Parecia ser à
frente de seu tempo. Parecia ter experimentado as amadurecências da vida bem
antes de todas as pessoas que conhecia.
Em um dia
vivia anos, em uma semana, séculos. As cores não eram só algo que saltava
paletas e prendiam-se em telas brancas. Eram mensagens secretas, saberes quase
mágicos e poderosos que podiam mudar todo o equilíbrio do mundo.
Foi aprendendo
a aceitar-se assim, um tanto distante dos outros, um tanto distante do tempo em
que vivia, quase deslocada, pessoa mal encaixada nos cotidianos.
Por sentir-se
distante de tudo o que tocava e fazia, por buscar as suas compreensões,
aprendeu a admirar essas distâncias e a aproximar-se delas como quem observa um
reflexo no lago.
Tateando claridades
intangíveis a quem não via o mundo pelas suas lentes, desvendava mistérios como
em um passe de mágica, perdendo parte de todo o encantamento ingênuo que
cerceava o mundo.
Adivinhava as
nuances da natureza como um jogo natural e simples: observava e entendia. Compreendia
o exato lugar de cada coisa, os calcanhares de Aquiles, os esforços sísifos, os
suplícios de Tântalo, as lutas vencidas e as abandonadas e nada disso lhe
despertava mais graça.
Terrível era
sua sina de não convencer-se que a ignorância era uma virtude. Não sabia mais
existir sem ser iluminada por relâmpagos repentinos de consciências e análise
de tudo a sua volta e sentia-se em um abismo, cada vez mais distante de quem a
rodeava.
Tinha a
impressão que, como vivia muitos anos em uma só hora, também envelhecia na
mesma velocidade, era um amadurecimento quase atroz, que lhe consumia e a
coloca em posição de desconforto com as complexidades desnecessárias, já que
descobrira que a simplicidade era a melhor forma de beleza e completude.
Aos poucos,
foi entendendo que há certas distâncias que por mais que envolvam duas pessoas,
só podem ser transpostas por uma delas.
Há
necessidades que são urgentes e que nos engolem se não as enfrentamos.
Há amores que
nascem nos olhos, se mudam para o coração, mas não têm força para serem
vividos. Esses são belos por completo, poéticos, inspiradores, mas irreais.
Pra ela, também
o amor era uma espécie de distância em que as pessoas iam avançando em caminhos
cujas dificuldades eram do mesmo tamanho pra todo mundo, mas que se um não
anda, o outro se cansa.
Em suas
percepções, o que mais marcou foi que todos temos a necessidade de amar, de
romper nossas barreiras, não somos e nem podemos ser estáticos. Nascemos
pulsantes. Vibrantes. E vencer as distâncias é o maior de todos os desafios.
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