Visitas da Dy

domingo, 15 de novembro de 2020

Portais

 



(Poema premiado em segundo lugar no I Concurso de Poesia do Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora, novembro de 2020)


Eis que portais se abrem.

Paredes sustentam o passado,

Acolhem o presente, 

Como fiandeiras incansáveis

Que falam ao futuro.

As memórias ecoam vivas,

Coloridas, em formas e traços

E fazem a magia do encanto,

Do espanto, do saber:

A História desce sobre nós,

Faz do museu o seu templo,

Faz dos homens um novelo

E os amarra em narrativas,

Tão próximas que quase tocamos.

Tão nossas e deles e dos que virão

Como se pudesse não existir o tempo.

Eis que portais se abrem 

Em mostra ou exposição,

Memórias. Construção.

Pedra. Cal. Tinta. Som. Arte.

O fio segue pelo tempo. 

Além do tempo.

Ignora os séculos.

Tudo é saber.



terça-feira, 22 de setembro de 2020

Lavínia

 



Dorme sonhos cor de rosa,

Tão puros quanto seu nome.

Reaviva esperanças em meio ao caos.

Era essa a hora de sua chegada?

Sim! Era esse o plano do destino:

Encerrar o inverno,

Florescer com a estação,

Ser, mais que tudo, amada

E por extensão pulsar:

Por a vida em movimento.

Bendito o mundo que a recebe:

Agora está mais doce,

Mais leve, mais risonho e puro.


sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Ao menino que voa

 




(Para Rafael Drumond, em 18/09/2020, como forma de não o esquecer)



Talvez um sopro,

Um salto, uma aventura,

Uma paisagem na janela,

Mas, ainda assim e sempre,

A música mais bela:

Uma canção de amor.

E isso é vida. A vida.

De tudo o que vivemos,

Lágrimas e sorrisos,

Mas, o amor, só ele cura

E da asas ao anjo

Que quando cumpre sua missão, voa.

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Urgências




O amor é urgente
Principalmente sob o efeito da saudade.
Nesses dias frios e noites longas,
O que me invade é sua falta
O que desejo são seus calores.
A urgência de amar
Chega a sufocar no peito.

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Aceite






Por quanto tempo viveste entre as brumas,
Sonhando estar entre rendas e plumas?
Tu que atravessaste penas, dura,
Na labuta diária de esconder-te
De outros, sim! Mas, antes de ti...
Tumultuados dias em teus próprios labirintos,
Penosos ritos de libertação e autocura.
E eis que o espelho encara-te
E afundas em tuas movediças areias
Atravessas teu íntimo e (quase) renasces:
Aceita-te e viverás de levezas.
Não sem dores, mas, com verdades.
Aceita-te e esqueça-te de quem foras
O que és é demasiado melhor.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Fuga




Cada letra uma esperança,
Cada palavra um labirinto,
Cada sonho um fio.
Em noites longas e frias,
Com luas à míngua,
Perdia-se em arranjos poéticos
Tão bonitos quanto desesperados.
Era um perder-se em pensamentos
Encontrando-lhe no frescor da fantasia.
Eram abraços não dados,
Beijos desperdiçados
E dias seguidos de um isolamento
Mais de si do que do social.
Era um reinventar-se diário
Arrastando-se na pandemia.
Nada tinha de bonito,
Mas, sua fuga era a poesia.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Lareira




Então, faço-me quieta, silenciosa,
Mas, por dentro estou em sobressaltos.
Existindo entre futilidades e noticiários,
Descobrindo-me sensível e forte,
De quereres intensos e imediatos, Violentamente genuínos.
E quedo-me absorvida por seus olhos
Pela paz e calmaria de seus olhos que ardem.
Não tenho pensamentos bons nem maus,
Mas, (im)pacientes e crescentes.
Nominados. Endereçados. 
Quentes. Lareiras no inverno da saudade.



sábado, 11 de julho de 2020

XXVIII - O Cigano

 



Sabes que a hora é essa.

Sabes que a ação parte de ti.

Para quem sabe onde quer chegar,

Força para lutar não falta

E coragem é o move os sonhos.

Não se deixe enganar por ilusões:

É tempo da razão.

Planeja e faz:

O movimento deve ser imediato

A estrada foi feita para ser caminhada




sexta-feira, 10 de julho de 2020

XXVII - A Carta

 




À hora, à hora...

Não há tempo que desacelere

Nem segredo que se cale.

Sob o céu de nossos dias

Todo envelope se abre 

Todo segredo se expõe

Toda palavra chega aos ouvidos

Então, que as bocas falem

Os ouvidos ouçam:

Só a palavra liberta

E desfaz os nós dos silêncios.

Que nos reste dúvida:

É preciso ter diálogo para viver

quinta-feira, 9 de julho de 2020

XXVI - Os Livros

 



Há dentro de ti segredos.

Guarde-os.

Há dentro de ti sede de conhecimento.

Aprenda.

Sua jornada é de aprendizagem

Seus passos, de crescimento.

Compartilhe saberes e vivências,

Mas guarde para si seus planos.

Esteja atento aos detalhes:

Entrelinhas e silêncios falam.

Saiba ouvir a vida,

Seja parte do tempo,

Da dança da vida.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

XXV - O Anel

 



Comprometa-se consigo.

Descubra sua verdade.

Estabeleça laços profundos.

Não teça nós. 

Teça redes.

Nenhum homem é uma ilha.

Nenhuma andorinha voa sozinha.

Cerque-se de amores,

Aceite carinhos e incentivos:

Relações de afeto florescem

E se fortalecem para o bem.

Envolva-se com a força da paixão

E construa, todos os dias, 

Um caminho de realizações.



terça-feira, 7 de julho de 2020

XXIV - O Coração

 



Crê que o amor existe,

Encontre-o no espelho.

Ali, imersa em si, cresça.

Não importam as madrugadas.

Não são tão longas as tempestades

E todo céu que se parte ao meio

Pari um novo azul.

É chance de ser imensa,

De experimentar levezas e harmonias.

É o momento de deitar ao sol

E sentir-se em plenitude.

As emoções movem o mundo

Descubra cada uma delas

E aprenda a desfrutar

Ame!

segunda-feira, 6 de julho de 2020

XXIII - O Rato

 





Não há trava mais em seus olhos

Que as ilusões que cria para si.

Afasta-se de tudo que fragiliza:

Aduladores, astutos, oportunistas.

Acorde para o seu destino

E mude seus rumos,

Tome prumo.

Nada é fixo e imutável

Mas, a paralisia lhe ronda.

Saber observar, despertar é virtude.

Abra ouvidos e boca:

A palavra pode ser sua força.


domingo, 5 de julho de 2020

XXII - Os Caminhos

 





Eis que ao sentar à beira,

Abrem-se os caminhos.

Atalhos, desvios, estradas:

De quantas coragens se faz um passo?

Quantas incertezas precedem o movimento?

Na bagagem, pouca, só o que é bom.

Peso morto vira pedra,

Pedra vira construção,

Complemento de paisagem.

Daqui em diante é tudo chance,

É tudo largo e profundo.

É tudo caminho feito pelos pés do caminhante.

É tudo tempo atrás de tempo.

Resiliência

Aprendizagem

Coragem


sábado, 4 de julho de 2020

XXI - A Montanha

 



Não se preocupe com o tempo.

A roda do ano é lenta

E cada estação tira, em acordo,

As justas folhas do calendário.

Se o desafio assusta, descansa.

Seja firme nas escolhas,

Assuma decisões

E entenda: a vida é turbilhão.

E, por muitas vezes, nem sim, nem não.

Aprenda a digerir talvezes,

A contar saberes,

A reunir forças para a escalada.

A montanha é alta,

Mas, não é intransponível.

Sempre haverá um caminho.


sexta-feira, 3 de julho de 2020

XX - O Jardim





No tempo certo, sementes.

Dormências, desafios,

E, de novo o tempo:

Da cura, do descanso, 

Do florescer, da colheita.

Com as podas, aprender a crescer.

Com as horas, o amadurecer.

Agora, senta à sombra de suas histórias,

Acolha e seja a acolhida.

É no seio da terra que se fortalece.

É no seio da família que expande.

Agora que sabe ser flor,

Receba borboletas:

Elas colorem seu caminho,

Iluminam sonhos,

Elas alegram seu jardim.


quinta-feira, 2 de julho de 2020

XIX - A Torre

 






Não há nada que lhe fortaleça

Que não lhe habite.

Não há nada que lhe derrube

Que não conheça a fundo.

O olhar para si é o mergulho intenso

Voltar à superfície é saber se salvar.

Erga-se imponente

Mas não esqueça de suas bases:

O que sustenta também faz cair.

Construa sua história

Protegendo suas raízes.

Aceite com as pausas.

O silêncio é mestre do tempo,

Seja aprendiz de si mesmo.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

XVIII - O Cão

 




Aquele que ampara e acolhe.

Fiel companhia.

Quem se alegra com sua chegada,

Quem, no infortúnio, 

Lambe suas feridas.

Eis sua sorte grande,

Sua estrela guia:

Aquele que vem, completa e harmoniza.

Aquele que protege, cuida 

E é para toda vida.

Só a verdade dura.

Só o amor cura.


segunda-feira, 29 de junho de 2020

XVI - A Estrela

 




Tudo tem sua hora e lugar.

O passado, deixe estar.

Agora é tempo de renovar,

Transformar, crescer e brilhar.

Não se prenda ao que passou

Assim como águas passadas 

Não movem moinhos,

Tempos idos não abrem caminhos.

Ouça seu coração,

Sua intuição,

Seu eu.


domingo, 28 de junho de 2020

XV - O Urso

 



Parece o Canto de Ossanha,

Que um dia o poeta cantou:

"O homem que diz "dou" não dá, porque quem dá mesmo não diz"

E o recado se faz em força:

Atenta ao que lhe bajula 

Porque falsidade se cria num triz.

Domina sua força e sabedoria,

Usa seu faro e se guia.

Desate seus nós um a um

Para não se arrepender no fim do dia.

Espera calado e observa

As voltas que o mundo dá.

Espera quieto e em prece

Que tudo de resolve e passa a agonia.

Selecione bem os amigos.

Escolhe bem o que planta.

A colheita vem ainda que tardia

E não recebe nada que não merece

Sempre será de suas mãos a messe.







sábado, 27 de junho de 2020

XIV - A Raposa

 



A mão do destino brinca.

Dispõe as peças a seu bel prazer.

Surpresas. Armadilhas.

Encontros. Desencontros.

Desperte sua atenção.

Observe os detalhes.

O que está ao lado?

Cautela e sabedoria são as chaves do mundo!

Seja a raposa ágil.

Seja a espreita.

Seja o discernimento.


quinta-feira, 25 de junho de 2020

XII - Os Pássaros


 


Sob o céu, sua paz,

Suas escolhas, sua liberdade.

Sub os céus, suas preces,

Seus vôos, suas companhias.

Sob o céu, ainda que caibam tristezas

Haverá sempre mais um dia.

Sê como os pássaros:

Alça vôo, canta, mas, volte para o ninho.

Construa seu plano, sua jornada,

E saiba que dividir é multiplicar,

Que a revoada é em bando,

Que a solidão não compensa.

O equilíbrio é a chave!

quarta-feira, 24 de junho de 2020

XI - O Açoite

 



Aceite suas responsabilidades.

Encare a vida, os desafios.

Não há nada maior que você,

Sua força, sua energia.

O açoite faz a justiça:

Cabe a você usar da sabedoria,

Assuma sua própria liderança.

É chegada a hora do passo

Largo, bem dado, firme.

Receba as consequências,

Acolha o fruto de suas escolhas

E saiba entre o bem e o mal

Só há uma linha tênue

Cruza-la só depende de seus pés.

terça-feira, 23 de junho de 2020

X - A Foice




É chegada a derradeira hora:
A dor, o pranto, o fim.
Não que colecione lágrimas,
Não que mereça as dores,
Mas, por lhe caber o novo,
Cresça através da poda.
Abra mão de seu lugar comum,
Aceite quebrantar-se
E receba um mosaico de novidades.
Expandir os olhares,
Acolher as mensagens,
Transformar-se.
A foice não é o fim.
É o processo.
Colha!

segunda-feira, 22 de junho de 2020

IX - O Buquê




Cabe ao amor ser tanto que expande.
Dissipa obstáculos,
Aplaca os medos,
Transborda em sorrisos,
Conquista as almas.
Cabe ao amor colorir os dias,
Trazer a felicidade,
Experimentar a plenitude,
Colher os frutos meus doces.
Cabe ao amor o perfume das flores,
A beleza do buquê de cores,
O merecimento das glórias,
A leveza de quem se realiza.

domingo, 21 de junho de 2020

VIII - O Caixão




O tempo, as areias do deserto,
O vento, as intempéries...
Tudo passa: sua dor, sua luta,
Seu rancor, seu medo, sua tristeza.
Que os dias não lhe pesem
Mais que o necessário
E que saiba desfazer-se:
De tudo que não lhe cabe,
De tudo que não lhe ensina,
De tudo que nunca foi
E ainda teima em carregar.
Encerre seus ciclos
Cure suas feridas
E renasça.
Tudo é passagem!
A vida é caminho.

sábado, 20 de junho de 2020

VII - A Serpente




Palavras sutis e disfarces,
Mal-me-quer, mas, bem-me-engana.
Sussuros, segredos,
Entredentes, ardis.
O perigo espreita,
O bote se arma.
Quais segredos seu lado escuro guarda?
De quantas sombras é feita sua noite?
Afasta-se da língua que fere,
Do olho que cobiça,
Da mão que domina.
Recolha-se em si
E aprenda a renascer
Em um outro dia
Em solidão.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

VI - As Nuvens



Aquieta a alma nesses dias nublados.
Recebe a mãe do tempo em seu peito.
Ela também é senhora das tempestades:
Ainda que o caos assuste
É nele que tudo se cria.
Raios partem seu céu
Como as dúvidas cortam seu ser,
Mas, deixe estar, deixe passar: 
Logo a nuvem se dissipará
E a clareza lhe falará aos ouvidos.
Contemple a beleza do que está distante
Entregue-se ao destino:
Mãos amigas lhe amparam e cuidam.
Descanse à sombra das horas.
 





 

quinta-feira, 18 de junho de 2020

V - A Árvore




Do teu passado, semente,
Firmam tuas ancestralidades, família.
Prende-me ao chão, raízes da razão,
Sem que eu me esqueça de outrora,
Sem que eu desonre a tradição,
Mas, que eu saiba crescer
Com as podas da vida,
Que os cortes doam, mas, libertem.
Que o novo (re)nasça em mim
Para a elevação,
Para a transformação,
A vitalidade do ser.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Fim de Outono





Acostumei-me à escuridão,
Aos silêncios, penumbras.
Acostumei-me aos vinhos solitários,
Aos sábados longos e lentos,
Como o fim do Outono.
Aos romances apenas nos livros.
Acostumei-me tanto ao frio,
Que me assusto com o calor que emana,
Com as brasas de seus olhos,
Com suas palavras aconchegantes,
Tão normas e macias.
Com a luz que suas mãos representam.
Como romper esse véu
E descortinar o querer?

terça-feira, 9 de junho de 2020

Girassóis incendiados





Há tanto sol em sua presença
Que todo azul é pouco.
E se me ofusca os olhos,
Deles sem faíscas
Que acendem tantas chamas 
Quanto a primavera a-flora.
Incendeio os girassóis em meus cabelos,
E danço com os tambores
Que em meu peito tocam.
Sua chegada me encanta,
Seu amor me apavora.








segunda-feira, 8 de junho de 2020

Anoitecer


(Anoitecer do dia 06/06/2020, por Saulo Otoni)



Ainda antes da noite cair,
Da escuridão vencer,
Suas cores vivas brilham no céu.
Seus vermelhos encantos,
Suas douradas vitórias
Traduzem-se em fé.
Enquanto, sob o céu, os homens se perdem,
É sob sua guia que me movimento:
Há dor, cansaço e desânimo,
Mas, por suas cores, há o alento,
A esperança, o amanhã.
A Senhora do Tempo sorri.
A Filha do Tempo cresce.
O Tempo sabe e passa.
É na peleja do vermelho com o castanho 
Que a beleza salta e alivia.

domingo, 7 de junho de 2020

Pão e Vinho




Eis que dos paradigmas
Coube a ti ser as quebras,
Os descaminhos, os desafios.
A mim, relutante, a reflexão,
O ponderando, o risco.
O passo dado, firme.
A queda brusca, livre.
O pão, o vinho, a lágrima.
Do sorriso fez-se o silêncio.
E, mais uma vez, 
Misturei-me ao tempo,
Ao vento, à reconstrução.

sábado, 6 de junho de 2020

Café com conhaque





Fui descrente dos perigos,
Neguei os atestados todos.
Mordi todas as maçãs,
Trilhei todos os atalhos.
No peito vazio, flor.
Na boca entreaberta, teu sabor.
Era pouco mais que café e conhaque,
Que tarde e prosa e repente.
Era tanto que crescer já nem cabia
E agora, sinto-me perdida.
Se abraças minhas tempestades, afloro.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Khansin



Tens olhos de outono
Como se a estação pudesse,
Por mágica, se resumir
Em um único brilho, única cor.
Tens olhos de outono,
Folhas secas que, voando a qualquer léo,
Pousaram em mim e sequer vi.
Tens olhos de outono,
Mornos como o sol de terça-feira,
Que envolvem-me como Khansin*,
Quente, seco, forte, persistente.
Tens olhos de outono
Que acalmam minhas tempestades
E aquietam meus pensamentos.
Tens olhos de outono
Que me desabrocham, acolhem e domam
Como se me coubesse tal sossego de espírito.
Como se me fosse possível ser mais que eu.
Como se em meu peito se abrisse 
Algo maior e mais azul que o céu.

*Khansin - em árabe, vento quente, seco e arenoso que sopra de sul no norte de África.


quarta-feira, 27 de maio de 2020

Viajante





Sou viajante do tempo e das estradas,
Das histórias e dos nomes,
E não quero pousio em leito seco de rio.
Tampouco faço milagres de renasceres:
Minha magia, antes de tudo, nunca lhe coube.
O que brota em ti é de tuas profundezas,
São tuas entranhas mostrando a essência:
Os quereres são autônomos,
Selvagens e dominam o encantador 
Mais do que são dominados.
Talvez eu seja aquela que me arrisque,
Que cavalgue seus desejos,
Que os acalme tanto quanto necessário
E os deixe apaziguados, saindo ainda na madrugada
Porque não me cabe pousio 
Em leito de rio seco
(Nunca matam minha sede por completo).
Quero antes a aventura,
O desafio, a ventania
Porque já tenho em meu peito
Muitas sombras e vazios
E dispenso isso que parece chamar de precauções.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Suspiro




Bateu um coração
A tempo e à hora:
Certos do encontro, do amor,
Mas, ainda era na aurora
E antes do amadurecimento, 
A poda outonal.
Outras sementes florescerão
E teremos primaveras e verões,
Mas, no grande ciclo, 
O inverno também é caminho.
E ainda que tenhamos na lembrança
Algo que tenha durado um suspiro,
Já mora no Palácio da Memória
E, para a saudade, isso basta.

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Praepotens





É possível que me chegues dia desses
Tão logo deixemos de contar o tempo
E que me tomes como tema cotidiano,
Sem alardes, sem anúncios, sem pompas.
É possível que me percorras os poros
E me transbordem sensações.
Periódicos deságues tão intensos quanto profundos.
É possível que eu siga prepotente,
Rejeitando culpas, açoites, maçãs e julgamentos
Porque de ti quero dentes e unhas
Mordidas e fomes.
Eu serei a saciedade.

domingo, 24 de maio de 2020

Fomes




É tudo tão bonito e desigual.
Na mesma paisagem que te quero
Bocas e beijos e dentes e prazeres,
Outros desejam de boca aberta
A saciedade, o pão e a água.
São tantas fomes que constrangem.
De certa forma, minha boca espera suas cores:
Devo sorver seu mistério ao avesso,
Decifrando o azul, o vermelho, o negro, o tinto
Entre a boca, a taça, o agora e o sono.
Porque em alguma ordem o caos acontece
E joga na minha cara a dicotomia legítima da vida:
Todos querem tudo, mas, tudo é diferente.
A mesma paisagem abre bocas de diferentes formas
E eu prefiro o contorno da sua
Enquanto finjo não ver as outras
(Necessidades)
- Se me permite, até sorrio
Mesmo sabendo que ainda há fome.

sábado, 23 de maio de 2020

Ad Kalendas





Deixei de esperar as calendas
Que, de novidade, me trariam teus sons.
Às nonas teci longas histórias
Ainda à espera das travessias de terras,
E de tuas triunfais entradas entre as montanhas.
Em meus sonhos eu o observava do alto.
Não por supremacia ou orgulho,
Mas, por sedição, dissimulação de quereres.
Agora, acostumada aos idos
(Já não conto os nomes primeiros, terceiros, quintos),
Reconheço tanto a estação quanto meu corpo:
Fonte de sumos de frutas adocicadas.
Sazonal desejo de águas represadas
De um janeiro a outro dezembro
E continuou à espreita, na janela.
Sei que me chegas.
Não sei se me alcanças.

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Carnaval de Todo Dia




Cá de onde eu óio o mundo
Das lonjuras da terra,
Mais pertim das nuvem,
Eu me encanto toda hora
Com as cor das borboleta:
Um monte de confente no céu.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Bebendo a Lua

(Foto de Mário Brazil, em 06/05/2020)

A noite caiu tão séria
Que nem o vinho lhe atrasou.
A lua logo encheu-se e transbordou no céu...
Honesta, mostrando sua forma.
Sinceramente brilhante. 
Igualmente, estamos, nessa noite, distantes
 - Há tanto o que sonhar e criar
Que ater-me em um só lugar é pouco -
Igualmente estamos frias,
À espera da chama que nos aquecerá.
A taça de vinho logo encheu-se e transbordou em mim...
As luzes da cidade ofuscam-me os olhos
Quando virá dividir essa taça comigo?
Quando virá experimentar de meu vinho?
À sua espera, convido a lua:
Hoje vou bebe-la à noite inteira.
Amanhã, eu não sei. 
Talvez beba você.

quarta-feira, 20 de maio de 2020

Nostalgia




(Para o querido amigo Jodenir, em 06/05/2020)

Houve um tempo que eu era intrépido:
Sem planejamentos, inquieto,
Com avidez e voracidade pela vida.
Não! Pelo agora! Pelo presente!
Como se desembrulha-lo fosse urgente.
E era. Eu era visceral como toda juventude.
Agora, com tantos tics e tacs somados em meu relógio,
Bebendo o tempo em taças de saudade,
Cresci... Amadureci... Endureci também...
E a consciência me envolve cada vez mais.
E a nostalgia me cai tão bem quanto a voracidade.
O presente ainda me encanta,
Mas, não rasgo mais o seu embrulho.
Eu o desfruto, ao máximo,
Sendo colorido pelos seus cheiros,
Inspirando seus sabores,
Mais humano, mais habitante de mim
Tão vivo quanto antes, mas, consciente do fim.
(E sem teme-lo nem adia-lo, 
Apenas vivendo)

terça-feira, 19 de maio de 2020

Beleza e Abandono


(Foto enviada por Saulo Otoni e que fez nascer essa poesia, em 05/05/2020)

O vento do outono corta meu rosto
Como já estão cortados meus sonhos.
Dilacerados planos
Abandonados como construção antiga
Largados ao esquecimento,
Mas, ainda envolvidos por certa beleza,
Pela graça da melancolia prateada
Que como um plenilúnio ilumina 
Todos os cantos de minha memória
E você ainda está lá,
Dentro de mim.

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Fonte





Endurecemos a cada golpe,
A cada novo inverno.
É preciso buscar as frestas de nossas muralhas,
Desmontar nossas armaduras.
Aos poucos, nós, mulheres, desbotamos,
Mas, resistimos e voltamos a brilhar.
Estamos em qualquer lugar 
Onde a fonte corre 
E o amor não seca...

sábado, 16 de maio de 2020

Mesma Situação, Outros olhares




Canários, calopsitas,
Periquitos, ararinhas
E tantos outros pássaros
De asas confiadas em gaiolas.
Para seus donos: pura beleza.
Para os animais: sobrevivência.
Agora você está aí,
No seu lar aconchegante
E o chama de jaula
Em recolhimento
E o chama de isolamento
Em momentânea separação
E a chama de solidão.
Quem sabe agora aprende
Que ser livre é condição
De alma e pé no chão?
Se acalme, se acalme,
Cante um samba 
Recite um verso
A liberdade vem
É só questão de tempo.

sexta-feira, 15 de maio de 2020

Do Amanhã






Do amanhã, o que vai ser?
Na metáfora da vida,
Somos cães recolhidos,
Lambendo feridas.
Sofremos as penas que procuramos,
Vivemos o caos que instauramos.
Estamos sozinhos na noite escura
Privados de afeto e presença,
Mas, antes que o desespero vença,
Reflita e semeie esperança:
Atravessamos uma madrugada fria,
Mas, de certo, no horizonte
Há outra chance brotando:
Um dia novo já vai amanhecer
Nova vida, nova história.
E do amanhã, o que vai ser?

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Lei da Vida





Quantos anos você tem?
Quantos amores viveu?
Já aprendeu a lidar com sua sombra?
Hoje era dia de feira e você parou.
Hoje era dia de correria e você parou.
Hoje é dia de vida:
De se olhar, se aceitar, se amar.
Hoje é dia de respirar:
Ar puro, ar calmo, harmonia.
Só quando enxergar beleza no dia,
Só quando compreender a poesia
É que terá força pra seguir.
É a lei da vida.
Viva!

(Parar também é viver!)

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Camisa no armário






Por ora, tudo vai bem:
Há vinho, vida e poesia.
Há tempo e sonho e nostalgia.
Agora, sua ausência é bonita
É uma saudade gostosa
De um tempo de descobertas,
Carinhos e magias.
Com o tempo, bebi a mágoa,
Apaguei a brasa da dor
E visto bem a saudade
Materializada em sua camisa esquecida no armário.

terça-feira, 12 de maio de 2020

Recado






Tudo aquilo que destino aos teus olhos,
Faço chegar como convém.
Com alarde ou sutileza,
Pousam sob teu olhar 
Como a ave à beira do regato.
Exponho-me diante de ti
Como se fosse banhada pela lua:
Entre sombras, mistérios e sussurros
Sem que nada me escape de além.
Apenas o necessário.
Apenas o delicado.
Silhueta sob um véu
Asas para tua imaginação,
Como se eu pudesse povoar-te.
Morar em teus pensamentos,
Dominar os teus desejos.