No quase frio
do quase fim de tarde, os corpos se aproximaram mais do que pelas palavras. Era
um consenso que as palavras os havia acorrentado. Coisa desses poderes mágicos
das conversas-correntes que nos prendem pelos calcanhares dos interesses mútuos
ou nos mistérios a serem descobertos no oposto lado de quem fala.
Eram palavras
pouco desenhadas, de uma correria interrompida pela cerveja-pausa do botequim
da esquina. Eram palavras de amenidades, perfumarias e bocas, beijos, mãos,
abraços.
Ninguém sabe
dizer quando tudo ficou tão próximo. Ninguém sabe explicar um endereço indo
visitar o outro. Do mesmo jeito que ninguém percebeu o vinho, o cobertor e a
imediata vontade de prolongar a noite eternamente até o enjoo ou até o engodo.
Das velozes
palavras ao envolvente conforto das pernas entrelaçadas, do querer
estar-ficar-e-partir aos obrigados silêncios pontualmente colocados nos
horários comerciais da cidade, das promessas de "em breve", de
"quem sabe" e planos de papel aos goles de mágoas e adeuses não ditos
se não pelas bocas distantes e caladas, caiu a frente fria. Podia ser da
estação, mas era verão. Era um frio de coração, um frio de gelar esperanças,
congelar sonhos, derreter pelo rosto, dissolver os papéis dos planos.
Agora eram
palavras ecoando na memória, mas não tinham sequer a mesma voz. Estava sendo
esquecida, assim como o rosto, o sorriso e aquele último toque (despercebido?).
Era o golpe
dado das palavras que, emaranhadas, ofuscaram as reais velocidades do que
estava posto. Não chegou a ser engodo. Desatenção ou descuidado. Brevidade na
melhor das hipóteses. Desilusão nas longas noites até o esquecimento.
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