Engana-se quem acredita que eu, insone, só habito a madrugada. Na verdade pouco deles faço das horas andurriais
a minha morada. Desfio-me mesmo é à luz do sol, vagando pelos dias, procurando por meus melhores momentos.
Por mais que eu faça das madrugadas o
meu refúgio, o meu aconchego e que me digam insone, é à noite, enquanto todos
dormem que encontro o equilíbrio, que toco o limite tênue de minhas loucuras
com a sanidade que tanto necessito e que pouco busco, confesso.
Talvez seja a madruga a minha hora mais desperta.
Mesmo que pareça acordada é no meio
do dia, quase todo dia, que estou mais insone: recuso-me a cair no sono profundo
da mesmice cotidiana. Recuso-me a dormir o sono da rotina.
É ao meio-dia que estou mais insone. Não
pisco. Não descanso. Entrego-me às observações e análises, entrego-me ao
não-querer, ao não-aceitar, ao exercício de meu direito ao rompimento.
Em tempos em que as pessoas adormecem
em suas vidas e esperam passar todos os ventos, gasto minhas horas em
contemplação e reflexão. Sentinela das paisagens, falcão que voa pelo asfalto
quente, seco, sedento de chuva de inspirações.
À noite, sou de repousos. Sou de depuração.
Devagar vou digerindo todo o cansaço adquirido ao longo do dia, em minha
insônia. E, mesmo sem pregar os olhos, descanso.
Curioso é saber que mesmo quem está
ao meu lado pouco nota. No fim, ninguém repara na insônia que se manifesta ao
longo do dia.
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