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terça-feira, 18 de julho de 2017

Inverno




Não basta o frio da estação que castiga meu corpo, preciso lidar com as outras frentes frias que me paralisam. Para as baixas temperaturas combino um cachecol com uma meia surrada, um moletom com um jeans e a calça de pijamas por baixo. Uso luvas e touca. Bebo um café. Vários ao longo do dia. Rogo uma praga. Maldigo a estação e desejo o verão, mesmo sabendo que o logro se repetirá, também, contra o sol.
Baixaram-me as temperaturas dos sentimentos e já não os sei distinguir no necrotério-coração. São corpos gélidos e pálidos sobre a mesa do que fui, forrada dos planos que nunca completei.
Não adianta sobrepor o fio de vida que ainda me resta a essas vãs esperanças que ainda teimam em suspirar. Estão agonizando, eu sei. Assim com eu, elas tremem de frio.
Dos calores de outrora, não tenho, senão, lembranças... O coração-fornalha se acendia ao menor sinal do amor, espalhava suas brasas pelo meu rosto, atravessava-me a espinha com um vigor que me estremecia. E eu era pouco menos que uma incandescência de intensa felicidade...
Hoje, creio que arrasto correntes, conto os cubos de gelo no copo cheio de uma bebida qualquer. Reclamo do frio e me valho desses alcoolismos baratos para aquecer não sei o quê, já que eles entorpecem o que já nem lembro ou será que revivem o que eu penso ter esquecido?
Tremo com a melodia do vento em minhas orelhas no caminho para casa. Mordo os lábios queimados pelo frio e esfrego as mãos. Volto a lembrar de quando as mãos tinham outras entrelaçadas. Sorrio sem motivo. Bebo mais um gole da lembrança perdida.
Quero morder um pedaço inteiro do mundo, mastigar as pessoas que me aborrecem. Beijar as que quero bem. Quero engolir aos montes um sem fim de sentimentos para que me reaqueçam. O coração dá sinal de vida. Parece reaquecer a parte de mim que estava esquecida.
Não lido bem com esses meus rompantes sentimentalistas, mas gosto do calor humano que vem de mim e que recebo dos outros quando sorrio. Ganho um bom dia e as coisas começam a ganhar sentido.

O que me faltava era um fiapo qualquer de reciprocidade que encontrei no espelho-vitrine que olhei e de onde veio o sorriso-reflexo. O que me faltava era reacender em mim a chama que sempre fui. Talvez eu volte a ser incêndios. 

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