Cabe a mim
padecer no todos os dias no mesmo lugar. Cabe a mim ser vedado à calmaria, ao
descanso, ao suspiro de alegria, ao leve balançar das mãos livres.
Coube a mim as
correntes, a condenação, a punição sob o céu que conheci, que admirei e que por
vontade própria ousei dividir s segredos.
Eu que só quis
o bem daqueles que precisavam de fogo, doei a centelha divina que abriu-lhes as
veias para o sangue correr aquecido. Eu que me recuso a crer que cometi um
engano, recebo diárias penas e arrasto minhas correntes.
Eu, que de
semideus, sou tão humano, que pelos homens nutri apreço e sacrifiquei a
liberdade de meus passos pela imensidão pelos limites de estar acorrentado.
Eu que teimei
com Zeus, com o deus, que cri no homem e na sua capacidade de amar, não fui merecedor
do perdão divino, mas sim das penas. Duras penas que me voam e comem por
dentro. Que me esperam anoitecer e refazer para me revisitarem e retornarem os
castigos.
Eu que nu moro
no alto Cáucaso posso ver os homens que mais amei, mas que estou sob os pés da
ira do deus que me corrói as entranhas com uma águia.
Eu que passo
os dias a contar o tempo, procuro fugir de mim. Procuro esquecer-me de mim, mas
não posso. Sei que meu fim é exclusivo de meu corpo. Sei que o sofrimento que
verto em sangue por esse chão veio da teimosia que nunca neguei, do equilíbrio
entre o bem e o mal que jamais exercitei.
Eu que amei a
criação mais do que a mim e a presenteei com o segredo dos deuses e com o fogo
de suas paixões recebeu aquilo que o supremo me prometeu. E talvez por isso
nunca esqueço-me de que me chamo Prometheus e que lutei pela proximidade entre
os deuses e a humanidade.
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