Visitas da Dy

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Fim do Mundo



Segundo os Maias, o mundo vai acabar no dia 21... Correria, paranoias, histerias. Muita gente acredita nesse fim. Eu não. Eu vivo esse fim.
Vivo o fim do mundo desde que o mundo é mundo. Desde que o homem apareceu no mundo. Vivo a observar uma sociedade que se esforça para criar armas que matam o seu semelhante, que desenvolve meios que expropriam o seu semelhante, que foi chamada de seu próprio lobo.
Eu vivo o fim dos tempos. Do meu tempo, do seu tempo. De tudo o que foi perdido, de tudo o que perdemos na nossa corrida diária atrás do nada, atrás do vento. Nas horas intermináveis que perdemos nas filas que perdemos imersos em nossas tristezas, em nossos problemas que às vezes nem são tão grandes.
O fim do mundo já foi anunciado outras vezes e já foi cumprido outras vezes, em tantas guerras, em tantos massacres  como o que assistimos atônitos há uma semana, nos sentindo atingidos pela violência que a escola estadunidense sofreu e esquecemos o episódio igualmente trágico ocorrido na periferia do Rio de Janeiro, envolvendo crianças igualmente inocentes.
O fim do mundo se deu quando nos permitimos destruir nossas terras, tirar delas os seus donos legítimos e, pior, quando vemos os nossos representantes votarem contra um projeto que simplesmente protegeria um espaço que por direito e de fato seriam dos nossos índios.
É o fim dos tempos: apagamos nossas raízes admitindo que os nossos índios são apenas figuras exóticas que povoam os nossos imaginários e que se transformarão em contos que um dia ouvimos, já que não fazemos o mínimo esforço para mantê-los vivos entre nós. É o fim dos tempos: nosso maior arquiteto, centenário, talentoso e mundialmente reconhecido faleceu e teve sua genialidade colocada à prova, sendo chamado de imbecil. Façam-me um favor: não reconhecer nossa própria história é mesmo o fim dos tempos, anunciado pela própria História, já que no momento em que não nos preservamos, em que não valorizamos nossas raízes, nossas memórias apagamos lentamente nosso futuro.
É o fim dos tempos quando um canal de TV e uma revista tentam manipular toda uma nação. É o fim dos tempos quando eu tenho que trabalhar 40h por semana pra receber como pagamento míseros mil reais e vejo, no tal canal de TV a aprovação de um aumento salarial para o STF, que trabalha bem menos de 40h semanais e recebe só 30 vezes mais que eu.
É o fim dos tempos quando não conseguimos mais nos olhar nos olhos e nos abraçar porque a correria do dia a dia nos impede, quando tudo o que devia ser secundário ganha mais espaço, quando sou obrigada a dar razão para a Mafalda, concordando que o “urgente não nos deixa tempo para o que realmente importa”.

Sim, eu vivo o fim do mundo todos os dias, mas com sorte, temos muitos mundos por aqui para ir destruindo aos poucos, mas um dia o cerco se fecha e a história chega ao fim. Com sorte será num domingo de manhã, e eu preguiçosamente vou assistir da minha janela, com um sorriso insatisfeito e meio de deboche, assim , de canto de boca, pensando: eu não disse que o mundo acabava todos os dias?

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