Pergunto-me se
há algo que possa exercer tanto fascínio quanto os olhos. Espelhos rasos que
guardam segredos e revelações, que sustentam brilhos e incertezas. Exercem sobre
mim tanto encantamento que ouso escrever sobre eles.
Já vi olhos
que buscavam pouso na linha tênue que une céu e mar, sempre desejosos de
descanso no horizonte, sempre famintos pelo mundo e suas belezas, suas
delicadezas, suas diferenças.
Há olhos
seguros de si, marcados pela força que transmitem, como setas que mergulham no
alvo sem erro, sem vacilo, que se prendem nos olhos alheios, captando-lhes a
alma, arrancando o que não é dito pela boca, mas que também se deixam revelar
quando convém, sem, no entanto, permitir-se desarmar.
Já vi olhos
castanhos, de cedro, arca sagrada, fechada, guardiã de sonhos, gostos, medos,
tão brilhantes que ofuscavam...
Olhos de
veludo castanho... desses que se assemelham a terras desconhecidas que envolvem
tantas histórias quantas podem ser escritas na areia do deserto em noites de
lua recolhida. Olhos de mistérios mais instigantes que o movimento das areias
ao vento, movendo as dunas..
Já vi olhos de
mar em tons de azul, de verde, de breu, que levam em si todos os segredos que
deslizam sobre eles como barcos á deriva e que esperam por mãos firmes a guiar
seu leme.
Já vi olhos
que queriam decorar o contorno do mundo, só pelo prazer de descobrir cada novo
traço.
Já vi os meus
olhos: inquietos, vivos, atentos e dispersos, paradoxo completo, que se
encantam por outros olhos a cada dia e que não se cansa de buscar luz e beleza,
porque se cansaram da escuridão.
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