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quinta-feira, 25 de julho de 2019

Paraíso artificial



Há algumas horas eu apenas existo. 
Aos poucos fui perdendo minha velocidade habitual, adquirindo uma tranquilidade artificial, imposta, forçada.
As coisas passam por mim de forma mais lenta, as cores menos vívidas, as palavras se demoram mais. 
Fico sonolenta e não descanso.
As vozes, aos poucos, ganham ecos. A sensação de despertencimento cresce. Fico alheia até de mim. Estou medicada e sob controle.
Na verdade, eu estou sem nenhum controle. As emoções desaparecem. Os olhos fecham. O sono é uma pausa do nada, no nada, para nada, e é o nada que continua quando acordo e ainda estou "medicada e sob controle".
A calma que paira em mim me irrita ainda mais.
A ansiedade não vem. A respiração está fluindo. O coração segue o fluxo. Só eu, comigo, não entro num acordo: prefiro meus sobressaltos, meus rompantes, meu caos. Esse paraíso artificial não me cabe.

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