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sexta-feira, 14 de julho de 2017

Dente de Leão



Na falta do chão, costumava voar. Quando pequena, os pés balançavam longe do chão, em qualquer cadeira que lhe fizesse princesa. Depois voava em tapetes, para mundos nos quais reinava absoluta entre suas palavras.
O chão, na verdade, nunca lhe coube. Mesmo depois de crescida, parecia evitar raízes. Não pela profundidade, porque se expandia ao contrário, para os céus, mas pela fixação a um lugar. Gostava de ser como a água, tão fluida como um balé bem encaixado na música. Gostava de sair do lugar.
Quando cansada das suas lutas, olhava para si mesma, no espelho e tinha nos olhos longas estradas e ela ali parada, diante dos caminhos... Às vezes chorava: a lágrima-rio que lhe cortava o rosto, passava por baixo da ponte em que ela-menina se observava.
Era ela a paisagem e a observadora. A margem e o rio. A estrada que encontra o céu, não importa o quão longe isso aconteça, porque aprendeu a não medir distâncias. Aprendeu só a seguir, como puder, como der, como se só o caminho importasse, permitindo-se paradas, mas nunca estagnações, nunca a desistência.

Sabia, lá no fundo, em algum canto do seu olho-paisagem, que as paralelas se cruzariam e que a jornada valeria a pena só por sua leveza, só pelos seus quereres, que, honestamente, nunca foram além das pétalas desfolhadas de um bem-me-quer ou das sementes aladas de um dente de leão.  

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