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quinta-feira, 4 de abril de 2013

Dente-de-leão



Sou uma folha ao vento.
Talvez, um dente-de-leão intrépido.
Lanço-me no voo leve, breve.
Solitária e acanhada.
Tenho as rimas que me bastam,
Os versos que eu mesma faço.
Meu mundo não é imaginário:
É imaginado!
Cada detalhe, Cada sutil detalhe:
De onde está você,
Onde estou eu,
E onde está em mim.
Às vezes é tudo muito difícil.
É que eu gosto da sensação de superar obstáculos.
Gosto de saber que posso ir além de onde alcança a mão,
De onde o pé sabe ser firme.
Gosto mesmo é do gosto que o medo deixa:
E mais ainda do que fica depois que venço.
Crio tudo ao som de boa música:
Danço sob o sol,
Visto-me de cigana, de Ana, de dama,
Rodo a saia em plena avenida,
Na correria, na contramão.
Envelheço, mas continuo menina.
A menina que sorri, que chora, que brinca.
A menina que parece ter sido feita pra mim.
Que eu fiz, desenhando com lápis de cor e afeto.
A menina que admira flores na primavera,
Mas que se encontra no outono,
Quando as folhas caem das árvores,
Soltas ao vento.
É que eu sou folha ao vento.
Talvez, um dente-de-leão intrépido.

A História me escolheu



Um dia escolhi a História. Mentira! Foi ela que me escolheu. Eu era muito nova ainda. Uns onze, doze anos, no máximo. Fiquei encantada com a possibilidade de saber como tudo aconteceu, porque estamos do jeito que estamos hoje. A minha professora dizia que todas as nossas respostas estavam no passado e não no futuro como a gente acreditava.
Lembro-me muito bem da aula sobre os castelos. Não era nada daquilo que se passava nos filmes. Era muito diferente, o contrário pra dizer a verdade. O tal do senhor feudal era um bobo. Ele pegava toda a produção da fazenda e não deixava quase nada para o camponês.
E os dragões? Definitivamente, nunca existiram. As princesas não usavam vestidos cor-de-rosa-bebê (mas e daí? Eu nunca gostei de rosa mesmo... nem de princesas!) e os príncipes, bem, acho que a Disney se confundiu quando fez os desenhos... a História, aquela com H maiúsculo, era outra.
Ano após ano eu me perdia e me encontrava naquelas aulas de História. Livros atrás de livros, filmes, músicas, pinturas, tudo me fazia sentir um cheiro de passado. Um passado muito teimoso que achava que o seu lugar era entre a gente, que não queria deixar de ser presente e que, se bobeássemos, estaria esperando a gente no futuro.
Menos de uma década depois de todo o meu encantamento eu estava no primeiro ano da faculdade de HISTÓRIA. Sim, uma paixão avassaladora, um amor incondicional que só fez crescer. Tornei-me professora. Não dessas de repetir o que se tem nos livros, de se dar a mesma aula para todas as turmas todos os anos, mas longe de ser a ideal. Só uma coisa eu tinha certeza: eu não tinha escolhido a sala de aula. Eu nunca escolhi ser professora. Nunca escolhi ensinar. Foi a História quem em escolheu. Foi ela que entrou na minha vida, encheu-me os olhos, virou-me para trás e mostrou-me os caminhos do futuro.
Escolhida pela História, perdi-me num sem fim de noite mal dormidas, de livros, textos, escritos, rabiscos, ideais, sonhos e carreira. Ajuntando uma coisa com a outra descobri-me apaixonada pela Idade Média e pelo Patrimônio Cultural.
Ainda me pergunto como me deixei envolver tanto pela História... Deve ser porque gosto de gente. Deve ser porque eu tenho uma vontade enorme de seguir dividindo todas as coisas que eu sei. Deve ser porque eu tenho uma dívida enorme a pagar com a sociedade que me possibilitou uma vida de mais de 20 anos estudando em escolas públicas e de qualidade (é, no meu tempo as escolas eram boas!).
Formei-me em uma universidade federal, fiz pós-graduação e hoje completo uma semana da defesa de minha dissertação. É... o tempo passou e pouco mais de quinze anos passados em que a História entrou em minha vida trazendo todo o seu encantamento, seu espírito crítico e suas angústias sufocantes, eu posso dizer que sou completamente feliz com a profissão que tenho e pela trajetória eu venho fazendo ao longo desses quase dez anos de envolvimento direto com ela.
Ser historiadora é uma questão de amor pelo presente. É um desejo absurdo de entender o que se passa hoje, de responder os porquês que nos atormentam. Ser historiadora é sufocante quando me vejo em situações que exigem um desprendimento de mim mesma, mas que têm um objetivo maior. É gratificante quando vejo o reconhecimento de meu trabalho em alunos tão maravilhosos que cruzaram o meu caminho.
Para complementar a História fiz uma aproximação com o Patrimônio Cultural e a Educação e o casamento só me deu alegrias: hoje, mestre em Educação pela UFF, mas eternamente historiadora pela UFJF, eu posso afirmar que não há no mundo alegria maior do que ver um sonho concretizado.
Valeu a pena cada lágrima, cada luta, cada suor, cada sorriso, cada desespero com prazos.
Hoje eu realente consigo perceber o que foi vencer esses dois anos no Rio de Janeiro, longe de casa, dos meus maiores amores – Heitor e família – em uma cidade desconhecida, maravilhosa e cheia de incertezas.
Hoje, a melhor imagem que posso ter é essa: minha mão espalmada sobre o peito que não se aquenta dentro do corpo, que quer sair a bater pelas ruas, quer espalhar toda sorte de boas vibrações por aí, quer mostrar que ser professora é uma arte e que ser historiadora é sobretudo um ato de muito amor!