Visitas da Dy

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Prometheus



Cabe a mim padecer no todos os dias no mesmo lugar. Cabe a mim ser vedado à calmaria, ao descanso, ao suspiro de alegria, ao leve balançar das mãos livres.
Coube a mim as correntes, a condenação, a punição sob o céu que conheci, que admirei e que por vontade própria ousei dividir s segredos.
Eu que só quis o bem daqueles que precisavam de fogo, doei a centelha divina que abriu-lhes as veias para o sangue correr aquecido. Eu que me recuso a crer que cometi um engano, recebo diárias penas e arrasto minhas correntes.
Eu, que de semideus, sou tão humano, que pelos homens nutri apreço e sacrifiquei a liberdade de meus passos pela imensidão pelos limites de estar acorrentado.
Eu que teimei com Zeus, com o deus, que cri no homem e na sua capacidade de amar, não fui merecedor do perdão divino, mas sim das penas. Duras penas que me voam e comem por dentro. Que me esperam anoitecer e refazer para me revisitarem e retornarem os castigos.
Eu que nu moro no alto Cáucaso posso ver os homens que mais amei, mas que estou sob os pés da ira do deus que me corrói as entranhas com uma águia.
Eu que passo os dias a contar o tempo, procuro fugir de mim. Procuro esquecer-me de mim, mas não posso. Sei que meu fim é exclusivo de meu corpo. Sei que o sofrimento que verto em sangue por esse chão veio da teimosia que nunca neguei, do equilíbrio entre o bem e o mal que jamais exercitei.

Eu que amei a criação mais do que a mim e a presenteei com o segredo dos deuses e com o fogo de suas paixões recebeu aquilo que o supremo me prometeu. E talvez por isso nunca esqueço-me de que me chamo Prometheus e que lutei pela proximidade entre os deuses e a humanidade.

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