Visitas da Dy

sábado, 15 de julho de 2017

Tropeços




Estou esperando já há algum tempo. Tenho impaciências de quem cria raízes, mesmo tendo nascido pra ganhar o mundo. Ainda assim espero pelos seus passos que virão em minha direção.
Eu sei que vai valer todo esse tempo aqui parado. Eu sei só pelo ritmo que seus pés dão ao chão, numa dança silenciosa que só o ar consegue sentir de fato.
Aguardo a sua chegada para me morder os sentidos, mastigar o pouco juízo que ajuntei nesses anos. E será por esses seus dentes brancos, tão brancos quanto a paz que sinto ao seu lado que verei a luz no fim de todos os meus túneis. Essa luz que magicamente irradia de seu sorriso largo, pobre de Mona Lisa!
Sou esperas e bebo saudades e agonias tantas que pouco saciam as sedes que tenho de suas águas claras, de exageradas quedas que eu arriscaria ter em você.
Senhora dos caminhos, abre alas e espaços com o embalo de seu vestido que seja lá de que cor se pinte, representa as chamas de um fogo ancestral que lhe move e a faz quase pairar pelas horas.
Senhora do tempo, domina instintos tantos que o mais selvagem animal se daria em montaria, para, como andor, carregar a dama dos ventos que agita meus pensamentos e acalma minha alma no leve toque de seus dedos.
Senhora de vontades, não sabe o que é a espera. Faz seu o tempo. Rompe as barreiras com seus beijos. Tem nos braços o acalanto e a força que a coloca como caçadora e feiticeira, que tece o dia como quer e me tem à sua sombra tão logo se faça o meu sol.
Senhora dos temperos, é o sabor dos ventos que me tocam a pele. Conhece as intensidades e por isso dita como os passos devem se encaminhar. Aplaca as pressas. Move-se devagar, mas saber a hora de acelerar. Sabe o sopro do dragão e o sussurro dos anjos e pode, soberana, fazer-me de seu súdito ao alcance de suas mãos, sujeito a um tropeço em suas palavras ou à queda em seus olhares profundos.

Passagem de ida para tantos desconhecidos que se vestem de cotidiano. Amarras livres de nós, que só se conjuga quando quer. Desconhecida noite vencida pelo raiar do sol, mas com essências de lua tão profundas quanto suas raízes com os sonhos que povoa. Fada da das horas que conto à sua espera. 

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