Na brasa de
mais um cigarro aceso ela contabilizava por quantas camas já havia passado as
suas noites.
Silenciosa,
imaginava uma lista de quantas vezes sussurrava palavras em orelhas frias que
esqueceriam tudo aquilo pela manhã.
Tentava
lembrar as cores dos lençóis em que se enrolara nas manhãs de atraso, quando o
despertador preguiçoso não se lembrou de acordá-la.
Deu-se conta
de que ainda esperava como uma donzela por alguém que a despisse de verdade.
Para todas
aquelas coisas que já havia feito na vida existiam significados. Uma mesma ação
tomava nuances diferentes. Mas nada nem ninguém ainda a tinha tocado de
verdade.
Envolvidos na
fumaça de seu cigarro, seus pensamentos ganharam os céus pintados no teto do
quarto, já com tintas desbotadas. Se pudesse fazer três desejos, apenas um
bastaria. Não porque se satisfazia com pouco, mas por ter encontrado, naquele
momento o único significado que valia a pena desejar.
Desejaria, de
todo seu coração, alguém que a visse nua. Não, não alguém que jogasse suas
roupas pelo assoalho, mas alguém que a desnudasse plenamente, até a alma.
Alguém a quem ela se mostraria completamente nua, sem nenhum medo.
Diante de seu
expectador se revelaria. Abriria todas as suas gavetas, contaria todas as suas
histórias, organizaria todo o seu mundo e, livre, o convidaria a entrar, sem
pressa, com leveza, com entrega.
Despida de si
mesma ela teria a firmeza e a segurança de convida-lo a participar de sua vida.
Convidaria-o a tatear a sua pele e os seus sentimentos. Iria se desfazer de
toda maquiagem, de todos os artifícios que a afastavam de quem realmente era,
deixando à tona apenas sua própria essência, aquela que ela tinha por costume
deixar velada.
Frente a
frente com seu expectador não temeria perder nada, pois já o teria ganhado. Já
teria conquistado o maior espaço que se pode haver no mundo, que é o coração de
alguém.
Exposta ao seu
único observador, aos poucos, ganharia coragem de sair nua pelas ruas. Uma
nudez que não se refere às roupas, mas ao que se sente e, de peito aberto,
passaria a encarar todos com olhar mais altivo, mais certeiro, confiante de
quem sabe muito bem o que quer, para onde vai e qual a companhia tem.
Na brasa de
mais um cigarro, percebeu-se brasa à espera de um sopro leve para incendiar. E
desejou ter direito a pelo menos um pedido a uma estrela cadente que riscou o
céu naquele momento.
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