Visitas da Dy

domingo, 27 de agosto de 2017

Entendimentos



Não. Você não entende nada. Não entende porque eu não expliquei. Nem tive tempo. Faltou vontade. Em meus dias de transparências (as que vesti pra você) e as que fui, achei que bulas e manuais fossem dispensáveis.
Não, você não entende nada porque era alheio a todo sentimento. Pouco sabia das dores ou dos amores, mesmo eu tendo tentado traduzí-los a você. O mundo gira e tudo, hora ou outra, volta ao seu lugar. E todos, hora ou outra conhecerão tudo o que há. 
Só agora conhece essa sensação de vazio? Ela raramente me abandona... Só agora experimentou os abandonos e as sombras que corações selvagens têm como rotina e companhia? Eis aí o que vivo, indomável coração pulsante, que não corre pelas veias porque sabe que não voltaria ao seu lugar, mas que me empurra rumo ao que (nem sempre sei que) anseio. 
Talvez agora você compreenda porque o som da luz do dia me incomoda tanto: ele não me deixa pairar sobre o cotidiano. Ele me força em espaços formatados e não caibo nesses lugares. Nasci alada, expansão, sou tanto dos silêncios noturnos que me sobram estrelas.
Não, você não entende nada porque não dá corda ao dia. Não sabe ouvir o ritmo que me move e nem compreenderia a dança leve de meus olhos sobre seu contorno enquanto dormia longe de mim. Assim, do meu jeito sufocado e quase calado eu o tocava à distância, sentindo sem, de fato, possuir. 
Sou de serenas alucinações poéticas. Um quê de praticidade e impulso bem calculados de nada: avanço suicida do que se sente. E ninguém entende... 
Não, você não entende a dor que agora bebe afogada no copo. Eu já a conheci. Já a destilei pra você, já tirei o extrato mais amargo e converti em minhas poucas doçuras, mas pouco importa o esforço... o descarte nunca tem valor posto à mesa.

Não, você não vai entender que me fiz seu espelho e lhe devolvo a paisagem que me mostra. Seus olhos se fecharam para o que eu ainda nem havia dito e, agora, ao som de seu próprio eco, são surdos os meus ouvidos.
Não, você não entende porque, no fundo, acha que é melhor a estagnação do que se debater em tentativas e, por gostar tanto do que sempre é, preferiu fincar raízes, enquanto eu me podei para criar asas. Sobrevoarei você, estático querer.

0 Comentários:

Postar um comentário