domingo, 24 de maio de 2020
Fomes
É tudo tão bonito e desigual.
Na mesma paisagem que te quero
Bocas e beijos e dentes e prazeres,
Outros desejam de boca aberta
A saciedade, o pão e a água.
São tantas fomes que constrangem.
De certa forma, minha boca espera suas cores:
Devo sorver seu mistério ao avesso,
Decifrando o azul, o vermelho, o negro, o tinto
Entre a boca, a taça, o agora e o sono.
Porque em alguma ordem o caos acontece
E joga na minha cara a dicotomia legítima da vida:
Todos querem tudo, mas, tudo é diferente.
A mesma paisagem abre bocas de diferentes formas
E eu prefiro o contorno da sua
Enquanto finjo não ver as outras
(Necessidades)
- Se me permite, até sorrio
Mesmo sabendo que ainda há fome.
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