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quarta-feira, 20 de maio de 2015

Noite



Hoje não sobrou poesia.
Hoje ninguém bebeu alegria.
Em becos e vielas nada de canto.
Em cada canto só se ouvia pranto.
Nem era só dor, desamor ou agonia.
O choro era de desalento,
Era da realidade fria e de aço
Que comigo marcava seu passo.
E com seu ranger de dentes me ensurdecia.
Oh, noite que cai gélida sobre os corpos!
Noite que se despeja, sem alternativa,
Aos mortais que a temem.
Noite que se estende
Para além da escuridão,
Noite que cega os olhos ao meio-dia.
Que seja breve o seu reinado.
Que não me tape os ouvidos
Que não me impeça de gritar
Pois já não caibo mais
Entre essas paredes sem métricas.
Não encontro ritmo nesses versos
E sei que é culpa do breu
E da brecha que lhe dei em meu peito.
Afasta-se de mim, oh, noite!
Leva contigo as horas ocas
Que vou amanhecer em mim o dia
E verei raiar as cores.
Entoarei canções de outros tempos
E terei asas de azul infinito
Longe de seu escuro desenrolar
Porque seu luto noturno
Não me é bem-vindo.
Prefiro despertar o dia
E contar borboletas no jardim das horas
Segue seu caminho, noite,

Que meus rumos são outros.

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