Se a lâmpada
que tenho nas mãos além de luz, me desse desejos, eu pediria a extensão das
horas. Das tímidas horas em que passamos juntos e que nos atropelam com os
ponteiros do relógio (solavancos da realidade).
Faria de cada
avançar dos ponteiros uma nota nova, consciente da impossibilidade de qualquer
ré e evitando dó, mas sem economizar lá e sol (quanto maior melhor), para
compor música nunca feita antes, que traduzisse todas as vivências.
Pediria que o
sol do entardecer que emoldurou seu rosto, que intensificou seus olhos, ao
mesmo tempo em que me despertava, fosse perpetuado (instante mágico do
desabrochar de sentimentos).
Gosto de molduras.
Gosto de pensar que esses momentos são telas cuidadosamente pintadas para a
minha apreciação, para o meu encantamento, para que eu me convença cada vez
mais que a contemplação é natural e que a beleza é digna de toda e qualquer
homenagem.
Gosto de ver
como todas essas sutilezas estão à minha disposição, mas que nem para todos os
mortais ela é evidente. E lamento, em prece, por aqueles que sabem entender as
singelezas do afago do vento.
Coubesse a mim
mais um desejo, ousaria deixar de lado essas belezas e me concentraria, de
novo, em quem me despertou para elas. Voltaria-me a você e pediria as traduções
de cada linha que seus olhos imprimiram sobre mim e de tudo o que leram
enquanto me percorriam e me faziam sentir arrepios como se eu mesma fosse um
texto em braile, sem sequer ter havido o toque.
Algumas
delicadezas, como esses olhares que tocam mais do que a ponta dos dedos, como
essas do amor, nos escapam e perdemos oportunidades de felicidade. Para não
desperdiçar essas oportunidades eu desejaria atenção, não dessas de quem vigia,
mas a de quem sabe notar os detalhes.
Se coubessem a
mim esses desejos, experimentaria as sensações que hoje são tão raras e
colocaria-me entre aqueles que alcançam
os mais altos lugares dos altares: aqueles que reconhecem os momentos certos e
não os perdem. Eu estaria, de bom grado, entre aqueles que aprenderam a viver.
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