Ninguém se assume fraco e isso já dizia o poeta Fernando
Pessoa, por ele mesmo, não os heterônimos, salvo minha memória que vive a me pregar peças. Mas eu me assumo! E isso eu disse
outro dia, cheia de mim!
E me assumo mesmo! Já levei porrada, já perdi muitos jogos,
muitas batalhas, mas nunca a guerra, porque essa só perderei no dia em que meu
sangue escorrer pelo chão. A guerra só estará vencida quando conseguirem fechar
meus olhos pra que eu não veja o sol. Só estarei vencida quando não puder mais
sonhar com a lua e o brilho das estrelas. Antes disso, ainda respirarei e ainda
terei o gosto pela luta.
Ah, por quantas vezes já sofri... por quantas vezes já vi meu
coração despedaçado porque julgava não poder voltar atrás com minha palavra... perdi
pontos comigo mesma. Quase perdi esse jogo, mas deu tempo de salvar, de me salvar. Deu tempo
de aprender a negociar as promessas, a aprender a me desligar de promessas cujo
receptor não as merecia.
E já chorei muito por ter agido da maneira errada. Algumas vezes
fui parasita, peguei carona na idéia do outro, comprei brigas que não eram
minhas, contei vantagens que nem sequer sabia como tinham sido tiradas... que
vexame! Se alguém mais atento me fizesse uma simples pergunta me pegaria na
curva, sem lenço, sem documento, sem explicação. Um verdadeiro papelão...
Por quantas vezes já chorei debaixo do chuveiro, lugar eu
gosto mesmo é de cantar, de me achar a diva da música... já chorei abraçada aos
joelhos por motivos bobos, por motivos que mereciam e em algumas crises que nem
sabia o motivo. Só chorava... deve ser isso que acontece quando entramos no tal
inferno astral... pode ser essa a explicação...
Ridícula eu? Desconfio que todos somos. Eu sou! O ser ridículo
é aquele que não anda na moda? Muito prazer, eu crio a minha moda! Franja não
está em alta? Eu estou, corte o meu cabelo, por favor! Vestidos estão em
baixa... oh, que maravilha! Quero três: um de cada cor! E daí que não se
combinam mais os sapatos e as bolsas, que já não se ouvem Queen? Quero mais que
o mundo se exploda em confetes que é para eu fazer a minha festa! Não tenho
vergonha de ser eu e assumir as minhas vontades e gostos. Ridícula, pode ser! Não
ligo!
Ah, olho para os lados e vejo tanta gente bonita, elegante,
inteligente! Todos nasceram assim: sabendo tudo! Pena eu não os invejar... acho
que deveria, mas não consigo... estou bem nesse caminho de aprender cada dia um
passo. Penso que ao descobrir o mundo aos poucos vou saboreando-o muito mais,
apreciando cada nota do sabor, sorvendo tudo o que há de mais refinado e
delicado.
Olho para os lados e tenho apenas o desejo de ver mais
pessoas que se assumam como são: verdadeiras, de carne, osso, defeitos, gostos,
medos e sonhos...
Seria tão bom livrar-me dessa angústia que me aperta o peito quando
tenho a impressão de ser só nesse mundo, de não ter pares, de estar no planeta
errado...
Fico cada dia mais cansada desses super gênios, modelos e
exemplos que me aparecem... ou a loja de máscaras está com um sucesso absoluto –
e temo pelo dia em que as máquinas de produção derem pane e todos percam seus
disfarces – ou estou mesmo num mundo que não me pertence.
Algo está errado. Sou eu? São os novos deuses perfeitos que
me cercam? São meus defeitos e falhas que se alojaram em meu espírito ao invés
de ficarem bem longe? Não sei, mas enquanto busco essa resposta vou andando
pelo caminho a observar cada flor, cada espinho, apreendendo cada detalhe na
memória, porque se um dia me esquecer quem eu sou vou lembrar pelo menos de
onde eu vim...
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