Visitas da Dy

sábado, 22 de dezembro de 2012

Lá vem o Natal



E lá vem o Natal. Mais uma vez. Mais do que uma data religiosa que nem sei bem se acredito com a fé que duvido ter, abalada pela ciência que escolhi ter como companhia diante dos livros, o Natal é para mim um tempo de tumultos.
Tumultos nas ruas, onde as pessoas correm aflitas para gastar o tão sonhado décimo terceiro salário. Tumulto nas vésperas das festas para se chegar em casa a tempo de participar da ceia, de dar um abraço na família, de não perder essa data tão especial.
Corremos o ano inteiro esperando o Natal. É um momento no qual todos acreditam renovar as suas esperanças e eu já não sei se renovo as minhas. Não sei se consigo ter fé em pessoas que esperam uma data especial do ano para se dizerem melhores, ou pelo menos tentarem ser melhores.
O Natal desenha-se para mim e meus olhos ora curiosos, ora observados, ora completamente dispersos como se fosse um passe de mágicas: pedir perdão, dar um abraço, desejar boas festas, distribuir sorrisos e os presentes. Isso sem contar a comilança.
Não acredito nos passes de mágica. Desculpem-me os mais ingênuos, mas passados alguns anos vivendo essa data os comportamentos sociais já não me satisfazem. Já não dão conta de me deixar esperançosa com o mundo e com o rumo que ele está tomando.
Não posso crer em pessoas que passam o ano todo se ignorando e que se reservam abraços apenas no Natal.
Não posso levar em conta uma sociedade que se explora por 364 dias no ano, que tenta dar o famoso “jeitinho brasileiro” e que no Natal vem com promessas de um futuro melhor.
Sequer posso levar a sério pessoas que não se importam com horários e que correm para não perder a ceia de Natal.
Por que um dia só é tão especial? Por que a necessidade de se passar APENAS esse dia com seus familiares? Não dá pra entender.
Passados dois anos longe de minha família e de meus amigos de infância que importam tanto para mim, tenho a consciência de que o meu Natal se faz todos os dias.
Relendo a minha criação cristã católica recebida desde muito cedo, entendo que o Natal, celebração do nascimento de Jesus é, sobretudo um momento de renovar as esperanças de algo que temos certeza: de que a salvação veio. De que é possível algo melhor, de um projeto que se concretizou com o nascimento do menino. É com base nessa criação que eu afirmo que meu Natal é todos os dias que posso estar com os que amo.
Penso agora que a correria pela ceia deveria ser todos os dias: não há nada melhor que aquele almoço em que a gente se senta na mesa e divide as colheradas do arroz-com-feijão feito com tanto carinho pela matriarca. Não precisa ser domingo. Nem precisa ser almoço. Basta ser a refeição sagrada com a família.
A distribuição de abraços deveria ser um hábito diário. Como é gostoso ganhar abraços. E da-los? É muito mais gostoso! Por que nos reservarmos esse prazer só para as datas comemorativas? Não dá pra ser feliz só alguns dias do ano. Não combina com o projeto de vida que desejamos!
Mais um Natal está chegando. Para mim é mais um dia em que as pessoas se atabalhoam por nada, ou melhor, por não saberem de nada: não percebem o correr de suas vidas e não sabem aproveita-las como se deveriam.
Mais um Natal se aproxima e mais uma vez eu vou vive-lo como e fosse um dia comum. Não porque não tem alguma importância para mim, mas porque eu o vejo em cada um dos meus dias. O milagre da vida não se faz uma vez por ano. Se faz uma vez a cada dia, quando acordamos e vamos à luta.
Um feliz Natal para quem é de Natal.
Uma feliz vida para quem é de vida!

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo



Segundo os Maias, o mundo vai acabar no dia 21... Correria, paranoias, histerias. Muita gente acredita nesse fim. Eu não. Eu vivo esse fim.
Vivo o fim do mundo desde que o mundo é mundo. Desde que o homem apareceu no mundo. Vivo a observar uma sociedade que se esforça para criar armas que matam o seu semelhante, que desenvolve meios que expropriam o seu semelhante, que foi chamada de seu próprio lobo.
Eu vivo o fim dos tempos. Do meu tempo, do seu tempo. De tudo o que foi perdido, de tudo o que perdemos na nossa corrida diária atrás do nada, atrás do vento. Nas horas intermináveis que perdemos nas filas que perdemos imersos em nossas tristezas, em nossos problemas que às vezes nem são tão grandes.
O fim do mundo já foi anunciado outras vezes e já foi cumprido outras vezes, em tantas guerras, em tantos massacres  como o que assistimos atônitos há uma semana, nos sentindo atingidos pela violência que a escola estadunidense sofreu e esquecemos o episódio igualmente trágico ocorrido na periferia do Rio de Janeiro, envolvendo crianças igualmente inocentes.
O fim do mundo se deu quando nos permitimos destruir nossas terras, tirar delas os seus donos legítimos e, pior, quando vemos os nossos representantes votarem contra um projeto que simplesmente protegeria um espaço que por direito e de fato seriam dos nossos índios.
É o fim dos tempos: apagamos nossas raízes admitindo que os nossos índios são apenas figuras exóticas que povoam os nossos imaginários e que se transformarão em contos que um dia ouvimos, já que não fazemos o mínimo esforço para mantê-los vivos entre nós. É o fim dos tempos: nosso maior arquiteto, centenário, talentoso e mundialmente reconhecido faleceu e teve sua genialidade colocada à prova, sendo chamado de imbecil. Façam-me um favor: não reconhecer nossa própria história é mesmo o fim dos tempos, anunciado pela própria História, já que no momento em que não nos preservamos, em que não valorizamos nossas raízes, nossas memórias apagamos lentamente nosso futuro.
É o fim dos tempos quando um canal de TV e uma revista tentam manipular toda uma nação. É o fim dos tempos quando eu tenho que trabalhar 40h por semana pra receber como pagamento míseros mil reais e vejo, no tal canal de TV a aprovação de um aumento salarial para o STF, que trabalha bem menos de 40h semanais e recebe só 30 vezes mais que eu.
É o fim dos tempos quando não conseguimos mais nos olhar nos olhos e nos abraçar porque a correria do dia a dia nos impede, quando tudo o que devia ser secundário ganha mais espaço, quando sou obrigada a dar razão para a Mafalda, concordando que o “urgente não nos deixa tempo para o que realmente importa”.

Sim, eu vivo o fim do mundo todos os dias, mas com sorte, temos muitos mundos por aqui para ir destruindo aos poucos, mas um dia o cerco se fecha e a história chega ao fim. Com sorte será num domingo de manhã, e eu preguiçosamente vou assistir da minha janela, com um sorriso insatisfeito e meio de deboche, assim , de canto de boca, pensando: eu não disse que o mundo acabava todos os dias?

domingo, 16 de dezembro de 2012

Cansei




Eu me cansei.
Um dia a gente cansa de olhar pela mesma janela, de ouvir as mesmas músicas, de ver os mesmos livros na estante. Um dia a gente cansa de esperar.
Eu não espero mais que as coisas caiam do céu. E também me cansei de quem fica sempre de braço cruzado.
Acho que agora é preciso mudar a direção. Trocar os passos, entrar em outras ruas. Há muito mais do que duas opções em sua frente.
Sei lá, acho que a gente sempre pode fugir do tédio que é um domingo de chuva. Dá pra enganar com um filme diferente, um vinho diferente, um pijama novo, sempre dá pra fugir dessa coisa monstruosa que é a monotonia, a rotina.
Depois dos dias de chuva sempre surgem os dias ensolarados e a gente pode ver um pôr-do-sol lindo todos os fins de tarde, seja na praia, no centro da cidade, na montanha. É só parar, olhar pro horizonte e ver como o sol vai se deitando devagarinho, como ele parecer ter esperanças de se demorar mais um pouquinho só pra ver como a lua se vestiu essa noite...
Sempre vai ter uma árvore pra gente subir e roubar uma fruta ou só pra tirar uma foto pendurada em seus galhos. Com sorte dá pra pegar um pneu velho e fazer uma gangorra, daquelas lá do tempo da nossa infância, que a gente vê nas praças hoje e tem uma vontade danada de brincar, mas que não senta só porque já cresceu e a vergonha é maior do que a nossa vontade...
Os pássaros vão voar todos os dias. Vão continuar cantando suas canções naturalmente belas, sem que ninguém os tenha ensinado, porque eles cantam de alegria, alegria de viver.
As nuvens vão sempre fazer imagens no céu, pra gente poder brincar de adivinhar. Vão sempre correr pelo azul do céu nos matando de inveja porque são livres e podem ir com o vento para onde ele as levar enquanto nós ficamos aqui, com nossos pés bem fincadinhos no chão, não nos permitindo ir muito mais longe do que o ponto final do ônibus lotado que a gente pega no mesmo horário depois do trabalho.
Eu me cansei. Cansei de gente que não sorri. As pessoas acham que dar um sorriso custa muito caro. Guardam seus sorrisos pra elas mesmas e isso é triste. Elas se privam da mágica que nos envolve quando abrimos um sorriso: o pó de pirlimpimpim nos escapa pelos dentes e contagia quem está à volta, mas só os que já conhecem a mágica podem ver os seus efeitos: pancadas de felicidade por todo dia.
Eu me cansei de toda gente que não ama nem a si mesmo e nem aos outros. Não, não é pra sair por aí pedindo o seu vizinho em casamento, mas não custa exercitar o amor ao próximo. Gentilezas deixam os dias mais leves, as pessoas mais bonitas e o mundo agradece.
Imagine só todo mundo de carranca pelas ruas! Eu imaginei. E me cansei. Não quero mais pensar nisso. Quero pensar em coisas bonitas! Em coisas que me deixam feliz!
Eu me cansei de ser  guiada pelo manual de instruções que me deram quando eu nasci dizendo que deveria ser igual a todo mundo: arranquei as páginas, fiz confete, joguei pro alto e dancei sob ele! A ordem do dia agora é correr atrás dos sonhos, é voar sem sair do chão, mas deixar a cabeça livre, como um balão. Não é porque o mundo anda mal que eu também vou me render!
Não, eu não me rendo! Já me rendi uma vez... não foi bom! Quero a luta! Quero o meu direito ao grito, o meu direito à euforia! Fujo de um mundo de iguais. Quero um mundo de diferenças, de diversidades maravilhosas e encantadoras! Eu me cansei de me policiar, de pensar o que é certo e o que é errado e não há nada de mal nisso: só estou deixando a minha vida mais leve, livre de regras e de parâmetros que não combinam com o sol que brilha lá fora.
Deixa eu viver à minha maneira! Cansei de ser “Barbie na caixa”, o bom mesmo é ser gauche na vida, não é, Drummond?

sábado, 15 de dezembro de 2012

A busca



Aprendi a viver muitas luas sem que soubesse por onde você andava.
Aprendi a viver uma vida inteira sem saber ao certo se você chegaria.
Aprendi a passar os meus dias numa alegria incompleta, numa espera incerta, sonhando com seus passos pelo corredor, seu sorriso na janela, sua voz ao telefone.
Os dias passaram com a velocidade de gotas em torneira velha: constantes, cadentes, ininterruptos e implacáveis.
Acostumei-me com um vazio diário que já nem sabia se queria que fosse preenchido, tamanha conformidade em meu coração.
Entre vozes e sons e luzes e prédios cinzas cheguei a pensar que havia encontrado o que buscava. Pensei ter chegado ao xis da questão e do meu mapa do tesouro, mas era apenas mais uma pista que me apontava para mais adiante.
A caminhada continua. A busca nunca se finda.
Eu que aprendi a viver com a presença de sua ausência não sei mais o que busco. Não sei mais por onde ando.
Sigo pelos dias como os ponteiros de um relógio no pulso cansado: giram sempre e não saem do lugar. Enquanto isso, lá fora, a vida passa e aqui dentro o café esfria.
Quem é você é só mais uma pergunta da minha extensa lista de questionamentos.

Educação X Copa do Mundo



Abro a Internet para olhar o que está acontecendo por aí. Resolvo cair na rede social mais badalada dos últimos tempos e recebo em meu feed a seguinte notícia: “Por obras da Copa, prefeito de BH pede ao STF corte na Educação”. Senti uma pontada aqui perto das costelas.
Fingi não ter visto isso. Lancei logo um comentário ingênuo: “é fake”. Não, não é. É verdade. A notícia se alastrou pela internet e me encheu de sentimentos que juntos, fizeram-me ter a sensação de ter a pior profissão do mundo.
O prefeito de Belo Horizonte, capital de meu Estado tão querido, fez o pedido formal ao STF para que as verbas destinadas à educação tivessem um corte e que esse montante fosse direcionado para as obras destinadas à Copa do Mundo.
Em que mundo eu estou vivendo? Minas sediará três, APENAS TRÊS jogos dos jogos mundiais e a nossa educação pode sofrer uma perda irreparável de 500 milhões de reais!
Isso é desrespeitoso, uma infamidade, um absurdo completo com a profissão do professor, mais uma vez sendo desvalorizado e, muito mais com a nossa educação, artigo de quinta categoria, principalmente se for para fazer uma troca indecorosa de verbas entre ela e o nosso futebol – claro, o melhor do mundo!
Contem-me a piada de novo, porque eu não entendi. Não consegui rir. Não posso acreditar que um pedido desse seja formulado por uma autoridade que deveria primar pela qualidade de seus trabalhos voltados para a sua população.
Ah, espere! Entendi!  É justamente por isso que houve o pedido: porque o prefeito está cuidado do bem estar de sua população: vivemos em um tempo em que as mesmas políticas vivenciadas na antiguidade estão em voga, mas modificaram-se os detalhes.
Não temos mais pão e circo, mas temos cerveja e futebol. O espetáculo não pode parar! E daí que as crianças não sairão da escola com uma boa formação crítica? E daí que os professores continuarão a ganhar salários vergonhosos e desestimulantes? Teremos copa do mundo!
Teremos copa do mundo! Nossas crianças terão dispensa nos dias dos jogos da seleção! Teremos “piada no bar e futebol para aplaudir”! Deus lhe pague, prefeito! Amém! A diversão nossa de cada dia está garantida! A ignorância nossa de mais uma geração será perpetuada mais uma vez! Deus lhe pague, prefeito! Em vez de uma leitura crítica, no jornal teremos, de novo, a foto de um gol!
Estamos mesmo de frente para o crime e batemos palmas! Será que não entendemos ou não queremos entender?
Que raios de sociedade politizada é essa que não questiona esses feitos?
Para que sustentar uma máquina política que só busca investimentos em nossa própria decadência enquanto seres críticos? Ah, me esqueci... nós a sustentamos justamente por não entender a sua lógica desestruturante de nossos argumentos, não a questionamos porque estamos ocupados, trabalhando para juntar dinheiro suficiente para ir ao estádio, no domingo ver a final da copa do mundo, que com sorte será entre Brasil e Argentina.
Domingo vai ter futebol... e vai ser a maior curtição, ver um samba embalando com o meu timão no estádio lotado enquanto as escolas vão se esvaziando de conteúdo, de motivação, de criticidade.
Viva o país do futebol, onde o sol nasce para todos, mas só brilha para muito poucos.


Há vagas



Abri a porta de meu coração
Estou aceitando novas pessoas
Há várias vagas pra se preencher:
Cabe amigo, amor, bicho de estimação.
Cabe alegria, aprendizado, carinho.
Ofereço o espaço, o cuidado, o afeto.
Cabem-se muitas pessoas, muitos sentimentos.
Mas há pré-requisitos:
Não pode entrar nada que seja metade:
Meias-palavras,
Meias-verdades,
Meias furadas.
Aqui só cabe o que for inteiro:
Sim! É para trazer o seu melhor e o seu pior!
Aqui aceita-se pessoas de verdade,
Com cabelos desgrenhados,
Com sonhos planejados,
Com ideias brilhantes,
Sem ideias nenhuma,
Com o coração partido,
Com um coração para ser abrigo.
Aqui aceita-se quem quiser chegar:
Entre sem bater,
Mas não saia sem pedir licença!

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Livro da Vida




Por muito tempo eu busquei respostas. Agora, logo que acordei mesmo busquei uma. Tenho mania de porquês. Mas não é só por curiosidade ou vontade de entender as coisas. Muitas vezes é por ansiedade. Muitas vezes quero me adiantar ao futuro.
Hoje acordei, olhei para o lado, respirei fundo e senti um cheiro bom de perfume que me entrou pelas narinas e me fez sair do lugar onde eu estava. Quase um teletransporte. Por alguns segundos eu cheguei a pensar que o perfume não existia e me perguntei “por quê?”. Abri os olhos e pensei mesmo que eu estava era sob efeito do sonho que tive.
Para longe de eu querer entender, eu queria mesmo era prever. Queria poder dar uma espiadinha ali na página dos meus 30 anos, depois na dos 40, dos 50... queria ver quem ainda vai estar comigo, quem vai ficar pelo caminho. Queria só ter a certeza de que estou traçando os rumos certos, mesmo quando eles me parecem tão incertos.
No fundo, o que eu queria era saber para que lugar esses meus ataques de sinceridade vão me levar. Por que as pessoas nos cobram tanto a verdade, a sinceridade se elas não sabem lidar com isso? Porque ao sermos sinceros pagamos o preço de sermos taxados de grosseiros ou insensíveis? Por que preciso pagar preços tão altos para realizar os sonhos? O caminho não precisa ser de açúcar – detesto coisas muito doces – mas um pouquinho de leveza não faz mal a ninguém.
Hoje eu acordei e senti saudade do sonho que tive. Era quase uma visão. Acordei com a sensação de ter realmente vivido aqueles instantes tão alegres e então lamentei que eles só tivessem acontecido no plano do meu inconsciente. Talvez isso seja um capricho da vida: deixar a gente ver as prévias do que gostaríamos que acontecesse, só pra gente não desistir, só pra ficarmos com um gostinho bom na boca ao amanhecer...
Tomei o gosto dessa “’provinha’ do que poderia ter sido” com a qual sonhei e logo me perguntei o porquê... logo quis saber uma lista de respostas que formulei quase que instantaneamente e me veio uma frase muito séria, em uma tirinha do Charlie Brown: “O livro da vida não tem resposta no final”! Claro! Já posso parar de me perguntar! Já posso parar de querer espiar o que está lá atrás! Não vou encontrar nada!
O que posso fazer é entender que o livro da vida tem muitas páginas em branco e que eu posso ir escrevendo-o devagar, encaixando os meus personagens favoritos com muito cuidado, ir colocando-os ao meu lado cuidadosamente, prendendo-os a mim com laços invisíveis de compreensão, carinho, afeto, um quê de loucura e doses cavalares de amor. Se as fotos que eu escolhi se soltarem e caírem pelo caminho não é porque a minha ”cola de carinho” estava fraca, é porque o papel da figurinha era poroso demais para recebê-la e se não se sabe receber carinho, meu amigo, não se sabe viver!
O livro da vida não tem respostas no final. Ele tem muitas páginas pra gente escrever como quiser e chegar ao final é uma coisa tão certa quanto lermos a nossa primeira página: nascemos! E ao final morreremos! Fazer a diferença é saber o que colocar nesse intervalo!
Vou ali colocar um pouquinho mais de alegria no meu dia! Desenhar sem borracha e cantar sem acordes certos! Vou ali escrever mais uma página do meu livro dos dias, sem buscar muitas respostas, sem espiar o que estar por vir. Que o acaso chegue, por acaso, e me surpreenda!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Sai daí, Mamãe!




Há quase dois anos eu tive que vir embora para o Rio mesmo querendo ficar nas Minas Gerais...
Há pouco mais de três anos aprendi que meu amor era tão grande que não coube em mim e ganhou autonomia pra viver nesse mundo, com suas próprias pernas e braços e beijos e risos e seu par de olhos verdes curiosos e espertos. Esse pequeno milagre que me fez quase esquecer o meu nome para atender aos seus chamados quando ele diz “mamãe” é o meu petit Prince, meu amado Heitor, pequeno príncipe de meu castelo de sonhos. Senhor para o qual presto toda sorte de homenagens, encaro batalhas distantes de seu reino e carrego o estandarte brilhante da cor de seus olhos.
Há pouco mais de três anos eu, historiadora por amor e escolha, medievalista por paixão, entendi o que é se colocar sob os pés de um senhor, o que é ser vassalo, jurando dar sua vida pela vida dele.  
Há dois anos aprendi que a saudade dói. Enche os olhos e aperta o peito. Aprendi que ela também nos dá coragem e que se desfaz no instante de um abraço. Aprendi a chorar mais. Quase todos os dias. Aprendi a disfarçar a dor nos sorrisos. Ninguém precisa saber a dor do coração da gente. Ninguém tem culpa da solidão que nos acompanha. A dor é minha só, não é de mais ninguém, assim como a solidão que eu sinto com a distância é a minha única companhia nas madrugadas.
Há dois anos tento diminuir a distância com telefonemas, fins de semanas e feriados, tecnologias e suas aplicações.
Hoje descobri o tamanho de uma saudade e a ingenuidade da minha criança: pelo skype Heitor me viu, mandou beijo, falou, riu, mostrou brinquedos e um machucado novo: vai virar uma pequena cicatriz na perninha, mas mais do que isso me mostrou como é bonita a ingenuidade e como a saudade também aperta nos corações pequeninos. Hoje meu filho desejou abrir o computador para que eu saísse “de dentro da caixinha pra ficar pertinho do seu (meu) filho”, dizendo: “sai daí, mamãe, vem ficar com seu filho, sai da caixinha. Vou abrir, oh...”
Hoje meu filho tentou abrir o computador e rasgou a minha alma. Os olhos estão embotados até agora. Hoje eu senti mais uma pontada de saudade que dilacerou meu coração.

Barqueiro




Ela não era como a maioria das pessoas. Tinha uma espécie de luz própria. Irradiava alegria mesmo quando não estava feliz. Momentos de infelicidade em sua vida eram raros.
Não sabia ficar parada. Não gostava do silêncio, a menos que fosse um silêncio acompanhado, daqueles em que os olhares falam muito mais que qualquer palavra.
Cantarolava o dia todo.
Dançava no meio da rua.
Não se importava com os olhares curiosos.
Muitas vezes ela se perguntava o porquê de as pessoas não se olharem nos olhos, não se desejarem um “bom dia” sincero, não aproveitarem melhor os seus dias, amando a si mesmas e, com sorte, os outros.
Adorava se perder observando coisas simples. Sorria o tempo todo. E o sorriso era largo, enchia os espaços vagos a sua volta. Um dia chegou a ouvir de alguém que ela era luz para os dias cinzas. E ela adorava essa ideia. Adorava pensar que ela podia mudar o dia das pessoas, colorir a monotonia com uma caixa de lápis de cor bem grande que trazia entre suas nuances tons de azul-saudade, verde-tranquilidade, vermelho-alegria, azul-profundo-de-mar-de-fim-de-semana, cinza-riscadinho-de-abraço-apertado, ou marrom-chocolate-de-fim-de-tarde-outonal.
Como todas as manhãs ela acordou, enfiou-se num vestido rodado e saiu cantarolando pelas ruas. Ao cair da tarde atreveu-se a ir ver o mar. Ela amava o mar como se ele fosse necessário para ela viver. Era capaz de passar horas sentada diante dele, só olhando, respirando aquele ar úmido, sentindo o gosto de sal na boca. Foi o que aconteceu. Passou horas sentada na praia naquele dia. Viu o sol se por e a noite chegar. As estrelas pareciam um bordado brocado no céu. Lá longe viu um pescador lançando a sua rede. A sutileza daquele momento a encantou: era fascinante ver como o homem tão cuidadoso lançava a sua rede naquele azul para tirar dele pequenos corpos prateados que saciariam a fome de outros homens que nem imaginavam como aquele alimento chegava às suas mesas.
Voou em seus pensamentos e revisitou todos os seus sentimentos. Observou que ela tinha motivos de sobra para SER uma pessoa FELIZ e não TER apenas alguns momentos de felicidade como as pessoas diziam ser... começou a elencar uma lista de seus principais motivos de alegria. Lembrou de seu poema favorito, que nunca havia conseguido decorar; lembrou de um outro poema, sobre um barqueiro, lido na infância. Fechou os olhos e sentiu o abraço capaz de parar o mundo acompanhado de um beijo doce, perdidos em olhos verdes de mar.
Alta noite já se ia e ela continuava a viajar naquele barco a remo distante sem que saísse da areia. De repente ela sentiu que embora tivesse muitos motivos para ser feliz, ainda faltava algo. Olhou para o lado e a praia estava deserta. Uma lágrima escorreu. Uma estrela se jogou. Ela começou a entender o sentido da vida. A delicadeza do vento e o vazio de seu coração. Entendeu que era feliz, mas que havia uma busca a fazer. Voltou a olhar para o barqueiro, silhueta solitária. Em seu coração agradeceu-o pela lição. Levantou e correu pela areia a caminho do mundo inteiro a ser descoberto e de pessoas a serem encontradas.
Ela não podia ver, mas naquele instante transformou-se numa luz forte: tão inquieta quanto brilhante.

***Para Geneci, companhia de caminhadas nas areias de Icaraí, testemunha ocular de meu encantamento pelo pescador em seu pequeno barco a remo...***

Amostra Grátis




Ela não sabia o que era o amor. Até ali, onde seus pés haviam caminhado, não encontrara nada que a fizesse ter a sensação de estar amando. Ela jamais havia atentado para os detalhes que a cercava e isso a impedia de ver as sutilezas que compõem o amor.
Naquele entardecer de primavera ela corria, como sempre. Passava pelas ruas sem olhar nos olhos das pessoas, atabalhoada com seus pensamentos. Carregava muitas sacolas não mais cheias que sua cabeça.
Isolava-se do resto do mundo ouvindo uma canção qualquer pelos fones de ouvido. Cantarolava, mas era uma atitude mecânica. Não prestava a atenção no que dizia. Só corria e tentava não se atrasar mais do que já estava atrasada.
Mas era uma quarta-feira. Ela não tinha compromissos nas noites de quarta. Por que estaria atrasada? Não se entendeu. Não sabia de onde vinha aquela sensação de atraso que lhe incomodava o coração e que a fazia, repetidas vezes, olhar para o relógio no pulso esquerdo.
De repente descobriu-se vagando pelas ruas sem saber para onde ia. Só entrava e saía pelas vielas que sequer conhecia. Caminhou assim por muito tempo, esquecendo-se até das sacolas que carregava. Percebeu que não pensava em nada naqueles minutos. Só andava e ouvia um som qualquer, sem se concentrar na música.
Subitamente parou. Estava no centro de uma praça. Era uma praça grande, movimentada, rodeada por prédios enormes, típico de uma cidade grande. Ela levantou os olhos e perdeu-se olhando os últimos raios de sol que douravam uma dessas construções. Fechou os olhos, respirou fundo... foi atropelada por homem que falava acelerado no telefone celular e que foi o responsável por quebrar toda magia daquele momento.
Quando ela abriu os olhos estava pronta para despejar um sem fim de comentários grosseiros ao seu atropelador, que informalmente lhe acenava como se pedisse desculpas, mas sem se desviar do assunto que tratava ao telefone. Ela cerrou os olhos e encontrou os olhos dele. Silêncio. Uma pausa estendeu-se entre os pensamentos dela, os raios de sol entre os prédios, a conversa no telefone e o homem ali parado.
O coração dela acelerou. O telefone dele desligou. Seguiu-se um diálogo plástico, onde as desculpas não eram sinceras e as palavras não se organizaram numa conversa que os levasse a algum lugar, mas notaram-se que um dos dois fez um convite para um chopp e o outro aceitou.
Como em um roteiro clichê de um filme de garagem eles sentaram num bar, mataram o entardecer e viram cair a noite. Mais que isso, perceberam o quanto tinham assunto, mesmo sendo completos desconhecidos e um certo desconforto, um “não saber o que fazer com as mãos” tomava conta deles a todo instante.
Pela primeira vez ela atentava para os detalhes. Percebeu cada sutileza que a cerceava. Sentiu o som de cada sílaba do que ele dizia penetrar pelos seus ouvidos e encher a mente. Sorriu. Um riso largo que encheu todos os vãos das construções que ela olhava admirada há tão pouco tempo. Preencheu os vãos da vida do rapaz.
Ela quis congelar aquele instante. Quis entender o que acontecia. Fora tomada de uma aflição e uma calmaria inexplicáveis. Piscou os olhos e teve a certeza de que havia encontrado alguém especial, alguém que realmente a fizera despertar para uma existência mais interessante. Em uma quarta-feira comum ela sentia que estivera atrasada a vida toda com relação ao amor e agora tinha o desejo de segurar aquele sentimento e de não deixa-lo ir embora, mas as coisas não acontecem bem assim.
Com a quinta-feira se anunciando ele pagou a conta, sorriu gentilmente despedindo-se. Ela se adiantou também. Prometeram um ao outro que se falariam de novo – ela não sabia, mas ele também havia gostado daquela companhia. Caminharam até a calçada do bar, se olharam, cumprimentaram-se e seguiram para lados opostos.
No caminho de casa cada um deles se sentia mais leve do que o de costume. Havia um quê de tranquilidade naqueles sorrisos trocados. Havia uma paz enorme nas horas passadas junto. Havia uma vontade de realmente se encontrarem de novo. Mas essas eram sensações novas para ambos e como não eram acostumados com elas, temiam. Por temerem o novo e as suas descobertas não chegaram a se ligar. Nunca mais se falaram de novo, mas todos os dias um preenchia a lembrança do outro e todas as vezes que passavam por aquela praça, por aquele bar onde estiveram juntos, olhavam ansiosos na tentativa de se verem.
O reencontro nunca aconteceu, porque o destino é caprichoso: dá apenas a primeira oportunidade. As outras devem ser criadas por nós mesmos, para que saibamos o tamanho da nossa responsabilidade na construção e manutenção de nossa felicidade.
Seguiram seus caminhos como tantos outros o faziam e o fazem. Experimentaram uma amostra grátis do que poderia ter sido um grande amor. Viraram apenas mais um caso de “era uma vez” que teve o seu “final feliz para sempre” abortado, acreditando que o “pra sempre, sempre acaba”...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Perdas de 2012





21 de dezembro de 2012. Essa é a data prevista pelos Maias, povo pré-colombianos habitantes da América bem antes dos brancos-metidos-a-civilizados-europeus chegarem por aqui, para o fim dos tempos.
 Para saber se o mundo vai mesmo acabar ainda temos alguns dias a esperar, mas de qualquer maneira, está sendo um ano de muitas perdas.
Como historiadora não posso deixar de citara grande perda de Eric Hobsbawn: historiador, marxista, fantástico, que inspira milhares de trabalhos, deixando-nos um legado fabuloso.
No cinema, o  ator Michael Clarke Duncan, do filme “À espera de um milagre”, com atuações brilhantes em toda a carreira, que várias vezes me deixou emocionada diante da TV.
Agora quem se vai é Niemeyer, 104 anos, flamenguista, arquiteto e comunista. Mais do que nunca, hoje meu coração é mais vermelho: de uma saudade ainda vindoura dos grandes trabalhos que o grande Oscar poderia ter feito.
Despeço-me dele olhando para as tantas fotos que já tirei no Museu de Arte Contemporânea de Niterói, da Catedral de Brasília, da própria Brasília, que se mostrou para mim como a concretização, literalmente, de um sonho, o meu sonho de conhecer a capital administrativa do meu país.
Transito diariamente entre o MAC e o Caminho Niemeyer,  lembro saudosa da Pampulha e de Brasília e lamento que tenhamos perdido um talento tão grandioso.
Se o fim do mundo está chegando, nossos bons se adiantaram e nos deixaram mais tristes,  órfãos de suas grandiosidades.
Que 2012 termine logo, sem maiores perdas, por favor!


segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Poema Escondido




Escrevi um poema,
Mas ele não era pra ser lido:
Quis guarda-lo em sigilo.
Era pra ser de amor,
Mas acabaram falando de sorrisos.
Coloquei-o numa redoma de vidro.
Tomei cuidado com os versos,
Deite-os em folhas muito brancas,
Escrevi-os com tinta muito viva
E acomodei-os dentro do cristal
 Ali dentro eles adormeceram
Vez ou outra suspiravam,
Remexiam, reviravam.
Só de longe eu os olhava.
Encantei-me não pelas palavras,
Mas pelas cores dos reflexos:
O cristal se desfazia em arco-íris.
Morri de amores por todas aquelas cores.
Mas um dia o poema acordou.
De súbito se levantou.
Suas palavras se desgrenharam
Tinha a impressão de que se reorganizaram.
Já não eram minhas aquelas linhas,
Ganharam outros rumos a minha poesia!
Impaciente ele se mexia,
Aos poucos pareceu-me crescer,
A redoma já não lhe cabia.
Um estilhaço se deu:
Perdi o meu poema,
Que teimou-se em dizer que era seu.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Bolhinha de Sabão




Eu desejosa de encontrar um meio de definir a felicidade, de buscar algo que pudesse se aproximar desse sentimento que vira e mexe me invade, pus-me a observar as coisas a minha volta.
Encontrei bolhinhas de sabão pelos ares. Sim! São elas as definições mais perfeitas de felicidade e se somadas a outras coisas simples do meu cotidiano que explosão de alegrias não encontro!?!
As bolhas de sabão são leves, almas livres, graciosas, que se deixam levar pelo bel prazer do vento, com toda a sua singeleza, sua delicadeza. Tomam todo o ar como as músicas que gosto de ouvir. Enchem-me os olhos como as minhas flores preferidas ou como um quadro de Romero Brito, cheio de cores.
Elas me fazem esquecer das regras rígidas que me regem e, que, de certa forma ajudei a criar no dia em que não me opus a elas. Elas rompem a lógica de que tudo que é solto no ar vai ao chão. Elas dançam harmoniosamente contrastando com o som bagunçado dos carros, buzinas e correrias que teimam em entrar pela janela de meu quarto.
Com as bolhas de sabão aprendi a usar cores, muitas cores, para mostrar que a monocromia traz a monotonia e que o mini arco-íris que elas carregam é que as deixam tão belas: parecem tão vazias, mas são tão cheias de cores....
Em certo momento chego a pensar nas bolhinhas como caixinhas que guardam amores: são frágeis ao toque desavisado de quem as tenta tomar de súbito. Só conseguem se manter diante da liberdade de seu voo. Podem ainda ser a embalagem de um sonho, que vê em papel bonito e que precisa ser perseguido, já que seu curso é indefinido. Alcança-lo e realiza-lo é questão de paciência, persistência, dedicação e um tantinho de loucura.
Somo as bolhinhas de sabão com as coisas simples: meu vestido preferido, meu perfume preferido e meu chapéu preferido: sinto-me colorida! Sinto-me leve! Transformo-me na perseguidora de bolinhas, em palavra nunca antes pronunciada, só pelo prazer de ter-se mantido em segredo e ser descoberta nos detalhes.
Com as bolhinhas aprendi a ganhar caminhos livres e a ser mais autêntica, então, que me venham os chapéus! Adoro chapéus! São os guardiões de meus pensamentos mais loucos e mais calmos. Ornam minha cabeça, escondem minha confusão de ideias.
Para definir a felicidade eu usaria, sem dúvidas, bolinhas de sabão e chapéu com laço de fita. E a explicação é simples: é preciso ser leve para que se possa fazer o que deseja e o mais importante é se deixar levar sem dar importância aos olhos que podem nos observar.
Usarei mais chapéus.
Correrei mais atrás de minhas bolhinhas de sabão.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Tremores




Até as fortalezas que mais parecem impenetráveis um dia correm o risco de serem ameaçadas e se vacilam, podem ser invadidas. É nessa hora que o que temos são só incertezas.
É quando a torre cai que o coração gela e nesse momento o que resta é a confissão que é igual para todos. É quando nos pegamos surpreendidos que declaramos nossa insegurança quase que em tom de oração:

Sou agora só arrepios e tremor.
Sou agora só incertezas e vontades.
Sou agora tudo o que queria sem saber se é a hora.
Sou só medo e esse medo me enche, me transborda e me impulsiona.
Sou um emaranhado das respostas que sempre busquei sem saber se tenho as perguntas certas.
De repente perdi-me em silêncios, mas por dentro, o coração grita.
Minh’alma se agita: sinto-me como um furacão.