Visitas da Dy

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Cais




Repousa a cabeça em meu peito, cabendo entre meus braços um universo inteiro.
Não desejo ler seus pensamentos, mas, se pudesse, gostaria de saber quantos abismos já criou e quantos outros cruzou e morreu pelo caminho. Talvez eles expliquem seu medo de seguir adiante.
Gostaria de saber das tempestades que engoliu, dos raios que aparou, dos trovões que esbravejou e das distâncias que se aumentaram a partir das nuvens densamente precipitadas.
Queria saber dos precipícios que lhe juraram voos e que a ausência das mãos fez falhar as asas, fazendo da queda mais dolorida do que poderia suportar. Talvez seja isso que lhe impeça de andar de mãos dadas.
Queria saber das marcas que ganhou e não lhe deixaram cicatrizes no corpo, mas devoraram sonhos e transformaram suas noites em horas insones e em um breu assombroso de cálculos e previsões para que o erro não se repetisse. Talvez seja isso que prenda seus pés ao chão, como raiz de árvore ressequida, com um fio pequeno de seiva sustentando a existência.
Queria saber de onde veio o raio de esperança que lhe cegou os olhos e lhe trouxe aos meus braços. Queria saber se universo que margeio em meus braços ainda pode ser reconstruído ou se já se deu por perdido. Queria saber se hoje sou só travesseiro ou se posso sonhar em ser navio, aquele que deixará o caos do cais para traçar novas rotas nos mares de seu país.

Queria saber se tenho nos braços a partida ou a chegada se apenas durmo ou velo seu sono, tecendo acalantos de porto seguro ou acenando adeuses com um lenço branco.

0 Comentários:

Postar um comentário