Visitas da Dy

sábado, 6 de junho de 2015

Clandestino



Era pra ser um coração inteiro,
Mas estava rachado.
Era pra não ter dor, só cor,
Mas estava apagado.
Era pra se imaginar coisas lindas,
De por do sol a afago de vento,
Mas ninguém pode imaginar
O tamanho da dor da gente.
Entre taças estilhaçadas ou cheias,
Entre corpos quentes e ocos
Pairam sentimentos desconhecidos.
Línguas nunca aprendidas,
Verbos nunca conjugados
De um ser-estar cada vez mais solitário,
Rumando em vias largas
De um mundo vasto e cansado,
Onde já não fazem sentido
Nem o verso
Nem a hora
Nem a fé.
Da solidariedade que me ofereciam
Só as canecas aceitei
E contei os passos tortos que dei
Em invernos mais frios do que a estação
Em que eu me encontrava,
Sendo vagão perdido
Ou parado.
Sem destino.
Na bagagem um dor fina,
Quase fria
Que ninguém compreendia
Nem eu.
Porque no fundo,
Não sabemos de nada
E o pouco que ousamos,
Nunca basta.
E a meia-noite tarda a passar
Como os amores

Que tardam a chegar.

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