Se eu pudesse escolher uma palavra que me definisse, essa seria:
transeunte.
A escolha se dá pela consciência de que tudo passa e de que eu passo por
tudo: pelas horas enfileiradas, pelas sensações indescritíveis e abstratas.
Sou transeunte de mim mesma, em mim mesma. Transito pelo corpo que vai
crescendo, que é formoso e que decairá. Transito por minhas lembranças, vivas,
irradiantes, que vão esmorecer e um dia se apagarão.
Não pertenço a nada e não poderei desejar nada que faça ficar em nenhum
lugar, porque a vida é movimento e se o é, que a estrada caminhe sob meus pés.
Não sou e nem serei nada, uma vez que logo desfarei minha existência em
pó, tão seco e leve como as areias do deserto. Tão facilmente carregado pelo
vento que o mundo será pequeno.
Por ser transeunte, passante, não me restam lamentos de horas tristes e
nem grandes comemorações para as horas felizes. Passo por elas como quem anda
em um corredor de uma galeria de obras de arte: pouco se sabe do autor, mas
admira-se a beleza, a dor ou a potencial alegria, mas jamais se fixa naquele
momento, naquele lugar. Precisamos passar. Para que outros possam vir. Para que
novidades se descortinem.
A certa altura pouco importa para onde vou, apenas o ato de ir me é lícito
e válido e merece o reconhecimento. É como nasci, passando de minha mãe para o
mundo, é como terminarei, passando do mundo para o descanso eterno, se assim o
merecer.
Transeunte. Passante. Ser que caminha. Pés que andam e pouco param. Pessoa
que aprendeu a amar as partidas com a mesma intensidade das chegadas e que acha
as despedidas tão nobres quanto as boas-vindas.
Eis que sou caminhante da vida e que me perdendo nos caminhos, crio
novos atalhos e me acho. Eis que me acho definida: transeunte.
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