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quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Cânticos





Recosto minha cabeça em seu colo
De forma pequenina, limito-me a dormir.
De ideias fabulosas, não tenho o sono dos justos.
As inquietudes me invadem
Anseio a calmaria da árvore ancestral:
A firmeza de suas raízes,
A flexibilidade das suas folhas
Que bailam ao vento.
Clamo (e amo) o frescor das palavras.
Preciso descrever-me em sonetos.
Preciso tocar o poder lento de sua forma fixa.
Preciso correr meus dedos pelo seu contorno,
Misturar o que vejo,
O que sinto,
O que toco,
O que desejo.
Quero ser soneto!
Quero ser sonata,
Serenata,
Canto,
Dança.
Quero ser o que sou e o que não sou.
Quer ser a musa dos Cânticos dos Cânticos,
Aquela cujos Cantares foram poucos
E injustos,
Porque toda palavra é pouca para a Criação.
Toda palavra é muda diante da perfeição.
Mas não quero o perfeito.
Quero a quietude
A leveza da iluminação dos poetas
Que bebem suas agonias e as convertem em poesia
Que transmutam toda a dor em alegria
Quero navegar pelo idioma de Camões
Desbravar mares.
Ser nau de ideias em oceanos loucos.
Respirar o ar e provar o gosto de sal.
Farei do corpo que ali repousa o meu porto.
Farei do sal que experimento o seu gosto.
Assim, dormirei quase tranquila,
Como quem sonha durante o dia

E se entrega à noite nos braços de sua calmaria.

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