Estou num poço
sem fundo chamado noite. A luz foi aprisionada em algum lugar desse poço.
À sua beira,
tento, em vão, salvar os resquícios de luz que me acalmam. Não toco a água nem
vejo o fundo.
Ao longe há
uma moeda disforme, agitada como meus pensamentos. É uma projeção ilusória, mas
me encanta. No fundo do poço mora a lua ou é lá que eu, por engano, descobrirei
que a vida é um sopro?
Estou à beira
do poço que engoliu a luz e a aprisionou. À beira da noite que me enfeitiçou.
Que faço eu, Moura sem encantos, para dissipar o breu?
Sou parte do
vazio que ecoa nesse poço: os luzeiros do céu embelezam, mas também se apagam.
É a certeza de que há um ciclo prefeito em todas as coisas e que a função do
homem é nascer-buscar-morrer como o dia. Como a noite.
Estou à beira
dos limites de água e céu, despedindo-me da terra. E eu tenho fome. E eu tenho
sede. Quero engolir metade do mundo de uma vez só e devolver a luz ao céu...
Quero beber
toda essa água que teima em afogar as mágoas e sufocar-me só daquilo que é
bom.
Estou à beira
da noite, mas já ouço o dia. Encontrei a palidez da primeira Estrela despertar
e estendi-lhe a mão. Vamos juntas rasgar o céu e viver de luminosidades quase
sonoras.
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