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domingo, 19 de abril de 2015

Tardes




Não tarde a chegar nesse fim de tarde em que a lua já desponta, em que o último cacho dourado do sol descansa à beira da janela onde coloquei meu vaso de flores.
Não tarde a ser o motivo do sorriso em minha boca, em colher o beijo que lhe reservei e que contenho mordendo os lábios encarnados com a cor viva de jardins inteiros, quente como o fim desse dia de verão.
Chegue e não tarde o instante dos olhares. Já está muito adiantado o andar das horas, dos dias, dos anos que contamos e das tantas experiências que ainda não partilhamos, mas estão à espera de nós, cintilando nos resquícios da luz que ainda suspira nesse fim de dia.
Estanque à minha frente e deixe-me dedilha-lo como se fosse um alaúde, como se não me restasse escolha a não ser fazer ressoar a canção que representa a minha vida, meus sonhos e meus prazeres. Cantarei a você meus versos iluminados pela chama das velas, companheiras dos ecos que minha boca chama: seu nome desconhecido.
Silencie os agouros que me foram atirados. Acanlante as preces que desfiei não em rosários, não em contas de lágrimas, mas nos sons longínquos de além mar, de além olhos, carregados com os cansaços de meu fardo que pesa mais quanto mais tarde fica.
Não tardemos mais o nós. Desfaçamo-nos dos nós e apreciemos a noite e o sol que tarda a amanhecer nos presenteando com as noites mais claras que pudemos experimentar, desejosos de que outras tantas possam vir para contemplarmos os eclipses que criamos entre nossos desejos nos céus de nossas bocas.
Não tarde a ser a luz incandescente de meu crepúsculo, minha estrela da tarde, porque eu ainda espero que seu luar me nasça e me amanheça, rompendo a ordem dos luzeiros celestes e a lógica dos tempos marcadamente cansativos.
Chegue em uma tarde e faça com que meu corpo lhe guarde e me esqueça, antes que seja tarde, e eu mesma me converta no próprio esquecimento, no limbo entre a incerteza do que é alegria, do que é a tristeza, do sei ou pensava saber.

Que seja a tarde o momento em que cheguemos nos festejos das festas de fogo e preces que abrem as portas dos sonhos, que abrem os braços do infinito para as tantas histórias, que abrem os vinhos das calmarias que nunca chegam tarde.

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