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quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Carta de amor



Sempre quis escrever uma carta de amor. Cometer sinceridades tamanhas, que não se pudesse medir ou contar.      
Sempre quis escolher o papel mais bonito, a cor da caneta, borrifar o perfume favorito e sorrir leve, como quem só fica presa ao chão pela simples obrigação de existir, já que o ato de viver mesmo ocorre entre uma e outra constelação.
Sempre quis ter o cuidado de não precisar escolher tanto as palavras, não me preocupar com métricas e rimas e pontuação... É que, penso eu, as cartas de amor fazem sentido por si só. Por sua existência, fazem-se perfeitas, (in)coerentemente bem colocadas sobre a mesa ou entre flores. Mas a minha carta se negaria aos clichês...
Nela não teria uma afirmação se quer sobre o amor. Não haveria uma promessa, uma gota de nada além de honestidade. Uma honestidade crua, tão transparente que chegaria a doer.
Nada de "eu te amo" ou "pra sempre". Tudo de "te compreendo", "estou tentando" e "por favor, me ajude". É que eu defino o amor como uma tentativa de entrega que depende essencialmente do outro. Da disposição. Do cuidado. Da atenção. Não cabem as fórmulas, as projeções, os planos todos. Cabem esperas e uma luta constante contra essa minha ansiedade sobre o bom dia de amanhã.

Eu escreveria minha carta sem maiores pretensões a não ser de que fosse lida. Com sorte, respondida, mas isso, é via de mão única: ela vai, se volta, ninguém sabe... Escreveria. Como faço agora: confissão aberta de quem não teme despedaçar o peito e entregaria num dia de feira, comum. Sem data especial ou festa, porque eu ainda acredito que todo dia é dia amor.

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