Visitas da Dy

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Versos Brancos



Toca-me de leve
Apenas com o olhar.
Fala-me de amor
Sem que a língua se mova.
Em seus silêncios,
Música harmoniosa.
Na distância de suas mãos,
Entrelaçamentos de histórias.
Arrepia-me um vento brando
Ou um hálito de bom dia.
Arrasa-me tanto um maremoto
Quanto a ausência de sua alegria.
Contemplo miragens febris
De noites de invernos,
Embriagando-me com perfumes dos jasmins
Que não esperaram a primavera.
Escrevo versos brancos e sem rimas
Não tenho a pretensão de chamá-los poesia
Apenas pó e se há sentimento,
Já não me importa o que serão esses versos.
Já não são mais meus.
Extravasei-os.
São de quem os acolher.
Assim como eu (a)colho aquilo que me dá
E o que me tira:
Ora sossego, ora desvario.
E sigo (des)atenta pela vida:
Sempre há algo a esperar,

Então, que seja um novo dia.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Trilhas




Enxergava tudo cinza
Pouco horizonte para muito olhar.
O pássaro que pousava diante da paisagem
De agouros noturnos, enchia o lugar.
Nada se sabe do que está além
Nada se espera do passo que não é dado.
Atravessar aquele pórtico acinzentado
É só uma questão de vontades
Para um paraíso de cores experimentar.
O que corrói não são as dores
Mas as aceitações que nos impomos.
Mudar o rumo depende só dos pés
Que não possuem raízes.
Nascemos alados e não plantados!
Atravessar o vale,
Alcançar as montanhas.
Eis o caminho a trilhar.




terça-feira, 25 de agosto de 2015

Simplicidades e Felicidades



Felicidade é casa colorida.
Camelos pela sala,
Almofadas e alcatifas.
Felicidade é jazz no parque em domingo
Que não é santo, nem bento, nem feriado, mas recomeço.
É algodão doce maior que a vontade de crescer,
Porque é passaporte para voltar a encolher.
Felicidade é música antiga,
De décadas que não vivi, mas que embalam minha vida.
É vinil, cd e dvd do cantor preferido,
Ecoando em fones de ouvido.
Felicidade é colo de amigo, de mãe e de filho.
Felicidade é banho de chuva em dia de inverno que parece verão.
É café fresco em cima do fogão.
Felicidade é livro novo na estante,
Foto de amigo sorridente,
Poesia nova e morder coisa crocante.
Felicidade é conta paga antes a data.
É perceber o milagre do amanhecer
E o alívio do anoitecer.
É ver que a madrugada que guarda a insônia,
Os medos e as inseguranças
Também toma conta das inspirações,
Dos sonhos, dos suspiros.
Felicidade é sorvete de amarena, copo d'água
E castanha de caju.
É caminhar na praia mesmo morando em cidade do interior
(porque as ondas que me invadem não precisam ser só as do mar).
É amar o deserto que nunca vi, mas que habita em mim.
É não gostar do silêncio, mas precisar dele para colocar as coisas em ordem.
É afogar no travesseiro sonhos impossíveis
E vê-los se realizando,
Desafiando toda a lógica da criação.
Felicidade é mensagem de bom dia,
Foto ao meio-dia,
Cerveja no meio da tarde
E boa noite depois que o relógio encerrou o dia.
Felicidade é filho escrevendo que me ama.
É a primeira palavra lida,
É uma salva de palmas pra a "mãe mais linda".
Felicidade é de vermelho vivo voando com o vento,
Cortando o azul enjoativo de um céu de feriado.
Felicidade é samba bom, que rima amor e dor,
E, de manha, me faz balançar até de manhã.
Felicidade é chorar na partida,
Chorar de saudade,
Chorar com filme.
Felicidade é não medir com a régua todo o amor.
Felicidade é.

O resto é invenção.

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Náufrago



Em noites sem lua, olhava o céu.
Em noite de lua alta, sonhava, à deriva, no mesmo céu.
Em pleno dia, perdia-se no azul do céu.
Fugia de tudo aquilo que amedrontava.
Corria das vozes tumultuadas.
Molhava os pés nas ondas do mar
E contava as estrelas
(cadentes, que foram morar na praia)
Embriagava-se com o vai e vem das marés.
Era, na verdade, um náufrago
No céu, que era o mar às avessas
Acidentalmente sobre a sua cabeça.
Onde as ideias velejam
De ponta-cabeça, tranquilas,
Ao sabor do vento das vontades,
Como se fossem um quadro surreal.
Como se o chão fosse cama aconchegante
Para as sementes de sonhos brotarem.
Era náufrago em si mesmo
Porque não queria remar
Nem na mesma direção que os outros
Nem contra a corrente.
Queria (um) ser
Ainda que isolado.

E o céu-mar lhe dava essa possibilidade.