Ninguém sabe onde está o erro. Nem se anda só em linha errata.
Todo mundo perde a hora uma vez na vida ou todo dia. Nem sempre saltamos
onde gostaríamos de chegar.
As placas de sinalização, por vezes, não existem. Em outras estão quase
invisíveis. Nem sempre eu quero ir pra lá. Na maioria das vezes eu nem sei para
que lado olhar.
Ah, já perdi as contas de quantas vezes me desfiz. Quantas vezes virei
pó de mim mesma, pó de poesia, catando no chão algumas sílabas métricas para me
recompor em novo poema.
Um sem número de vezes viajei sentada no mesmo lugar ou adormeci no
ônibus em um trajeto de vinte minutos e pensei ter dormido por mais de
quarenta. E perdi planos. E remarquei voos. E não compreendi espaços. E
redesenhei a geografia tentando reescrever a História.
Já tentei domar o tempo. Usei chicote e banquinho. Roupa colorida de
circo, mas dispensei plateia. (Em certos vexames só me arrisco sozinha.) E foi
um fiasco. O tempo riu. Rui. Passou mais rápido, me deixou na mão, acenando
para mim, como quem se despede na estação.
Já tentei esticar a linha da vida e caminhar sobre ela, em linha reta,
sem erros ou desvio, mas linha era bamba demais e eu sem sombrinha cai. E o fio
emaranhou. E a história se misturou.
Tive que separar os personagens, devolver os roteiros e recontar cada
caso, percebendo que o inevitável acontece: muitos seguem, outros se perdem e a
estrada em linha reta é ilusão. É um estado febril de insolação. É busca que
não finda. É atoleiro de barro em terra seca, que o pé preso não se solta de jeito
nenhum.
Ninguém anda só em linha reta. Ninguém avança sem medos ou controla a
vida. Esse controle não é remoto e pilha nenhuma consegue fazê-lo funcionar.
Não se trocam os canais da vida real e há de se beber um pouco de aceitação. Há
de se entender que nem tudo é cognoscível. Há o insondável, o extraordinário. O
divino.
Há de se entender que nenhuma história será completa e vivida em sua
amplitude. As retas paralelas não irão se cruzar. As perpendiculares só se
tocam em um ponto e sua união é frágil, mas temos que avançar.
Ninguém consegue esticar as curvas e endireitar o que foi escrito torto,
então, que a caligrafia seja decifrada, que o recado seja lido, entendendo-se
ou não o que foi deixado em entrelinhas. Se o principal foi dito e
compreendido, que fiquemos satisfeitos.
Deixemos de lado as expectativas dos enigmas, dos véus. Esse privilégio
de ir além é para poucos. E para raros. A maioria se entrega ao que há de mais
comum e óbvio. E segue.
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