Abro a
Internet para olhar o que está acontecendo por aí. Resolvo cair na rede social
mais badalada dos últimos tempos e recebo em meu feed a seguinte notícia: “Por obras da Copa, prefeito de BH pede ao
STF corte na Educação”. Senti uma pontada aqui perto das costelas.
Fingi não ter
visto isso. Lancei logo um comentário ingênuo: “é fake”. Não, não é. É verdade. A notícia se alastrou pela internet e
me encheu de sentimentos que juntos, fizeram-me ter a sensação de ter a pior
profissão do mundo.
O prefeito de
Belo Horizonte, capital de meu Estado tão querido, fez o pedido formal ao STF
para que as verbas destinadas à educação tivessem um corte e que esse montante
fosse direcionado para as obras destinadas à Copa do Mundo.
Em que mundo
eu estou vivendo? Minas sediará três, APENAS TRÊS jogos dos jogos mundiais e a
nossa educação pode sofrer uma perda irreparável de 500 milhões de reais!
Isso é
desrespeitoso, uma infamidade, um absurdo completo com a profissão do
professor, mais uma vez sendo desvalorizado e, muito mais com a nossa educação,
artigo de quinta categoria, principalmente se for para fazer uma troca
indecorosa de verbas entre ela e o nosso futebol – claro, o melhor do mundo!
Contem-me a
piada de novo, porque eu não entendi. Não consegui rir. Não posso acreditar que
um pedido desse seja formulado por uma autoridade que deveria primar pela
qualidade de seus trabalhos voltados para a sua população.
Ah, espere!
Entendi! É justamente por isso que houve
o pedido: porque o prefeito está cuidado do bem estar de sua população: vivemos
em um tempo em que as mesmas políticas vivenciadas na antiguidade estão em
voga, mas modificaram-se os detalhes.
Não temos mais
pão e circo, mas temos cerveja e futebol. O espetáculo não pode parar! E daí
que as crianças não sairão da escola com uma boa formação crítica? E daí que os
professores continuarão a ganhar salários vergonhosos e desestimulantes? Teremos
copa do mundo!
Teremos copa
do mundo! Nossas crianças terão dispensa nos dias dos jogos da seleção! Teremos
“piada no bar e futebol para aplaudir”! Deus lhe pague, prefeito! Amém! A diversão
nossa de cada dia está garantida! A ignorância nossa de mais uma geração será
perpetuada mais uma vez! Deus lhe pague, prefeito! Em vez de uma leitura
crítica, no jornal teremos, de novo, a foto de um gol!
Estamos mesmo
de frente para o crime e batemos palmas! Será que não entendemos ou não
queremos entender?
Que raios de
sociedade politizada é essa que não questiona esses feitos?
Para que
sustentar uma máquina política que só busca investimentos em nossa própria
decadência enquanto seres críticos? Ah, me esqueci... nós a sustentamos
justamente por não entender a sua lógica desestruturante de nossos argumentos,
não a questionamos porque estamos ocupados, trabalhando para juntar dinheiro
suficiente para ir ao estádio, no domingo ver a final da copa do mundo, que com
sorte será entre Brasil e Argentina.
Domingo vai
ter futebol... e vai ser a maior curtição, ver um samba embalando com o meu
timão no estádio lotado enquanto as escolas vão se esvaziando de conteúdo, de
motivação, de criticidade.
Viva o país do
futebol, onde o sol nasce para todos, mas só brilha para muito poucos.
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