Segundo os Maias, o mundo vai acabar no dia 21... Correria, paranoias,
histerias. Muita gente acredita nesse fim. Eu não. Eu vivo esse fim.
Vivo o fim do mundo desde que o mundo é mundo. Desde que o homem
apareceu no mundo. Vivo a observar uma sociedade que se esforça para criar
armas que matam o seu semelhante, que desenvolve meios que expropriam o seu
semelhante, que foi chamada de seu próprio lobo.
Eu vivo o fim dos tempos. Do meu tempo, do seu tempo. De tudo o
que foi perdido, de tudo o que perdemos na nossa corrida diária atrás do nada,
atrás do vento. Nas horas intermináveis que perdemos nas filas que perdemos
imersos em nossas tristezas, em nossos problemas que às vezes nem são tão
grandes.
O fim do mundo já foi anunciado outras vezes e já foi cumprido
outras vezes, em tantas guerras, em tantos massacres como o que assistimos atônitos há uma semana,
nos sentindo atingidos pela violência que a escola estadunidense sofreu e
esquecemos o episódio igualmente trágico ocorrido na periferia do Rio de
Janeiro, envolvendo crianças igualmente inocentes.
O fim do mundo se deu quando nos permitimos destruir nossas
terras, tirar delas os seus donos legítimos e, pior, quando vemos os nossos
representantes votarem contra um projeto que simplesmente protegeria um espaço
que por direito e de fato seriam dos nossos índios.
É o fim dos tempos: apagamos nossas raízes admitindo que os
nossos índios são apenas figuras exóticas que povoam os nossos imaginários e
que se transformarão em contos que um dia ouvimos, já que não fazemos o mínimo
esforço para mantê-los vivos entre nós. É o fim dos tempos: nosso maior
arquiteto, centenário, talentoso e mundialmente reconhecido faleceu e teve sua
genialidade colocada à prova, sendo chamado de imbecil. Façam-me um favor: não
reconhecer nossa própria história é mesmo o fim dos tempos, anunciado pela
própria História, já que no momento em que não nos preservamos, em que não
valorizamos nossas raízes, nossas memórias apagamos lentamente nosso futuro.
É o fim dos tempos quando um canal de TV e uma revista tentam
manipular toda uma nação. É o fim dos tempos quando eu tenho que trabalhar 40h
por semana pra receber como pagamento míseros mil reais e vejo, no tal canal de
TV a aprovação de um aumento salarial para o STF, que trabalha bem menos de 40h
semanais e recebe só 30 vezes mais que eu.
É o fim dos tempos quando não conseguimos mais nos olhar nos
olhos e nos abraçar porque a correria do dia a dia nos impede, quando tudo o
que devia ser secundário ganha mais espaço, quando sou obrigada a dar razão
para a Mafalda, concordando que o “urgente não nos deixa tempo para o que
realmente importa”.
Sim, eu vivo o fim do mundo todos os dias, mas com sorte, temos
muitos mundos por aqui para ir destruindo aos poucos, mas um dia o cerco se
fecha e a história chega ao fim. Com sorte será num domingo de manhã, e eu
preguiçosamente vou assistir da minha janela, com um sorriso insatisfeito e
meio de deboche, assim , de canto de boca, pensando: eu não disse que o mundo
acabava todos os dias?
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