Visitas da Dy

domingo, 28 de julho de 2019

Saciedade



Haverá um momento terminal
Em que os olhos se fecharão.
Não mais como guardiões do gozo,
Não mais decorando seus contornos.
E restará, em algum escombro de memória,
Tudo o que já fomos um dia.
O corpo deitado 
O sabor à prova
Na ponta da língua
Calores eternos
Vapores de desejo
O milagre do toque,
Os tremores da alma
Seu cheiro na boca
Seu beijo em meus olhos
Outrora e agora.
O mundo girando,
Sombras gritando,
Povoamos desertos,
Fomos árabes em tecidos secretos
Véus descobertos
Caídos ao chão
Recolhidos em beijos
Nas palmas das mãos.
Saberemos que colhemos flores,
Que semeamos histórias
Sentados nas sarjetas,
Embriagados de versos,
Entregues à lua.
E diante do findo tempo
O último suspiro será intenso
Da lembrança, da madrugada, 
Da noite inteira que nos foi morada.
E o mundo, lá fora, que se acabe
Porque já experimentei e domei a eternidade,
Porque descansarei livre e saciada.


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