Fez planos de
papel. Desses que já nascem sabidos de seus destinos: o fim prematuro. A não
realização. O canto da página. O esquecimento breve, apesar da euforia
passageira.
Recortou a
folha de papel como se fosse uma máscara e a colocou. Era quase uma arma-dura
com a qual enfrentaria o mundo a partir daquele momento.
Tinha os
passos exaustos de lutas encampadas quase em vão, daqueles dias em que tudo o
que via era o concreto, também armado, em curvas, que feriam as retas paralelas
dos tais planos rabiscados nos papeis.
Frente às
vitrines espelhadas observava como a tal arma-dura lhe caia bem e já não sabia
mais, ao longo dos dias atravancados pelos vaivens cotidianos, se a máscara lhe
cobria o rosto ou se revelava quem ela era de fato.
Explicava-se a
si mesma que a máscara seria a sua arma mais dura frente aos outros. Com ela
manteria distâncias seguras, pouparia todo o desgaste do desconhecido. Mostraria-se
forte o bastante para não terem penas de suas feridas e suficientemente preparada
para aguentar todas as adversidades.
Avançava, ora
acreditando na nova face, ora aceitando que sempre fora a mesma. Escorregando pelos
cantos das ruas, passava em brancas nuvens, desejando deitar-se sob o azul do céu,
sobre o verde da grama e perde-se nas chuvas multicoloridas de esperanças
abandonadas.
Desligava-se,
aos poucos, de quem era e fixava-se em seus reflexos. Esquecia-se que usava a
arma-dura. Esquecia-se que convocara há tempos uma guarda fiel para si e que se
escondia. Esquecia-se, aos poucos, das flores, dos bilhetes, das bolhas de sabão,
das vontades de ficar.
Acreditava-se
mais forte por conta da máscara, sem perceber que a força era dela desde o início
e que só precisava de seus sorrisos para compor e recompor tudo o que estava
por vir.
Depois de um
banho de chuva, desses comuns no outono, desceram-lhe as gotas d’água e os
pedaços da máscara, desfazendo sua armação. Despida de suas armas, de sua máscara,
maquiagem bem feita, agora estava diante de si mesma e, percebeu que todas as
pedras no caminho foram vencidas por ela mesma.
A máscara não
era tão necessária. Desfez-se da fantasia e passou a encarar o mundo olho no
olho, sem correr, aceitando os desafios,
como quem acorda para tudo o que virá.
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