Sou miudeza. Minúscula. Poeira.
Grão de pólen dourado que só brilha no sol. Brevidade. Tenho mãos pequenas e
pés que se perdem. Tenho dedos curtos, finos, delicados, desses que tremem ao
segurar um cristal. Tenho olhos brilhantes e curiosos. Sou pequena luz inquieta
que busca acender olhos que vagam por breus.
Por ser pequena, não tenho
muito. Tenho quase nada. O que tenho me basta. Bastaria se fosse seu. Se eu
fosse sua. Bastaria se não fosse de silêncio, do seu silêncio atordoantemente
agudo aos meus ouvidos.
Sou minúscula e seus olhos
não me veem. Espero à sombra de mim mesma que me veja. Que olhe para mim e
perceba que sigo seus rastros. Como a delicada joaninha ao pé da flor que tem
sua beleza anulada, quase imperceptível porque só os aromas interessam a quem
visita o campo.
Sou poeira levada pelo
vento. Arrastada pelos passos de um caminhante qualquer que ousa em becos e
vielas. Sou poeira repousada nas curvas de um ponto de interrogação que ecoa
pelos vãos do tempo. Em galhos secos de frases podadas da boca seca de palavras
certas.
Sou grão de pólen de
versos desalinhados que provocam reboliços turbilhantes em minha própria mente.
Contiguidade em meus descontínuos temas paralelos que se encontram em meu
infinito de ideias, prantos, lamentos, desabafos e alegrias, rompendo a lógica
euclidiana.
Sou brevidade, tempo
determinado. Sou hora marcada para o fim. Tenho pouco tempo no relógio, pouca
areia na ampulheta, pouco sol nas pedras angulares. Sou folhas contadas na
agenda, dias esgotados do calendário, mas ainda assim lhe espero.
Pelas minhas mãos pequenas
a caneta lhe escreve, lhe descreve, conjuga suas ações com as minhas. Salvam-me
do limite da eira, tiram-me da beira, evitam a vertigem.
Pelos meus dedos pequenos
toco canções ininteligíveis, com palavras nunca antes pronunciadas por nossas
bocas. E já são tão poucas que pago pelo preço do que não vejo e já nem sinto
tanto. Será que ainda há o encanto? Vago. Silêncio. Silencio. Não ouço resposta
ou assobio. Suplico, conjuro, adormeço em minha miudeza de ser e grandeza de
sentir, em minha pequenez de alma e imensidão de amar.
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