sexta-feira, 12 de julho de 2019
Enya
Eu usava armaduras, ele as descobriu. Foi chegando em minhas branduras, amanhecendo minhas madrugadas, mas eu não cedi.
Insistências, indulgências, e, sob aqueles olhares, me desfiz. Por alguma fresta o riso entrou, ganhou-me, mas resisti.
Fala cadenciada, cores vibrantes, segredos noturnos, ardências de verão, medo do inverno. Fiz-me primavera e já era um entardecer alaranjado de alegrias todas aquelas chegadas.
Eu o esperava feito o cão fiel, pronto para festejar o encontro, ganhar o afago, lamber as feridas, dormir observando seu sono.
Perdi o sono. Tantas vezes que não podia contar. Perdeu-se o encanto, tanto que eu já não reconhecia o seu falar.
E houve choro e desalento. E houve a dúvida se meu peito se esvaziara ou nunca enchera. E houve o medo, o pavor, a boca ausente de beijos, cheia de dor.
O chão cheio de cacos, sonhos ao relento, livro repetido, história de terror. Era um labirinto de quês sem sentido, lanterna sem pilha, arrependimento. Cadeado. Armadura. Semente de flor no deserto. Frangalhos de sentimentos. Pontadas no vazio do coração. Promessa de nunca mais. Esperança verde, escondida, que anseia brotar com um sorriso, mas se trava, faz de forte e teme que o mal retorne.
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