Há uma
hora escura em que perdemos as rédeas de nós mesmos. Sei que essa hora chegará
para mim e para você e para todos que temos à nossa volta. Essa hora negra nos
tira do sério. Afasta-nos de nós mesmos. Afugenta nossa lucidez e nos deixa à
beira de nossos próprios abismos, sem eira para segurar. É nessa hora que rogo
que estejas longe de mim.
Quando
as palavras me faltarem, sei que estarei perdida em silêncios, não saberei nada
do léxico, direi frases que se distanciam do menor nexo. Nesse momento gritarei
calada e ninguém ouvirá meu grito. Minha prece não será repetida e nem tão
pouco a minha oração será atendida. Terei me esquecido de como se abre a boca.
É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
Nos
dias em que me castigar com a tua presença silenciosa, recolherei as minhas
gotas de brilhante nascidas de meus lagos rasos de tristeza, choradas das
profundezas de minhas entranhas, trazendo à tona a minha dor. Sentirei na carne
a navalha afiada de teu descaso e verterei sal em honra às palavras doces que
já ouvi de ti. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
Será
naquele dia em que puderes me estender a mão e nada fizer que sentirei a
punhalada do teu não-querer em face a todo o meu bem-querer devotado e febril.
Lançarei teu nome em um livro de esquecimento e lamentarei o dia de folia em
que meus olhos juraram fidelidade e lealdade aos teus, assumindo toda a minha
ingenuidade. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
Chegando
o dia em que eu precise levantar um brinde à tua felicidade em detrimento da
minha, erguerei meu cálice de vinho tinto, do qual farei tinta rubra para
escrever-te versos. Desejarei que me leias, mas temerei as minhas entrelinhas.
Mostrarei a ti a nobreza de minh’alma que mesmo em frangalhos, louva por sua
existência. É nessa hora que rogo que estejas longe de mim.
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