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quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Desordem



Era pra ser um poema, mas é uma desordem.
Sei o que me inspira, mas não o que me traduz.
Como, então, fazer-me clara?
Como, então, desnudar a alma?
Como, então, ser mais do que essa superfície?
Não foi só a pele que me tocou,
Mas minhas profundidades
E não tenho mais palavras.
Não foi só aos meus olhos que alegrou,
Mas minhas intensidades
E agora só uso a linha d'água para transbordo.
Não foi só um hoje que vivi, um breve instante,
Mas longas jornadas que se findaram ali.
Eu era uma busca desesperada por não sei o quê        
Tornei-me o grande encontro de nada que de repente era tudo
Era pra ser um poema, ter rima, não faltar tinta,
Mas é só uma desordem limitada pelas margens que nem são minhas.
Agora volto a ser aprendiz, dominar encantos, medir prantos
Volto a não saber mais nada e a aceitar isso como dádiva.
Agora não sei onde estou e rasguei todos os mapas.
Agora larguei-me à deriva nessa larga avenida.
Agora escrevo em guardanapos e paredes,
Povôo tetos com estrelas que saem das pontas de meus dedos.
Agora salto as horas das noites como dragões sobre as casas:
Tenho asas que me levam a qualquer canto,
Tenho um fogo que carrego e me inflama.                           
Tenho pouco mais que uma bagunça cotidiana.

Era pra ser um poema, mas sinto que sou uma desordem.

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