Visitas da Dy

quarta-feira, 24 de junho de 2015

(Dis)sabores



Você deve estar naquela pausa momentânea
Que desejamos ao longo do dia,
Que é alívio, descanso e livramento da euforia.
Eu estou imersa em um blues:
Não onde começo eu, onde termina ele.
É um som quase tranquilo como eu:
Um monte de quases inconstantes.
Você deve ter planejado todos os detalhes,
Preparado a bolsa, verificado agenda,
Revisado os compromissos com atenção tremenda.
Eu me perco nos espaços da cidade,
Faço um poema meio seco, meio surdo, blasé
Como o tempo frio lá fora.
Você deve estar pelo caminho,
Talvez onde eu o deixei da última vez,
Talvez entre um trabalho e outro, apressado e descompassado,
Ou quem sabe escolhendo onde beber no próximo sábado?
Eu ando cantarolando, lendo outdoors e propagandas,
Escorregando pela seriedade que uso e não me cabe,
Dançando no sentido anti-horário, evitando filas,
Mudando itinerários.
Você deve estar fazendo tudo como sempre fez:
Os mesmos lugares, as mesmas músicas, as mesmas cores,
Incrustado em passados que são mais presentes que o agora,
Reproduzindo todos os sons, amargando todas as dores.
Eu sigo em constantes rompimentos
Com o que me incomoda e engessa
Como se não tivesse amarras ou convenções,
Embora me prenda ao chão por algumas razões.
Você deve estar sendo o mais do mesmo,
Acostumando-se com o ritmo do mundo,
Desfazendo-se de si mesmo diante de tantos olhos,
Perdendo-se enquanto se esvai o encantamento pelo dia, por tudo,
Enquanto força-se a (in)delicados esquecimentos...
(De si? De outros? Do todo?)
Eu, dessa vez, entremeios a cansaço e desistências,
Abro mão da teimosia,
Aceito o que me foi dado à revelia:
Bebo cotidianos e engulo contradições,
Descobrindo novos contornos de prédios antigos,
Novas saídas de ruas conhecidas,
Seguindo ao sabor do vento

Se é que ele tem algum sabor.

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