Entrevista a Lui Morais, para a rádio do Instituto de Educação do Rio
de Janeiro, em 03 de maio de 2015.
Você pode falar quais peças constituem a sua obra até agora?
Não tenho livros publicados.
Toda a minha produção fica
disponível em meu blog, Dy-vagando, no ar desde 2010, mas só levado a sério a
partir de 2011.
Desde 2013 sou colunista na
Revista Biografia, eletrônica, com textos semanais. Participei da Antologia
Versos de Verão (2014), da Revista Replicante, (México, 2014), e do Suplemento
Acre (nº5, 2015).
Tenho 4 projetos de livros
prontos, esperando uma editora. Dois livros de prosa (Vontades Incompletas e
Entre uma Balada e um Blues) e dois de poesia (InVersus e Palavras Indizíveis,
Sentimentos Indivisíveis).
Por que você escreve?
Para me aliviar. Observo muito
o mundo à minha volta e vou absorvendo o máximo que posso. Esses sentimentos
acabam me extrapolando em forma de poesia.
É uma forma de ser e continuar
sendo através das palavras, mesmo depois que o sentimento passa. Gosto dessa
ideia da permanência das palavras no tempo. E gosto de me expor nas
entrelinhas, com sutilezas, com paixão. Claro que nem todos os textos são sobre
mim ou o que vivo. Muita coisa é fruto das observações. Só faço uma espécie de
tradução do mundo tão rígido e tão sério para as palavras mais leves, mostrando
que há beleza em tudo. Pelo menos aos meus olhos. Não faço da escrita um
compromisso. Só escrevo quando estou transbordando. Não tenho uma rotina para
fazer poesia.
O que é poesia pra você?
A poesia faz parte da minha
vida desde que aprendi a ler. Escrevo há pouco tempo, uns 5 anos, mas ela
sempre esteve presente. É pela poesia que me expresso quando estou feliz,
triste, com raiva. A poesia é uma válvula de escape, uma passagem secreta para
um lugar maravilhoso, o mundo das palavras. É uma ponte entre pessoas incríveis
que conheci. É meu travesseiro cheio de sonhos. É companheira em noite de
insônia. É a lente pela qual escolhi ver o mundo. Não há uma definição do que
ela seja para mim, mas é muito importante.
Você se considera uma autora pós-moderna?
A ideia do pós-modernismo pra
mim é um vulto. Se for levar em conta o que tem se entendido como pós-modernismo,
um grande balaio onde se colocam grandes autores sem muita conexão, devido à
fluidez do conceito, sim, eu seria uma pós-moderna.
Mas não sou apegada a esse tipo
de rotulação.
Faço poesia. Isso devia bastar.
É só uma forma de expressão, é só um meio de tentar embelezar o mundo, de me
derramar sobre o papel e ter nele uma extensão do que sinto. Sinceramente, não
sei dizer se tenho essa ou aquela característica de pós-moderna. Sou poeta.
A tradição da literatura e das artes influencia muito sua
poesia? Pode dar exemplos?
Antes de ser escritora, sou
leitora.
Antes de derramar, me preencho.
Toda forma de arte me inspira. Mas
não me ligo à tradições e sua rigidez, não há um movimento único que eu pudesse
escolher. Transito em tudo o que posso.
Quase sempre escrevo ouvindo música,
de clássica a MPB, de Ludovico Einaudi a Emilie Simon, de Khaled Mouzanar a Erik
Satie.
Na MPB eu vejo fontes inesgotáveis
de poesia, vou desde os consagrados Djavan, Caetano, Oswaldo Montenegro, Lenine
à galera não muito conhecida – há controvérsias! – como Vinícius Calderoni,
Rafael Altério, Fernando Anitelli, que apresentam poesias muito boas, simples e
marcantes, questionadoras e provocativas.
Também sou fortemente
influenciada pelo Oriente Médio, sua poesia, dança (do ventre) e música. É clichê,
mas tudo começou na infância, com as Mil e Uma Noites, na época, uma organização
de Malba Tahan. Hoje volto-me para os libaneses Amin Maloouf, Khalil Gibran,
Joumana Haddad, mas a lista ainda tem escritores iranianos, como Nahid Rachlin,
e marroquinos como Mubarak Rabia e Muhammad Chukri, que são contistas modernos.
Na literatura nacional gosto
muito de Nélida Piñon, Leminski, Manoel de Barros, Elisa Lucinda.
Como você sente a relação da sua poesia com o tempo? E com a
realidade?
A poesia é, em parte, filha de
seu tempo. A minha não é diferente. Ela é, na maioria das vezes filha da
madrugada, mas gerada à luz do dia. Não tenho temas específicos, gosto mais de
escrever sobre minhas reflexões, sentimentos, mas há algumas que são muito
fortes e questionadoras sobre o que acontece no dia a dia.
Nem sempre estou só tocando a
ficção. Muita coisa é fruto de minha indignação, das notícias dos jornais, de
experiências vividas no meu cotidiano.
Como toda literatura, muitos
textos são atemporais, outros só farão sentido em seu contexto.
A poesia é arte e ela sobrevive
ao tempo. Chronos deu esse presente à poesia: um ser alado que transita por
onde quiser e quando quiser, descolada dos calendários, livres para pousarem
nos ponteiros do relógio de seu leitor e depois voltar a voar.
Minha poesia é assim. Tem lugar
de nascer, tem traços desse tempo, mas não é presa a ele.
Você gostaria de indicar outros poetas que considera
interessantes para participarem desta pesquisa?
Conheço muita gente boa. No Rio
tem a Flavinha, Flávia Cortes, que lançou o livro Espanto! Ela é maravilhosa!
Tem o Rômulo Ferreira, que
distribui sua poesia pelas ruas do Rio, que conheci por acaso, e que já
publicou um texto meu no Suplemento Acre. Ele é uma figura muito emblemática: não
desiste da arte, da arte nas ruas, popular, ao alcance de todos. Gosto muito do
trabalho dele e seria lindo vê-lo falar sobre livros artesanais, sobre a arte
pela arte.