Visitas da Dy

sábado, 19 de outubro de 2013

Estejas longe de mim


Há uma hora escura em que perdemos as rédeas de nós mesmos. Sei que essa hora chegará para mim e para você e para todos que temos à nossa volta. Essa hora negra nos tira do sério. Afasta-nos de nós mesmos. Afugenta nossa lucidez e nos deixa à beira de nossos próprios abismos, sem eira para segurar. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
Quando as palavras me faltarem, sei que estarei perdida em silêncios, não saberei nada do léxico, direi frases que se distanciam do menor nexo. Nesse momento gritarei calada e ninguém ouvirá meu grito. Minha prece não será repetida e nem tão pouco a minha oração será atendida. Terei me esquecido de como se abre a boca. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
Nos dias em que me castigar com a tua presença silenciosa, recolherei as minhas gotas de brilhante nascidas de meus lagos rasos de tristeza, choradas das profundezas de minhas entranhas, trazendo à tona a minha dor. Sentirei na carne a navalha afiada de teu descaso e verterei sal em honra às palavras doces que já ouvi de ti. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
Será naquele dia em que puderes me estender a mão e nada fizer que sentirei a punhalada do teu não-querer em face a todo o meu bem-querer devotado e febril. Lançarei teu nome em um livro de esquecimento e lamentarei o dia de folia em que meus olhos juraram fidelidade e lealdade aos teus, assumindo toda a minha ingenuidade. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.

Chegando o dia em que eu precise levantar um brinde à tua felicidade em detrimento da minha, erguerei meu cálice de vinho tinto, do qual farei tinta rubra para escrever-te versos. Desejarei que me leias, mas temerei as minhas entrelinhas. Mostrarei a ti a nobreza de minh’alma que mesmo em frangalhos, louva por sua existência. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.

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