Hoje não sobrou poesia.
Hoje ninguém bebeu alegria.
Em becos e vielas nada de
canto.
Em cada canto só se ouvia
pranto.
Nem era só dor, desamor ou
agonia.
O choro era de desalento,
Era da realidade fria e de
aço
Que comigo marcava seu passo.
E com seu ranger de dentes
me ensurdecia.
Oh, noite que cai gélida
sobre os corpos!
Noite que se despeja, sem
alternativa,
Aos mortais que a temem.
Noite que se estende
Para além da escuridão,
Noite que cega os olhos ao
meio-dia.
Que seja breve o seu reinado.
Que não me tape os ouvidos
Que não me impeça de gritar
Pois já não caibo mais
Entre essas paredes sem
métricas.
Não encontro ritmo nesses
versos
E sei que é culpa do breu
E da brecha que lhe dei em
meu peito.
Afasta-se de mim, oh, noite!
Leva contigo as horas ocas
Que vou amanhecer em mim o
dia
E verei raiar as cores.
Entoarei canções de outros
tempos
E terei asas de azul
infinito
Longe de seu escuro
desenrolar
Porque seu luto noturno
Não me é bem-vindo.
Prefiro despertar o dia
E contar borboletas no
jardim das horas
Segue seu caminho, noite,
Que meus rumos são outros.
0 Comentários:
Postar um comentário