A angústia
toma conta de nós como as águas de uma represa, que parecem tranquilas, mas que
romperão, em breve, com muito mais violência do que podemos imaginar.
Não é de todo
uma culpa, mas não há como nos desvencilharmos da tal mea culpa: não sabemos lidar conosco, com os nossos sentimentos e
por puro egoísmo, vaidade ou necessidade de autoafirmação nos lançamos para
cima dos outros.
Praticamos um
imperialismo sentimental no coração alheio sem sequer dominarmos o nosso
próprio estado, não damos conta nem de saber quem somos, nem de saber onde é
nossa casa e já partimos para o lado alheio. Invadimos.
Não
necessariamente entramos chutando o balde. Às vezes é uma dominação silenciosa,
quase pacífica com flores e cartões e músicas, como se fosse quermesse, como se
fosse comemoração de feriado e então instalamos nossas bases.
Fixamo-nos
ali, na terra coração dos outros, displicentes, quase covardes, supostamente
sem intenções, mas plenamente conscientes de tudo o que queremos e não
queremos. E fazemos o estrago. E não seguramos o rojão. O soltamos, julgando
que os estilhaços não nos alcançarão, mas alcançam.
Somos incapazes
de nos valer da sinceridade crua, ainda que pouco leve, que poupa sangramentos
que podem ser estancados. Gostamos do sangue jorrando. Gostamos da hemorragia. E
depois da verborragia que se segue. E das lágrimas escorrendo. E do sal
engasgando e secando a boca, a voz, o resto de sentimento.
Somos cruéis
com os outros e conosco. Sim! Conosco porque não saímos ilesos dessas pequenas
invasões no mundo do outro. Respingam-nos um quê-de-tudo-um-pouco e já não
sabemos o que éramos e o que nos transformamos.
Meu Deus, onde
vamos parar? Se é que queremos parar... Se é que já não nos acostumamos com
essas incursões desastrosas que promovemos em nome de bandeiras que nunca
hasteamos verdadeiramente. Se é que temos conhecimento dos objetivos que
elencamos. Se é que sabemos que somos de carne, osso, sentimento e poesia.
Por vezes acho
que nos abandonamos. Acho que largamos a poesia no caminho e nos acostumamos só
ao pó. À poeira do que gostaríamos e que se amontoa nos cantos dos planos
amassados que jogamos no chão de nossas histórias não vividas.
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