Visitas da Dy

sábado, 2 de maio de 2015

Terra Prometida





Prometeram uma terra, uma paz, um lugar para descansar, para sonhar, para viver.
Inocente, acreditei.
Li em um livro alguns nomes e os escrevi em papel colorido, bonito, com destaque de honra: precisava não esquecer o seu nome, para ter certeza quando o encontrasse.
Ah, Canaã, Tel-Aviv, cortes transversos nos Orientes que já não orientam, ao contrário, me desorientam e deixam pra lá de Bagdá, acolá de Marrakesh, perdida nos desertos das solidões minhas e dos outros, imersa em meus infinitos diários de ponderações e reflexões.
E se há reflexos, os espelhos d’água em que me miro, giram, aqueles que vêm do sossego interior dos desertos, com suas belezas, sabem ser inquietantes. Turbilhões que engolem os restos de esperança que não usei ou porque caí em desespero ou porque embriaguei-me em ansiedades ou porque esqueci-me de usar seu verde.
E essa cor que me estimula, esse ver-de-perto as promessas ancestrais feitas nos livros sagrados... As terras prometidas... Verde... Ou de esperança ou de tempos de amadurecências... Verde das gramas que cobrem as terras, as que foram prometidas... As que não encontro e não me esqueço, por mais que hoje delas não tenha me lembrado.
Não cessam as buscas pelo chão em que pisarei menos firme do que agora, mas muito mais segura. Não cessam os desejos de ver o sol nascer na esquina de uma montanha, à beira de Shangri-la, próximo a Pasárgada, em um porto, em uma praia.
Não cessam os sonhos de paz... Essa paz que parece correr diante de quem a busca. Fico, daqui, à espera de que ela se canse e pare, para que eu a alcance à beira de um caminho, um Edelvais radiante.
Sigo à espera do momento em que chegarei às terras cuja felicidade fez morada, em que solidão alguma dure, àquelas que os mapas trazem marcadas com um xis, diferente das coordenadas que me deu. Diferentes das marcações de seus mapas.
Seus mapas que não levam a lugar algum. Suas coordenadas que voltam ao mesmo lugar e que abrigam só a sua arca que é oca, não carrega tesouros, se não o brilho falso de olhos que cruzaram esses caminhos.

Frágeis mapas. Frágeis coordenadas. Frágeis criaturas que buscam incessantes o seu lugar. Não há lugar certo. Não há um xis. Não há um porto. Só há a busca. A distância entre a água e a sede. Entre o fogo e o frio. Entre a paz e a bandeira que tremula no horizonte, nos orientes e ocidentes em que me divido. Sejam os próximos ou os extremos. Só há corações e a paz corre em nossas veias. Se ela parar, o sangue coalha. A paz é, na verdade, o descanso eterno. É o fim.

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