Prometeram uma
terra, uma paz, um lugar para descansar, para sonhar, para viver.
Inocente,
acreditei.
Li em um livro
alguns nomes e os escrevi em papel colorido, bonito, com destaque de honra:
precisava não esquecer o seu nome, para ter certeza quando o encontrasse.
Ah, Canaã, Tel-Aviv,
cortes transversos nos Orientes que já não orientam, ao contrário, me
desorientam e deixam pra lá de Bagdá, acolá de Marrakesh, perdida nos desertos
das solidões minhas e dos outros, imersa em meus infinitos diários de ponderações
e reflexões.
E se há
reflexos, os espelhos d’água em que me miro, giram, aqueles que vêm do sossego
interior dos desertos, com suas belezas, sabem ser inquietantes. Turbilhões que
engolem os restos de esperança que não usei ou porque caí em desespero ou
porque embriaguei-me em ansiedades ou porque esqueci-me de usar seu verde.
E essa cor que
me estimula, esse ver-de-perto as promessas ancestrais feitas nos livros
sagrados... As terras prometidas... Verde... Ou de esperança ou de tempos de
amadurecências... Verde das gramas que cobrem as terras, as que foram prometidas...
As que não encontro e não me esqueço, por mais que hoje delas não tenha me
lembrado.
Não cessam as
buscas pelo chão em que pisarei menos firme do que agora, mas muito mais
segura. Não cessam os desejos de ver o sol nascer na esquina de uma montanha, à
beira de Shangri-la, próximo a Pasárgada, em um porto, em uma praia.
Não cessam os
sonhos de paz... Essa paz que parece correr diante de quem a busca. Fico,
daqui, à espera de que ela se canse e pare, para que eu a alcance à beira de um
caminho, um Edelvais radiante.
Sigo à espera
do momento em que chegarei às terras cuja felicidade fez morada, em que solidão
alguma dure, àquelas que os mapas trazem marcadas com um xis, diferente das
coordenadas que me deu. Diferentes das marcações de seus mapas.
Seus mapas que
não levam a lugar algum. Suas coordenadas que voltam ao mesmo lugar e que
abrigam só a sua arca que é oca, não carrega tesouros, se não o brilho falso de
olhos que cruzaram esses caminhos.
Frágeis mapas.
Frágeis coordenadas. Frágeis criaturas que buscam incessantes o seu lugar. Não há
lugar certo. Não há um xis. Não há um porto. Só há a busca. A distância entre a
água e a sede. Entre o fogo e o frio. Entre a paz e a bandeira que tremula no
horizonte, nos orientes e ocidentes em que me divido. Sejam os próximos ou os
extremos. Só há corações e a paz corre em nossas veias. Se ela parar, o sangue coalha.
A paz é, na verdade, o descanso eterno. É o fim.
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