Era pra ser um
poema, mas é uma desordem.
Sei o que me
inspira, mas não o que me traduz.
Como, então,
fazer-me clara?
Como, então,
desnudar a alma?
Como, então,
ser mais do que essa superfície?
Não foi só a
pele que me tocou,
Mas minhas
profundidades
E não tenho mais
palavras.
Não foi só aos
meus olhos que alegrou,
Mas minhas
intensidades
E agora só uso
a linha d'água para transbordo.
Não foi só um
hoje que vivi, um breve instante,
Mas longas
jornadas que se findaram ali.
Eu era uma
busca desesperada por não sei o quê
Tornei-me o
grande encontro de nada que de repente era tudo
Era pra ser um
poema, ter rima, não faltar tinta,
Mas é só uma
desordem limitada pelas margens que nem são minhas.
Agora volto a
ser aprendiz, dominar encantos, medir prantos
Volto a não
saber mais nada e a aceitar isso como dádiva.
Agora não sei
onde estou e rasguei todos os mapas.
Agora
larguei-me à deriva nessa larga avenida.
Agora escrevo
em guardanapos e paredes,
Povôo tetos
com estrelas que saem das pontas de meus dedos.
Agora salto as
horas das noites como dragões sobre as casas:
Tenho asas que
me levam a qualquer canto,
Tenho um fogo
que carrego e me inflama.
Tenho pouco
mais que uma bagunça cotidiana.
Era pra ser um
poema, mas sinto que sou uma desordem.
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