O que não se apaga
É o amor da memória.
É o que vi de olhos fechados,
É aquilo que desnorteou
Quando cheguei ao norte.
O que não esqueço
É o que me tirou o ar.
O segundo em que parei de respirar
A surpresa embrulhada em dia claro,
A serra dourada de sol
Em dia comum, sem feriado,
Em fuga do mundo,
Que de tanto só andar
A mim parecia estagnado.
O que ainda lembro
É o cheiro do café fresco,
O canto longínquo no tempo,
Ecoando na sala de visita.
É o véu que nunca usei,
E a dança que ensaiei.
O que me corre nas veias,
Passa pelos olhos e pelo peito,
Não é sangue, mas tem tons de vermelho:
É sonho de infância, terracota, barro,
Doce de padaria.
É o reflexo crescendo e mudando no espelho,
É papel, cola, tesoura,
Caderno novo, caneta colorida.
É passeio e vestido de estampa florida.
É o que não toco com a ponta dos dedos,
Mas me toca de leve, acaricia.
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