Quando pus-me a caminhar pelo mundo,
Pés descalços, alma desarmada,
Não esperava tantos espinhos.
Acreditava nas flores que via,
Nos tantos perfumes que inebriam
E que emolduravam os amanheceres.
Meus olhos ardiam com as quenturas do verão,
Entristeciam-se nas friezas invernais,
Mas, tocados pelas delicadezas dos entremeios
Fossem outonos ou primaveras,
Coloriam-se e ganhavam vida.
Dos tantos laços que teci,
Alguns me prenderam, ásperos, de modo que sofri.
Outros tantos, de tão frouxos, igualmente doeram.
Curiosa sensação de dor:
Pelo aperto ou pela folga.
Os extremos doem.
As doçuras de açúcares nem sempre verdadeiros
Tanto adoçam quanto amargam.
Amarguei as realidades que engoli à pão seco,
Com solavancos, trancos e barrancos.
Com dores certas que me acertaram no alvo, no âmago,
Alma nua, crua e alvejada.
Alma crescente, tornando-se experiente
Tocada por esperanças renovadas de felicidade
Desfazendo-se dos vazios que preenchiam seus interiores,
Expulsando tudo o que não fosse alegria.
É cansativo desfazer-se de si mesma.
É construção lenta de pontes de sentimentos,
É um aprendizado constante de equilíbrio,
É lidar com repousos inquietos
E inquietudes que acalmam.
É saber-se pouco e tanto que se baste
É saber que não se basta só por querer
É aprender a esperar
E esperar para aprender
É ser contrários em si
E respeitar-se
É ser:
Serenidade.