Abro mão de
toda poesia. De tudo isso que sou e você pouco percebe. Tiro-a de mim da
maneira como posso e, nua, me exponho diante de seus olhos.
Falta-me agora
que suas mãos me leiam. Que elas não me faltem. Que elas deslizem sobre mim e
arranquem essas roupas que pela manhã combinavam com a luz do dia. Prometi não
versar. Prometi não ceder à rima que salta aos lábios porque você acha que elas
me escondem bem mais que as roupas. Estou nua à espera de seu toque.
Se ouso ser
palavra é para caber entre seus lábios e me desejo mordida, leve, mas com
ardor.
Se ouso ser
som, projeto-me sussurros e gemidos: preces do corpo febril, quase desesperado
pelo sim, pelo não, entre suas mãos, minhas roupas e poesias pelo chão.
Se ouso
olhares é porque teimo enxergar o pouco de luz que me mostrou, mesmo imerso em
sombras de não-me-quer, mesmo quando só experimentei a superfície. Sou mais que
olhares. Sou olhos, buscando alguma profundeza sua, algum resquício de entrega,
alguma afeição pelo que é belo, para além dessa arma-dura que me oferece. Ouso,
em meio às margens que nos colocamos, devolver parte do frio que me lança:
espelho que reflete sua retina. Taça cheia à espera de seu gole. Sou pouco
menos amarga que a bebida que lhe entorpece, porque meu doce foi desperdiçado
ao chão, junto com minha poesia.
Estou aqui
crua, bem mais do que nua, disparando tudo o que pede pra receber e, embora
pense ser submissão, chamo de coragem, enfrentamento, doação, paixão.
Pediu-me
nua. Recebeu-me crua. Terá nas mãos o fogo que me forja? Terá as rédeas que
doma minha fúria? Sou de poucas esperas. O caminho de ida é bem mais curto que
o da chegada. O tempo é inexorável e sigo com ele, nua, esquecendo-me que já me
quis sua.
0 Comentários:
Postar um comentário