Visitas da Dy

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Distâncias



Parecia ser à frente de seu tempo. Parecia ter experimentado as amadurecências da vida bem antes de todas as pessoas que conhecia.
Em um dia vivia anos, em uma semana, séculos. As cores não eram só algo que saltava paletas e prendiam-se em telas brancas. Eram mensagens secretas, saberes quase mágicos e poderosos que podiam mudar todo o equilíbrio do mundo.
Foi aprendendo a aceitar-se assim, um tanto distante dos outros, um tanto distante do tempo em que vivia, quase deslocada, pessoa mal encaixada nos cotidianos.
Por sentir-se distante de tudo o que tocava e fazia, por buscar as suas compreensões, aprendeu a admirar essas distâncias e a aproximar-se delas como quem observa um reflexo no lago.
Tateando claridades intangíveis a quem não via o mundo pelas suas lentes, desvendava mistérios como em um passe de mágica, perdendo parte de todo o encantamento ingênuo que cerceava o mundo.
Adivinhava as nuances da natureza como um jogo natural e simples: observava e entendia. Compreendia o exato lugar de cada coisa, os calcanhares de Aquiles, os esforços sísifos, os suplícios de Tântalo, as lutas vencidas e as abandonadas e nada disso lhe despertava mais graça.
Terrível era sua sina de não convencer-se que a ignorância era uma virtude. Não sabia mais existir sem ser iluminada por relâmpagos repentinos de consciências e análise de tudo a sua volta e sentia-se em um abismo, cada vez mais distante de quem a rodeava.
Tinha a impressão que, como vivia muitos anos em uma só hora, também envelhecia na mesma velocidade, era um amadurecimento quase atroz, que lhe consumia e a coloca em posição de desconforto com as complexidades desnecessárias, já que descobrira que a simplicidade era a melhor forma de beleza e completude.
Aos poucos, foi entendendo que há certas distâncias que por mais que envolvam duas pessoas, só podem ser transpostas por uma delas.
Há necessidades que são urgentes e que nos engolem se não as enfrentamos.
Há amores que nascem nos olhos, se mudam para o coração, mas não têm força para serem vividos. Esses são belos por completo, poéticos, inspiradores, mas irreais.
Pra ela, também o amor era uma espécie de distância em que as pessoas iam avançando em caminhos cujas dificuldades eram do mesmo tamanho pra todo mundo, mas que se um não anda, o outro se cansa.

Em suas percepções, o que mais marcou foi que todos temos a necessidade de amar, de romper nossas barreiras, não somos e nem podemos ser estáticos. Nascemos pulsantes. Vibrantes. E vencer as distâncias é o maior de todos os desafios.

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