Visitas da Dy

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tremores




Até as fortalezas que mais parecem impenetráveis um dia correm o risco de serem ameaçadas e se vacilam, podem ser invadidas. É nessa hora que o que temos são só incertezas.
É quando a torre cai que o coração gela e nesse momento o que resta é a confissão que é igual para todos. É quando nos pegamos surpreendidos que declaramos nossa insegurança quase que em tom de oração:

Sou agora só arrepios e tremor.
Sou agora só incertezas e vontades.
Sou agora tudo o que queria sem saber se é a hora.
Sou só medo e esse medo me enche, me transborda e me impulsiona.
Sou um emaranhado das respostas que sempre busquei sem saber se tenho as perguntas certas.
De repente perdi-me em silêncios, mas por dentro, o coração grita.
Minh’alma se agita: sinto-me como um furacão.

Olhos



Pergunto-me se há algo que possa exercer tanto fascínio quanto os olhos. Espelhos rasos que guardam segredos e revelações, que sustentam brilhos e incertezas. Exercem sobre mim tanto encantamento que ouso escrever sobre eles.
Já vi olhos que buscavam pouso na linha tênue que une céu e mar, sempre desejosos de descanso no horizonte, sempre famintos pelo mundo e suas belezas, suas delicadezas, suas diferenças.
Há olhos seguros de si, marcados pela força que transmitem, como setas que mergulham no alvo sem erro, sem vacilo, que se prendem nos olhos alheios, captando-lhes a alma, arrancando o que não é dito pela boca, mas que também se deixam revelar quando convém, sem, no entanto, permitir-se desarmar.
Já vi olhos castanhos, de cedro, arca sagrada, fechada, guardiã de sonhos, gostos, medos, tão brilhantes que ofuscavam...
Olhos de veludo castanho... desses que se assemelham a terras desconhecidas que envolvem tantas histórias quantas podem ser escritas na areia do deserto em noites de lua recolhida. Olhos de mistérios mais instigantes que o movimento das areias ao vento, movendo as dunas..
Já vi olhos de mar em tons de azul, de verde, de breu, que levam em si todos os segredos que deslizam sobre eles como barcos á deriva e que esperam por mãos firmes a guiar seu leme.
Já vi olhos que queriam decorar o contorno do mundo, só pelo prazer de descobrir cada novo traço.
Já vi os meus olhos: inquietos, vivos, atentos e dispersos, paradoxo completo, que se encantam por outros olhos a cada dia e que não se cansa de buscar luz e beleza, porque se cansaram da escuridão.

Excessos




Não havia dormido bem. Era uma noite quente, abafada e ela se revirou na cama por toda madrugada. O pouco que dormiu teve pesadelos. Não se lembrava bem de como eram, mas sabia que eram densos, agonizantes.
Tomou uma xícara de café sem açúcar, que não era mais amargo do que os seus sentimentos.
Acendeu um cigarro, mas não tragou. Apenas olhava a brasa consumir o tabaco e a fumaça subir lentamente, traçando linhas desconexas pelo ar. Em sua cabeça as palavras assumiam aqueles mesmos rumos: emaranhavam-se e não expressavam nenhum sentido.
Passou a manhã toda absorta. Perdida entre pensamentos e divagações que não a levaram a lugar algum. Não respondiam suas dúvidas, não lhe apresentavam novos problemas. Naquelas horas ela não viveu. Apenas existiu como se fosse alheia a tudo à sua volta.
Já no meio da tarde resolveu olhar pela janela, mas a paisagem não a agradava. Nada tinha nexo. Nada lhe trazia paz. Seus olhos buscavam a tranquilidade, mas não encontravam. Por longos minutos olhou pela janela, moldura de um mundo em movimento, mas não se encontrava naquela pintura. Ela se sentia um personagem descolado.
O silêncio chegava a incomodar, como um grito que ecoava pelas paredes nuas da sala. O sol que se escondia enchia a sala com uma penumbra característica das tardes de outono. Em um ato automático ela acendeu o abajur e uma luz amarelada encheu o vazio da sala, mas nada era capaz de preencher o vão que ela sentia no peito.
Voltou a jogar-se no sofá. Buscou uma saída pelo teto. Observava atenta cada milímetro daquele retângulo contornado com sancas que ela detestava. Não havia saídas de emergência. E se houvesse as saídas ela não saberia para onde ir.
Correu os dedos pelos cabelos embaraçados e enrolou-os pelas pontas. Sentia seu corpo dormente. O peito começou a apertar. Sua mente ficava confusa a cada minuto que passava. Aos poucos lembrou o que a deixava naquele estado de letargia: era o excesso.
Um excesso tão grande que, além da pressão no peito, começou a apertar a garganta. O ar começou a faltar. Ela tentou respirar mais fundo, mas o ar não vinha. Tentou abrir a boca numa tentativa quase desesperada de busca pelo oxigênio, mas a boca não abria.
Ela sofria de excessos. Excessos de palavras não ditas, que embora tenham lutado para sair pela boca por muitas vezes, foram trancafiadas no coração, por uma boca amordaçada pelo que ela chamava de falta de coragem, medo, falta de tempo, descrença ou simples falta de oportunidade. Para justificar a sua boca muda tinha argumentos que não convenciam a ninguém, nem a ela mesma. Mas era melhor mentir para si mesma do que enfrentar os seus próprios fantasmas. O que ela não sabia era o risco que corria.
Privou-se de seu direito ao grito. Privou-se de seu direito de falar o que o coração sentia. Trancou a boca com cadeados invioláveis e agora sentia o peso que essa atitude tinha. Não sabia lidar com as palavras que lhe pressionavam em seu íntimo.
Sofria de excessos. E os excessos cresciam a cada segundo em escalas exponenciais. Cresceram tanto que agora saltavam pelos olhos dela em forma de lágrimas de sal e cristal: pareciam cortar a carne à medida em que rolavam.
Sofria de excessos. As palavras não ditas causavam dores agudas. Ela já não sabia o que fazer. O ar continuava a faltar. Os olhos já não viam com clareza. Os sentidos começaram a falhar. As pernas ficaram dormentes. Os braços amoleceram. Lentamente ela foi morrendo.
Quando a lua encontrava-se alta seus raios entraram pela sala e iluminaram o seu corpo inerte no sofá: havia morrido. Alguém ousou perguntar:
 – Morreu de quê?
 – Se sufocou com as palavras que nunca disse.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Obrigada!



Uau!
Fazer aniversário pra mim nunca é uma tarefa fácil. Não sei o que faria se alguém que gosto muito não me felicitasse. Não sei o que fazer com os parabéns que ganho!
Sou inconstante! Confusa, mas gosto de receber o carinho de quem me rodeia. E gosto muito de retribuir esse carinho.
Hoje, meu aniversário, recebi muitas manifestações de carinho... telefonemas, mensagens, e-mails. Não sabia como fazer para agradecer, resolvi escrever.
Nunca sei se me faço compreender, mas é necessário que eu diga o quanto cada uma dessas manifestações me fez mais feliz. É como se renovasse os ânimos para a caminhada de mais um ano.

Ter amigos é ser merecedora da confiança. É estar rodeada de quem não se importa com o QUE eu sou, mas com QUEM eu sou. Afirmo, sem medos, que aqueles poucos que me honram com o título de amigos já passaram histórias incríveis ao meu lado, onde dividimos o ombro, o guarda-chuvas, o almoço, o texto da faculdade, os sonhos, as alegrias e algumas lágrimas.
Tenho amigos que são como irmãos, só que nasceram de mães e pais diferentes, em cidades diferentes, com temperamentos que aprendi a conviver, que os escolhi por afinidade e, mais ainda, que me escolheram, por isso sou sempre muito honrada e grata.
Ser escolhido é coisa maravilhosa: é cativar o outro mesmo sem querer, porque passa-se a morar no coração, a transitar junto da alma, a ser parte da vida, da história do outro.
Ter um amigo, pra mim, é ter uma razão pra acordar: meu amigo pode precisar de mim! É ter alguém com quem contar: amigo, salva-me! É falar sem usar palavras, é ter em quem pensar quando a música toca, é saber o que é amar sem que haja amarras ou desgostos, já que a amizade é o amor que nunca morre, como diria Quintana!

Para todos meus queridões, que me fazem feliz a cada dia, um muito obrigada e um EU TE AMO grandão assim!
Vocês fazem dos meus dias uma caixa de lápis de cor para eu pintar o mundinho cinza e sem graça que nos cerca!

É meu aniversário



Hoje é meu aniversário.
Comparando com os outros 364 dias do ano não tem quase nada de diferente, a não ser as felicitações que receberei e que me farão pensar – repensar – mais uma vez sobre as pessoas que me cercam e os valores que atribuo a elas.
Não é que eu espere que cada um dos que me cercam me venham com flores, cartões ou o que for, mas é que sempre há uma pontinha de mim que deseja um abraço, aquele abraço, sincero, caloroso e que para o mundo.
Nessas primeiras duas horas de meu aniversário já somo algumas felicitações que, claro, me farão dormir mais feliz. Já ganhei abraços gostosos, ligações sinceras e posso sentir, imerso nisso tudo, um pouco de amor dessas pessoas por mim.
Penso sobre isso. Não quero ser amada por todos. Isso deve ser chato. Agrada-me o fato de ter alguns muitos não-simpatizantes. Acho interessante a crítica, mesmo quando ela me aborrece. De certa maneira aprendo a lidar comigo e com essa dificuldade que eu tenho em tratar a rejeição.
Hoje é meu aniversário.
É a hora em que vejo um ciclo se fechar e outro se iniciar. É quando devo colocar os meus pesos na balança. Meu coração deve estar mais leve do que uma pluma, como no tribunal de Osíris. Acho que chamo isso de consciência tranqüila, de uma vida bem vivida, talvez, sem traumas. Bem na linha: fiz o que quis e não me arrependo. Acho que no fundo viver é isso. É entender que nem sempre tenho tudo o que quero, mas que posso fazer escolhas e nem sempre fazer o que os outros esperam é o que eu desejaria. Às vezes quando as pessoas pensam que tomei uma atitude que não queria é porque fui um pouco mais racional. Ou passional? Quem é que sabe o que manda no coração? Eu sei que o meu coração manda em mim. Sei que sou teimosa, mas não desobedeço meus sentimentos. No máximo faço uma birra.
Hoje é meu aniversário.
28 anos, que me deram certa dúvida na hora de fazer os cálculos: achei ainda ser 27, pensei ser pior em matemática do que sou. Não pela idade, mas pelos números mesmo. Gostei dos 27. Acho os algarismos mais bonitos. Mas os 28 serão muito bem-vindos. E, se chegar aos 29 – quem é que sabe? – espero ter muitas histórias pra contar. Isso nem é um pessimismo: que fique claro! Faço planos curtos, tenho sonhos distantes, mas nunca a certeza do próximo dia, quem dirá do próximo ano.
Hoje é meu aniversário.
Tenho aqui uma lista de desejo que me reservo e são os mais sinceros. Em certa medida dependem de mim, em outra seriam dádivas que não sei se mereço, mas adoraria merecer:
Desejo...
Dias de chuva com cobertor, edredom, filme bom e cochilos no meio da tarde;
Dias longos, com beijos intermináveis e abraços sufocantes do meu filho Heitor;
Muitas luas cheias na beira da praia, com caminhadas lentas e olhar buscando pouso na linha do horizonte, pra acalmar o espírito e renovar as baterias;
Livros novos: desses que me perco nas histórias, que me confundo em suas linhas, que me apaixono pelos personagens;
Amigos: os que já tenho, que são maravilhosos, com quem posso contar embaixo da chuva, em dias de sol quente, que me aturam quando estou com fome, que me dão carinho, que dizem que me amam, que me fazem feliz só porque existem;
Amigos novos: porque Deus nos presenteia com jóias quando menos esperamos e temos que saber como cuidar desses tesouros;
Estar mais perto da minha família, passar dias no meio daquela confusão organizada e daqueles conselhos e conversas que nem sempre quero ouvir, mas que sempre fazem a diferença;
Banho de chuva, vinho bom, música agradável, dissertação terminada, muito trabalho, dedicação dobrada, planos, muitos planos, Jardim Botânico, Impressionistas, CCBB, JFCity, Rio de Janeiro, fevereiro, março... dezembro!
Desejo pra mim mesma muita coragem pra seguir em frente. Foco, preciso de foco! E fé... que não sei se tenho, mas que é fundamental.
Desejo a mim um coração leve como o que tenho agora, com a certeza de que todos os dias valeram a pena, mesmo os que eu não consegui entender, mesmo os que dei como perdidos.
Desejo que eu encontre a calma e a paz que procuro em madrugadas insones.
Que tenha o perdão de quem magôo, que tenha a compreensão de meu filho que é meu coração que bate fora do peito e longe dos meus braços. Desejo que ele entenda que meus passos que parecem distantes estão na direção dele, mas no futuro. E que eu me convença de que essa decisão é acertada, porque ainda dói ver a distância todos os dias.
Desejo a mim dias abençoados por Deus e sabedoria para aceita-los e entender os caminhos e descaminhos que estão por vir!
Que venham mais 365 dias de vida, amor, saúde, diversão, família e amigos!
Um brinde a mim, que tenho os melhores motivos do mundo pra viver!
Feliz aniversário pra mim!

sábado, 17 de novembro de 2012

Trato




Fizemos um trato, meu coração e eu
Cansamos de nos iludir, não vamos mais nos entregar
Cansamos de sofrer em longas noites de breu.
Vamos, a partir de agora, nos fechar.


Ele não vai mais pulsar por promessas,
Eu não vou mais suspirar.
Levaremos uma vida sem pressas,
Ouviremos apenas as cantigas do mar.


Não vamos mais nos soltar ao vento
Seremos castelos firmes, fortalezas.
E quem quiser nos conquistar que tente a sorte.


Caberá a nós evitar o sofrimento,
Só nos entregaremos diante de gentilezas,
Em todos os outros casos, nos manteremos fortes.

Sperare


(para ler ouvindo Latika's Theme de A.R. Rahman)



Apagam-se as luzes.
O coração salta pela boca.
Trêmula, o seguro na palma da mão.
Há um silêncio, uma dor, uma espera sem fim.
Angustio-me com o rosto no espelho.
No oco da noite, grito o que calo.
Pelos meus olhos escorrem lágrimas
Rio e choro como Arlequim.
O sol teima e raia o dia.
A noite se esconde, fingindo calmaria.
Pouso minha agonia no beiral de uma janela,
Enquanto minh’alma  mantém postura de sentinela.
Passo os dias a ver o tempo esvair.
A vida já não segue, voa.
A espera já não traz alento, é vã.
Olho por trás da cortina em busca do amanhã,
Mas todos os dias são iguais.
Entre bocas e risos, um soluço.
Entre noites e dias, alvoroço.
Transeuntes me distraem, uma estrela cai:
Farei um pedido.
Correrei para a estação:
Foi lá que vi partirem meus sonhos
Talvez seja por lá que eles voltem,
Trazendo a alegria pela mão.


quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Fugitiva


Para ler ouvindo Eric Satie - Five Nocturne




Sou uma fugitiva, confesso!
Fujo de tudo o que me causa apatia.
Fujo dos caminhos que podem me levar ao desconhecido, àquilo que não tenho controle. Uns dizem que fujo do destino e suas linhas tortas. Eu digo que fujo do incerto.
Não sei lidar com o que me escapa: meu flerte é com a razão. Que me importa se o mais importante é o que fala ao coração? Ele é um tolo! Quando resolvo ouvi-lo, sofro! Ele é muito aberto, se doa, se rasga, se marca e não quero carregar essas mesmas marcas.
Nasci para questionar. Uso as palavras como minhas armas, minha liberdade e minha prisão. Por elas me expresso, com elas me escondo. Trafego em linhas escritas por um lápis preto num guardanapo de um bistrô qualquer, manchado pela última gota de café que morreu nos lábios. Envolvo-me em versos aveludados, que escondem segredos. Escorrego-me entre sedas brilhantes, que não se deixam prender, assim como a seda, minhas palavras – e eu mesma – podem ser escorregadias.
Por trás das lentes de meus óculos analiso, questiono. Observo cada milímetro com muita atenção ou com nenhuma. Chamar minha atenção é fácil, prende-la é que é o grande desafio. Busco, incessantemente respostas, porquês e justificativas.
Nada se explica por si só. Nada acontece por acaso. Esse é só mais um caso desses contados para nos entreter, para nos livrar da mea culpa que nos cabe quando preferimos apenas aceitar o que nos acontece. Desejamos dias melhores, vidas melhores, sentimentos lisos e fortes, mas não ousamos conquistá-los. Não ousamos questionar o por quê da demora ou classificamos tudo como sorte. Conformados, conformistas. Patéticos.
Será muito difícil compreendermos que nada se explica pelo simples fato de ser? Tudo tem o seu motivo, a sua razão, e busca-la além de ser um desafio é um combustível para nossas vidas: arregaçar as mangas pode ser uma tarefa que incomoda, mas nos prepara para novas aventuras, novas respostas nos dão novas luzes, abre nossos olhos. Respiramos um ar mais puro quando encontramos as respostas que buscamos e nos sentimos aliviados quando chegamos na culminância de nossas lutas diárias, coroadas com a vitória. Questionar e obter a resposta é beber do néctar dos deuses, é sentir-se quase um semideus.
É preciso que ser ousada. É por isso que fujo dessa monotonia, porque ouso sair da zona de conforto que os dias de pasmaceira me trazem. Gosto de me posicionar nos extremos, como se os binômios paradoxais fossem perfeitos e convivessem em harmonia em minha personalidade. Comigo é sempre na base do tudo ou nada, oito ou oitenta, ame ou odeie. Em minha escala de sentimentos coloco-me sempre na melhor das opções e quem perde não é quem opta pela distância, pelo meu nada, mas quem se desgasta tentando ficar no meio, tentando achar um equilíbrio que não existe.
Gosto da corda bamba das decisões. Escolher entre um caminho e outro me consome tempo, me invade as noites e causa insônia, mas a certeza de fazer a escolha é minha busca constante e gosto do desafio de me equilibrar lá nessa louca corda bamba sem rede e sem caminho de volta que é a vida.
Não acredito nas coincidências. É fazer pouco caso demais da vida. Acredito em circunstâncias que nos levam a tomar algumas ações seja porque somos experientes, seja porque não somos. Essa coisa de destino é um pouco alheia para mim. Não adianta ficar no sofá que os nós não vão se desfazer sozinhos. Meus livros não entrarão por osmose em minha cabeça, o dinheiro não vai multiplicar seus dígitos em minha conta bancária. O destino pode existir, mas ele depende em grande parte da minha ação para se concretizar, bem ao estilo do poeta, pois é caminhando que se faz o caminho.
Sou uma fugitiva confessa! Ando fugindo das peças que o tal destino – se é que existe – pode me pregar. Ando fugindo de todo o descontrole que sinto ao ser pega de surpresa. Estou fugindo de quaisquer pares de olhos que se ponham a me observar de perto e fujo de quem não se deixa observar pelos meus olhos de cedro, arcas sagradas guardiãs de meus segredos. Os meus olhos foram feitos para olhar, para descobrir, desvendar e se tentam desvenda-los me desfaço em timidez, porque quando o véu que os cobre cai, o que se vê não é o castanho de minhas íris, mas as profundezas de meu ser, o meu mundo que eu chamo coração.


quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Vozes da Madrugada





Na madrugada, os olhos disseram mais que a boca.
A luz esmorecida favoreceu a acolhida:
Em meu mundo de letras e sons,
Recebi o seu mundo,
De espaços e movimentos.
Dentro de um olho, o mar;
No silêncio, um grito.
Entre folhas de papel, paredes.
Nas entrelinhas, verdades.
De repente, a madrugada passou
Nasceu mais um dia:
Que bonito!

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Profissão Professor




Então me perguntaram como é ser professora, ganhar pouco, ser desrespeitada e desvalorizada pelo governo do seu país. Sorrindo eu respondi:
“Meu bem,
Você já viu alguém se formar em alguma coisa sem ter passado pelas mãos de um professor? Não? Nem eu. Saber que eu ajudo a construir as bases desse país já me basta. Não, não tira a minha indignação, não me garante um salário sequer razoável, mas me dá a certeza de dever cumprido. E, além disso, tenho bem vivia a esperança de que, um dia, esses que passaram pelas minhas mãos olhem para trás e se lembrem de mim com um sorriso no rosto e com a alma cheia de carinho e digam: lutarei pelo direito dos professores, porque graças a eles eu tenho a minha carreira”.
É por isso que eu acordo todas as manhãs, levo trabalho pra casa, me dedico. Porque fazer o que eu amo não tem preço.
Ah, preciso dizer que acredito que tenho a melhor profissão do mundo?
Fim de papo.

Asas do Vento




E nas frágeis asas do vento eu viajo
Deixo-me levar para onde me queres.
Voo em sua direção e já não sei mais meu rumo.
Tomo novos contornos,
Desenho-me a seu gosto.
Em meu repouso sonho com sua chegada:
Conheço bem o som dos teus passos:
Firmes e apressados, de quem não quer se perder
 Outrora trôpegos,  atrapalhados,  de quem se perdeu.
De meu pequeno ninho bebo de seus encantos,
Perdi-me em atalhos trilhados .
(com a fé de quem conhece o caminho)
Já não sei se é dia ou noite,
Se sou eu ou teus desalinhos.
Rasgo as noites e encaro as madrugadas,
Sou o barulhinho bom das chuvas,
Em sua cadente toada.
Sou plano de domingo que não se cumpriu,
Sou botão de flor que nunca se abriu.
Sou ponto de partida para voo incerto
E só o vento me serve de amigo
Girando as pás dos moinhos,
Que moem sem dó os meus sentimentos.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Dama de Companhia





(Para ler ouvindo Erik Satie - Gymnopèdie nº1)




A madrugada se arrasta em silêncio
Faz de minha insônia sua companheira.
Traz á tona meus pensamentos,
Sufoca meu sono em uma agonia.
Já não há razão.
Ecos surdos soam em minha mente.
É um vazio preenchido de nada,
Ao mesmo tempo oco e denso.
Divago... de vago...  os instantes são foscos.
O escuro já me causou terror,
Hoje acostumei meus olhos com seu vazio.
Pensava estar dentro de um pesadelo,
Mas não desperto de meu torpor.
Faço de você, madrugada, minha dama de companhia
Danço entre serenos, esperando o raiar do dia.
Com o avançar das horas,
Acabo esquecendo essa melancolia.





Manhã de Calmaria




Essa é aquela hora em que eu queria você por perto
É a hora em que invejo as mulheres que foram muito amadas.
Essa é a hora em que a cama fica larga,
A noite se faz mais fria,
O silêncio se torna ensurdecedor.
É agora que eu fechos os olhos  e consigo ver você:
O brilho dos seus olhos, de mistérios, cega a lua,
Faz eclipse
(Meus pensamentos são puras elipses.)
O desenho de seus lábios são palavras mudas,
Que me falam quando cala,
Que me prendem quando me beija.
Suas mãos já tão distantes, naquele tempo me aqueciam,
Agora me perdem.
Os meus braços buscam os seus como abrigo
E só encontram o vazio.
Que caia o véu da noite e me venha o dia
Que passem voando todas as horas,
Todas as vindas e idas,
Que eu tenha forças pra aguentar esse passar do tempo
Que não sei se demora, se fica ou se vai no vento,
Mas que me venha a alegria,
Seu riso, seu cheiro, entorpecedor,
Como o café fresco, em manhã de calmaria.