Visitas da Dy

sexta-feira, 1 de maio de 2015

Imperialismos Sentimentais



A angústia toma conta de nós como as águas de uma represa, que parecem tranquilas, mas que romperão, em breve, com muito mais violência do que podemos imaginar.
Não é de todo uma culpa, mas não há como nos desvencilharmos da tal mea culpa: não sabemos lidar conosco, com os nossos sentimentos e por puro egoísmo, vaidade ou necessidade de autoafirmação nos lançamos para cima dos outros.
Praticamos um imperialismo sentimental no coração alheio sem sequer dominarmos o nosso próprio estado, não damos conta nem de saber quem somos, nem de saber onde é nossa casa e já partimos para o lado alheio. Invadimos.
Não necessariamente entramos chutando o balde. Às vezes é uma dominação silenciosa, quase pacífica com flores e cartões e músicas, como se fosse quermesse, como se fosse comemoração de feriado e então instalamos nossas bases.
Fixamo-nos ali, na terra coração dos outros, displicentes, quase covardes, supostamente sem intenções, mas plenamente conscientes de tudo o que queremos e não queremos. E fazemos o estrago. E não seguramos o rojão. O soltamos, julgando que os estilhaços não nos alcançarão, mas alcançam.
Somos incapazes de nos valer da sinceridade crua, ainda que pouco leve, que poupa sangramentos que podem ser estancados. Gostamos do sangue jorrando. Gostamos da hemorragia. E depois da verborragia que se segue. E das lágrimas escorrendo. E do sal engasgando e secando a boca, a voz, o resto de sentimento.
Somos cruéis com os outros e conosco. Sim! Conosco porque não saímos ilesos dessas pequenas invasões no mundo do outro. Respingam-nos um quê-de-tudo-um-pouco e já não sabemos o que éramos e o que nos transformamos.
Meu Deus, onde vamos parar? Se é que queremos parar... Se é que já não nos acostumamos com essas incursões desastrosas que promovemos em nome de bandeiras que nunca hasteamos verdadeiramente. Se é que temos conhecimento dos objetivos que elencamos. Se é que sabemos que somos de carne, osso, sentimento e poesia.

Por vezes acho que nos abandonamos. Acho que largamos a poesia no caminho e nos acostumamos só ao pó. À poeira do que gostaríamos e que se amontoa nos cantos dos planos amassados que jogamos no chão de nossas histórias não vividas.

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