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segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Sombra de nós mesmos



Eu não tinha esses olhos tristes,
Essas mãos geladas,
Essas noites sem sono e sem sonhos.
Costumava ser mais alegre antes...
Já não sei onde foram parar as cores,
Será que a tinta acabou?
Olho ao redor e vejo prédios cinzas,
Pretos, beges e brancos.
Anúncios prometem milagres
Vendem de tudo,
Compram-nos a alma.
Onde vamos parar desse jeito?
Nosso destino é mesmo ir às compras?
Estamos fadados aos shoppings centers,
Fast foods, magazines e blá, blá, blá?
Quero de volta as bodegas, quitandas e vendinhas.
Quero praças com casais de namorados,
(novos ou velhinhos)
Quero crianças brincando nas ruas.
Chega de tantos carros!
Essas buzinas me enlouquecem!
Vamos passear no entardecer e tomar sorvete,
Como fazíamos depois da aula,
Lá no século passado,
Que se foi há pouco mais de dez anos.
Experimentamos o progresso
Como quem bebe gotas diárias de veneno.
Morremos lentamente na correria que criamos,
E ainda somos capazes de dizer que somos felizes.
Eu, ah, eu era criança naquele tempo bom...
Eu era criança quando o aparelho celular não existia,
Quando orelhão funcionava com ficha,
Quando bala era troco na vendinha,
Mas eu asseguro:
Já FOMOS felizes.
Hoje vivemos nas sombras de nós mesmo,
E nada mais.

1 Comentários:

Raphael disse...

Eu me lembrei agora do nosso querido Belchior: "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais". Recordo-me ainda da alegoria socrática (há quem diga que é Platão) onde os pobres seres se deleitavam com a vida ínfima da caverna, escarneando a recusa deste senso comum. Mas também me coloco nessa divina comédia humana (Belchior novamente) a esperar que o Super Homem venha nos restituir a glória (parafraseando Gilberto Gil). É dificil mensurar onde termina o altruísmo e em qual esquina começa o autoritarismo. O que temos certeza é que estamos longe de conseguir, precisamos colocar o planeta no divã.

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