enlouquecem!
Vamos passear no entardecer e tomar sorvete,
Como fazíamos depois da aula,
Lá no século passado,
Que se foi há pouco mais de dez anos.
Experimentamos o progresso
Como quem bebe gotas diárias de veneno.
Morremos lentamente na correria que criamos,
E ainda somos capazes de dizer que somos felizes.
Eu, ah, eu era criança naquele tempo bom...
Eu era criança quando o aparelho celular não existia,
Quando orelhão funcionava com ficha,
Quando bala era troco na vendinha,
Mas eu asseguro:
Já FOMOS felizes.
Hoje vivemos nas sombras de nós mesmo,
E nada mais.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Cabelos de fogo II




Cabelos vermelhos, coração vermelho
Cabelos de fogo, alma que arde
Não tenho sossego e já nem me olho no espelho
Fecho os olhos pra evitar toda essa agonia que me invade!
Não nasceram assim...
Mas ficaram, por opção, por ação.
Enquanto a vida deixava ensinamento para mim
Os cabelos viveram a trasnformação.
Já não podem mais voltar a ser escuros
Não pertencem mais ao tipo comum,
Já não se deixam prender com fitas
Adornam-se com flores.
Não sabem mais o que é a calmaria
O tempo de ilusão findou.
Agora querem voar soltos,
Ao vento se jogam como faíscas.
Querem espalhar sua cor, sua força,
Sua luz, seu furor.

Cabelos de Fogo I




Há uns três ou quatro anos adotei os cabelos vermelhos, tanto que já pouco me lembro da cor “original de fábrica” que eu tinha.
Fazia parte de uma postura: ser mais radical, ser mais afirmativa, ser diferente. Digo que eu mudo por fora o que não consigo mudar por dentro. A cor dos cabelos foi uma dessas coisas.
Não é mais tão incomum encontrar pessoas que adotam o vermelho intenso como cor das madeixas e tão pouco essa adoção revela características iguais em todas as mulheres que a elegem, mas pra mim tem todo um significado.
Escolher o vermelho é mais do que escolher só uma cor, é escolher mostrar o coração, que é muito vermelho, que sangra, que bate forte, que vibra.
Não raro quando conheço pessoas ouço comentários do tipo: mulheres de cabelos vermelhos são impossíveis! São terríveis! São temíveis!
Concordo, discordando...
Eu não sou impossível: na verdade eu nem acredito que existam coisas impossíveis! Se eu acreditasse não teria feito metade do que já fiz. E se eu passar a acreditar perco a vontade de caminhar, porque sempre desanima ver obstáculos grandes à nossa frente...
Não sei se sou terrível! Acho que não sei bem em que sentido a pessoas se referem aos cabelos com esse adjetivo... será que causo mesmo terror? Acho que não... acho que assusto um pouco quem não me conhece, quem não é acostumado a ouvir respostas sinceras, a conviver com uma pessoa que bate palmas de felicidade, que ri do simples, que chora de emoção quando ouve uma canção, que não leva desaforo pra casa, que enfrenta o mundo por seus ideais.
Temível... é... aqui já dá pra concordar: se mexer comigo, com meus amigos, minha família o bicho pega! É pra temer mesmo! A briga tende a ser muito, mas muito feia. No mais, sou muuito tranqüila!
Outro dia me perguntaram o por quê do vermelho e eu disse que tinha algo a ver com meu sangue que é vermelho, quente, necessário. Depois fiquei pensando e saíram uns versos:

Cabelos de Fogo II

Cabelos vermelhos, coração vermelho
Cabelos de fogo, alma que arde
Não tenho sossego e já nem me olho no espelho
Fecho os olhos pra evitar toda essa agonia que me invade!
Não nasceram assim...
Mas ficaram, por opção, por ação.
Enquanto a vida deixava ensinamento para mim
Os cabelos viveram a trasnformação.
Já não podem mais voltar a ser escuros
Não pertencem mais ao tipo comum,
Já não se deixam prender com fitas
Adornam-se com flores.
Não sabem mais o que é a calmaria
O tempo de ilusão findou.
Agora querem voar soltos,
Ao vento se jogam como faíscas.
Querem espalhar sua cor, sua força,
Sua luz, seu furor.

Por que tenho os cabelos vermelhos? Por que escolhi essa cor? Não sei... acho que não fui eu quem a escolhi, mas ela que escolheu a mim.

Leve




Quando chove lá fora

Penso que alguém chora dentro de algum lugar.

Penso que a tristeza de alguém é tão grande

Que contagia o céu

E ele chora também...

Quando a porta se abre devagarinho

Penso ser a visita (in)esperada que chega.

Acredito que será aquele sorriso

Com um ramalhete de flores e uma garrafa de vinho.

Toda vez que vejo uma criança

Penso logo em sua mãe,

Em como foi aquele parto que é dor e amor:

Que é revelação da face,

Quase um desembrulhar de um presente...

Quando vejo o dia nublado

E o céu fechado de nuvens

Fecho os olhos e imagino a luta do sol ali por trás

Tentando romper a densidade cinzenta

Só pra brilhar alucinante, mais um raio dourado

E aquecer nossos corações.

Quando vejo alguém chorando

Desejo sempre que seja de alegria,

Que seja choro leve, preciso...

Que seja pra lavar a alma, molhar um sorriso.

Quando vejo alguém sorrir

Acredito que vai contagiar o mundo.

Que o sorriso vai espalhar uma luz ofuscante

E que nossos olhos se modificarão

Se acostumarão a ver só coisas lindas.

Quando sinto o vento no rosto

Sonho em um dia ser como ele:

Leve, leve, leve,

Alegre, calmo, passante pela vida.

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

(Des)Construção



Devagar construímos nossas bases
Levantamos cada tijolo daquilo que somos
Sempre nos acreditamos fortes
Difícil é quem se assume fraco.
Eu me assumo.
Construí minhas bases de sonhos
E corri atrás deles todos os dias
Leve, guerreira, apaixonada.
Tive sucesso até quando perdi:
Com as lágrimas que derramei fiz um belo lago,
Hoje, rodeado de flores.
Sento-me em sua margem para refletir.
Ele me mostra que nada é completamente bom sem o mínimo de dor.
A dor dá uma certa leveza na boca depois que passa.
Dá aquela sensação de que se fez tudo,
Se passou por tudo, se viveu tudo.
Confesso que me fiz forte, mas não durou muito.
O bom é se assumir como se é: limitado!
Eu fui. Eu sou.
E assim aprendi, construi, perdi, vivi!

Mariposa




Foi de tanto olhar para os seus olhos que me perdi
Não reparava em mais nada
Só havia a sua luz por todo lugar.
Feito mariposa em noite clara, eu voava
E sempre voltava para você.
Mas os olhos se fecharam.
Se voltaram para outro lado,
Enxergaram luz onde nem vejo tanto brilho assim.
Não, nem é desdém.
É só constatação.
Agora vago pelos dias sem chão
Sem luz, sem a menor direção.
E os seus olhos continuam a brilhar,
Mas não mais pra mim.
E se se cansarem um dia?
E se quiserem de volta ver meu bailado noturno?
Volta-os para mim que vou.
Não pelo que sinto: dor de solidão,
Mas pelo que já senti: amor de perdição.

Da janela






Da janela do meu quarto só vejo o cinza
Paredes de concreto e janelas com cortinas.
Lá embaixo, buzinas.
Aqui dentro, coração apertado.
Cada um tem o que melhor lhe cabe:
Uns alegrias,
Outros, só saudade.
Da janela do meu quarto vejo outros quartos
Persianas descuidadas que esqueceram-se de se fechar.
A moça sonha experimentando vários vestidos,
A criança brinca inocente,
O rapaz fica a olhar para o celular, imaginando se ela vai ligar.
E eu aqui, só a observar.
Da janela do meu quarto vejo o tempo escorrer
Ou melhor, o que vejo é o tempo correr.
Ele vai de passos largos para o fim.
E nós aqui sentados, displicentes,
Lendo jornais e folhetins.
Da janela do meu quarto vejo o horizonte que eu queria alcançar
Vejo o sol se pondo, a noite caindo,
As estrelas chegando, carro se atropelando.
Da janela do meu quarto vejo o que eu queria ser, mas não sou,
Porque perdi o tempo olhando, só olhando,
E me esqueci que na verdade eu deveria estar sendo,
Vivendo, cantando, sonhando, amando.
Vou descer as escadas...
Abandonar a janela.
Talvez ainda dê tempo de salvar os dias que estão por vir
De fazer tudo o que ainda não fiz,
De ser vista e não mais só olhar.
É tempo de mudar...

Do Planalto Central ao Litoral



Às vezes acontece de a gente ter um ou outro compromisso daqueles que nem são dos melhores, mas que são irrecusáveis, porque representam muito pra você mesmo. E ainda que na hora de sair de casa você pense que não seria bom ir, você vai.
Temos a certeza de que vai ser chato, demorado, cansativo, mas a gente vai. E é em um dia desses que alguma coisa acontece e marca a sua vida pra sempre.
Aconteceu comigo.
Era uma sexta-feira à tarde, eu só conhecia uma pessoa na sala. Essa pessoa conhecia muitas outras pessoas que foram se conhecendo ali, ou que já se conheciam. Eu voava.
A tarde foi uma sabatina, uma boa sabatina, meu amigo se saiu bem, como era de se esperar e saiu com o título de mestre e eu feliz, voava, sem conhecer ninguém além dele.
Só que no rio de Janeiro as noites são mágicas as pessoas se conhecem e se aproximam de maneira rápida, intensa, marcante. Conheci muitas pessoas naquele dia. Uma ia ficar por muito tempo...
Pizzas, bebidas, sinucas, chapéu, batatinha frita, Lapa! Ah, a Lapa um lugar bom de se conhecer, de se ir, de se divertir... saudades desse lugar, daquela noite iluminada e cheia de vida, a agitação é tanta que nem se percebe que já passam das três da manhã e é sempre assim!
O fato é que fiz um novo amigo nesse dia, que trocamos telefones – eu confesso de meses depois perdi o número! –, trocamos emails, e idéias  e experiências e fomos nos falando, nos falando e viramos companhias nas muitas madrugadas de aflição que meu ritmo de vida me impõe com toda essa correria de trabalhar e estudar e escrever e ser eu!
Nas madrugadas insones lá estava ele! Nas madrugadas em que eu estava com soninho lá estava ele e eu ficava mais um pouquinho, só pra não deixa-lo sozinho.
E o mais legal é isso dura até hoje. O mais legal ainda é que só tem um ano. O mais legal é que só nos vemos duas ou três vezes, mas é que esse moço é uma daquelas pessoas que quando a gente conhece a gente não pode deixar passar, a gente precisa ter ao lad, pela companhia, pela alegria, pela energia, pelo existir.
Há mais ou menos um ano – acho que é menos – eu fiz um novo amigo que fica lá pelas bandas do Planalto Central, mas que eu vejo quando vem pelas bandas do litoral, há quase um ano, eu tive o privilégio de conhecer uma pessoa fantástica. E por muitos anos eu quero poder escrever pra ele todas as noites, pelo menos um “boa noite”, pra que ele saiba que mesmo que a minha noite não esteja boa eu sempre desejo que a dele esteja, porque quero um bem danado pra esse rapaz.
E pelos muitos anos que virão quero poder encontra-lo mais vezes e quero poder contar essa história – a de como encontrei um amigo que estava guardado pra em uma sala de aula de Niterói – para muita gente!
Um brinde aos amigos que encontramos pela vida!
Porque ninguém cruza nosso caminho por acaso!

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Confissões I


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Tá certo! Cansei de fazer jogo duro, de esconder as verdades: eu confesso! C-O-N-F-E-S-S-O!
Não sou essa boa moça que fica sorrindo nas fotos dos álbuns espalhados nos murais das redes sociais. Não sou um modelo de mulher perfeita: nem comportal, nem fisicamente!
Muitas vezes eu tento, mas nem sempre sou politicamente correta! Não chuto cachorro morto, não roubo pirulito de criancinha, mas sim! Roubo brigadeiros antes dos parabéns em TODAS as festinhas que vou!
Não eu não gosto das regras da sociedade. Acho que são chatas, limitadoras e sempre que posso quebro todos os protocolos, mas um dia me ensinaram que “manda quem pode, obedece quem tem juízo” e de vez em quando, mesmo seguindo a linha “rebeldezinha” eu tenho que me render, confesso que não gosto, mas me rendo.
Sim, eu ajo por impulso! Saio correndo pro mar, de roupa e tudo e jogo o sapato e a bolsa na areia da praia – e quem já foi à praia comigo sabe que não importa se são dez da manhã, quatro da tarde, sete da noite ou cinco da madrugada: entro no mar nem que seja só pra molhar os pés.
Ah, também falo o que eu penso! Crime terrível nos dias de “política da boa vizinhança” comigo se a vizinhança é boa, não precisa de política! Ta, preciso de diplomacia, mas fujo dela! Por que não dizer o que penso? Por que esconder meus sentimentos? Ah, não. Verdade seja dita: e eu digo. Pode doer, eu sei, mas depois passa.
É eu erro sim. Muitas vezes, e é ruim demais. Detesto estar errada! Mas também não acho que seja a dona da razão ou da verdade, mas é que defendo os meus pontos de vistas com unhas, dentes e paixão.
Cair em erro é cruel pra nós mesmos. Demoro a me perdoar. Se eu faço uma escolha errada choro, me descabelo e esse drama dura uns 15 minutos no máximo e não me arrependo. Não consegui aprender a me arrepender ainda. Acho que não tive tempo pra isso.
Acredito que erro por descuido ou displicência... algumas vezes por inocência, por acreditar na boa-fé dos outros, por achar que todo mundo exercita os mesmos valores que eu. Mas já errei por maldade, pra enganar alguém – por bons motivos, eu acho – mas que não deixaram de ser maldades: desviar um caminho, não entregar um livro pra ter que ir leva-lo pessoalmente no outro dia, essas maldadezinhas que “acontecem”. Maldade grande acho que nunca fiz. Não consciente.
Até sei o que é certo e o que é errado, mas sempre questiono esses parâmetros, porque na maioria das vezes o que me parece errado tem um gostinho bom: não é certo matar aula, mas quando está com seus amigos tomando um banho de chuva na linha de trem e se tem 14 anos isso é ótimo! Também não é bom atrasar suas leituras obrigatórias, mas quando é pra se assistir a um filme que vai entrar em cartaz vale a pena. Tem umas coisas erradas que eu adoro: por a mão pra fora do carro na estrada; pegar carona na internet sem fio do vizinho que não usa senha e que a velocidade é beeem maior que a sua, essas coisinhas que não são certas, não estão na listinha do ‘politicamente correta’, mas que eu gosto. E faço de vez em quando.
Eu gosto das palavras. Das palavras cruas, sem muitos arranjos. Gosto da maneira como elas me mostram e mostram o que sinto. E de como outras pessoas se acham nessas palavras que se fazem minhas.
Gosto de sentir o gosto delas saindo pela boca  e entrando pelos ouvidos até chegar aos corações e toca-los.
Gosto de como elas conseguem nos expor até nossos limites, de como arrancam lágrimas e sorrisos. Gosto de como elas podem ser ao mesmo tempo céu e inferno, alívio e agonia, salvação e perdição. Essa é a mágica das palavras. E não há palavra mágica. Todas elas são mágicas. Reveladoras. Esclarecedoras, ou não. Podem ser esconderijos, mascarar segredos e desejos, mas são sempre encantadoras e por isso exercem em mim tanto fascínio.
É... não um bom exemplo: ando na chuva, corro descalça, bebo refrigerante, não frequento academia e prometo que vou caminhar na praia todos os dias e nunca vou. Também conto mentirinhas: digo que está tudo bem quando não está, sorrio com vontade de chorar, e vou dormir na alta madrugada.
Não sou mesmo um bom exemplo, mas também nunca quis sê-lo. Só quero mesmo é ser feliz. E se assim está bom, que fique assim.
Vou ali ser mais feliz e volto amanhã, se eu me lembrar o caminho...

domingo, 22 de janeiro de 2012

Quando canso de ser eu



Quando me canso de ser eu, passo a mão na caneta e começo a escrever. Isso tem acontecido com bastante freqüência nos últimos meses.
Canso de ser eu em vários momentos e a lista se transforma em situações das mais comuns. Só pra que possam dar uma espiada, seguem alguns dos momentos em que fico cansada de mim mesma:
Canso-me de ser eu...
... quando me pego lendo um livro que não faz parte da enorme lista de livros de auto-ajuda que se tornaram sucesso de venda nos últimos anos. Quando esse livro é considerado um clássico da literatura e quase ninguém fala mais nele.
... quando digo que parei de beber porque não acho mais graça nenhuma em ir para um bar e pedir um MilkMocha ou uma Piña Colada ou um Mojito, claro, sem esquecer da minha ex-preferida: a caipiríssima, com uma boa vodka. Agora peço coisas mais saudáveis e bem mais saborosas: suco de morango com laranja, suco de cacau – esse é para o desespero de qualquer garçom!
... quando penso coisas que a maioria não entende como no caso de eu achar que sair pra dançar, pra ir numa roda de samba ou numa festa qualquer, não necessariamente queira dizer que eu tenha que encontrar um mané e beijá-lo. Sair pra dançar pode sim ser só sair pra dançar.
Canso de ser eu quando à noite a minha própria companhia no quarto fica insuportável. Quando penso e repenso nas decisões que preciso tomar e sempre privilegio o outro.
Canso de ser eu quando percebo que valorizo sentimentos que não estão mais na ordem do dia como a lealdade, a amizade, o respeito, a companhia e os abraços.
Também canso de ser eu quando me pego com essa carência danada que me consome e me faz só pensar em ganhar abraços, os melhores do mundo, que param o tempo, que acolhem a gente.
Desses meus momentos, de quando não dou mais conta de ser eu saem uma série de anotações, de apontamentos, de confissões, que aos poucos vão se tornando públicas na medida em que me permito revelar aos que me conhecem, aos que sabem o quanto eu sou de beijos e abraços e música.  Aos que permito que leiam as minhas palavras, aos que tenho o enorme prazer de chamar de amigos.
Hoje estou cansada de ser eu: estou cansada de não saber qual é o meu lugar nesse mundo: se estou no Rio sinta falta das Minas Gerais, se estou nas Minas Gerais sinto falta do Rio, do mar...
Acho que o jeito é me animar com um caderno novo, uma caneta e por o pé na estrada. Descobri que é o fato de subir e descer essa serra que mais me alegra, me faz pensar, me admirar pela natureza e saber que seja subindo ou descendo terei abraços deliciosos me esperando!

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Duas Faces




Não se deixe levar pelo meu sorriso. Parece bonito, parece leve, mas não o é.

É disfarce que uso sem cuidados, que não consigo sustentar.

É uma das minhas duas faces: enquanto uma ri, a outra chora, se afoga, só doi.

Felicidade não é condição, É estado. Ninguém é feliz o tempo todo, mas ficamos felizes. Até eu fico. Já são poucos esses momentos, sim! Mas ainda existem.

Quem vê meu sorriso dirá: “É mentira! Ela é feliz!” Coitados... Ainda não aprenderam a ler os olhares.Não entendem que a boca cala aquilo que o olho fala.

Para quem sabe me ler, não só “um pingo é letra”, mas também “um risco é Francisco”: o sorriso de bom dia pode esconder uma noite mal dormida que só quem entende meus olhos vai perceber.

Não, não é autopiedade ou momento de lamentações. É autoconhecimento.

Sei exatamente onde começa minha alegria e onde ela vira tristeza. Sei que cantar espanta os males, que o sol vai brilhar mais uma vez, que a lua some pra se refazer, que o mar nunca está satisfeito e por isso insiste em jogar suas ondas na areia.

Talvez esse seja o motivo para eu ainda sorrir: saber que novos dias estão por vir. Que os olhos falarão tudo o que guarda o coração, que a alma se deixará livre, que o amor vai extrapolar meus sentidos e que passarei mais tempo sendo feliz, porque as lágrimas contidas, e as roladas, servem para alimentar as belas flores de um futuro risonho.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Livro em Branco



É quando eu paro pra pensar em nós que vejo:

Somos um livro!

De páginas em branco, sim!

Páginas amareladas, amassadas, envelhecidas.

Nós que nos prometemos mil histórias,

Que jamais prevíamos um fim,

Não fomos capazes de escrever

Sequer uma linha.

Na ampulheta a areia escorre,

Parece mais rápida a cada grão.

Não é que nos tenha faltado tempo,

Esse foi nosso amigo:

Passou ligeiro em nossa distância,

Foi lento em nossos encontros.

O que faltou não foi papel,

Não foi a tinta,

Muito menos inspiração:

Já que fazia de seus risos os meus

E fazia dos meus abraços o seu sossego.

O que faltou, meu amor,

Foi entendermos o que dizia

O som de cada coração.

Faltou percebermos que o fim chega

Ainda que não comecemos nenhuma história.

Não escrevemos nossos nomes juntos

Por medo de um dia ve-los separados

E agora somos sombras de sonhos,

Poeira sobre a escrivaninha,

Tinteiro vazio.

Folhas ao vento que vai nos levando...

(para cada vez mais longe)

Naufrágio



Cheguei nesse cais com meu navio em chamas

Aportei e o vi queimar lentamente, até naufragar.

Agora não há mais como voltar,

Como atravessar todos os mares que cruzei.

Não pegarei mais as mesmas correntes

Já nem sei quais foram as rotas.

No fundo, acho que elas nem existiam...

Viajei à deriva pro muitas luas,

Encantei pelas estrelas e seu brilho distante

Senti o vento frio a cortar meu rosto.

Passei por terras desconhecidas,

Experimentei sabores exóticos,

Entorpeci-me com sons maravilhosos.

Aqui nessa terra onde ancorei,

Onde tudo parece-me estranho,

Acabei por estabelecer meu porto,

Pra onde volto todos os dias,

De onde vejo o por do sol,

De onde tenho a certeza de que não há volta,

De que não poderei mais partir,

Porque o navio que afundou

Pode até ser substituído,

Mas ele levou meus sonhos, esperanças, tesouros, amor.

Porque outros navios virão e atracarão,

Mas em nenhum deles encontrarei

Aquele que um dia perdi:

minha ilusão!

Asas




Meu coração não tem dono

Tem asas.

Às vezes ele pousa em algum lugar,

Às vezes ele se permite não voar,

Se permite ter um ninho,

Traçar planos,

Olhar na mesma direção.

Ser tarde de domingo

Num eterno verão.

Mas tenha cuidado!

Esse coração é um ser alado

E por isso não gosta de amarras.

Ao menor sinal de nós muito apertados

Ele voa

Deixa tudo para trás

Ruma para o desconhecido

Porque pousar na linha do horizonte

Para ele é mais do que preciso.