Na falta do
chão, costumava voar. Quando pequena, os pés balançavam longe do chão, em
qualquer cadeira que lhe fizesse princesa. Depois voava em tapetes, para mundos
nos quais reinava absoluta entre suas palavras.
O chão, na
verdade, nunca lhe coube. Mesmo depois de crescida, parecia evitar raízes. Não pela
profundidade, porque se expandia ao contrário, para os céus, mas pela fixação a
um lugar. Gostava de ser como a água, tão fluida como um balé bem encaixado na
música. Gostava de sair do lugar.
Quando cansada
das suas lutas, olhava para si mesma, no espelho e tinha nos olhos longas
estradas e ela ali parada, diante dos caminhos... Às vezes chorava: a lágrima-rio
que lhe cortava o rosto, passava por baixo da ponte em que ela-menina se
observava.
Era ela a paisagem
e a observadora. A margem e o rio. A estrada que encontra o céu, não importa o
quão longe isso aconteça, porque aprendeu a não medir distâncias. Aprendeu só a
seguir, como puder, como der, como se só o caminho importasse, permitindo-se
paradas, mas nunca estagnações, nunca a desistência.
Sabia, lá no
fundo, em algum canto do seu olho-paisagem, que as paralelas se cruzariam e que
a jornada valeria a pena só por sua leveza, só pelos seus quereres, que,
honestamente, nunca foram além das pétalas desfolhadas de um bem-me-quer ou das
sementes aladas de um dente de leão.
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