Sempre quis
escrever uma carta de amor. Cometer sinceridades tamanhas, que não se pudesse
medir ou contar.
Sempre quis
escolher o papel mais bonito, a cor da caneta, borrifar o perfume favorito e
sorrir leve, como quem só fica presa ao chão pela simples obrigação de existir,
já que o ato de viver mesmo ocorre entre uma e outra constelação.
Sempre quis
ter o cuidado de não precisar escolher tanto as palavras, não me preocupar com
métricas e rimas e pontuação... É que, penso eu, as cartas de amor fazem
sentido por si só. Por sua existência, fazem-se perfeitas, (in)coerentemente
bem colocadas sobre a mesa ou entre flores. Mas a minha carta se negaria aos
clichês...
Nela não teria
uma afirmação se quer sobre o amor. Não haveria uma promessa, uma gota de nada
além de honestidade. Uma honestidade crua, tão transparente que chegaria a
doer.
Nada de
"eu te amo" ou "pra sempre". Tudo de "te
compreendo", "estou tentando" e "por favor, me ajude".
É que eu defino o amor como uma tentativa de entrega que depende essencialmente
do outro. Da disposição. Do cuidado. Da atenção. Não cabem as fórmulas, as
projeções, os planos todos. Cabem esperas e uma luta constante contra essa
minha ansiedade sobre o bom dia de amanhã.
Eu escreveria
minha carta sem maiores pretensões a não ser de que fosse lida. Com sorte,
respondida, mas isso, é via de mão única: ela vai, se volta, ninguém sabe... Escreveria.
Como faço agora: confissão aberta de quem não teme despedaçar o peito e
entregaria num dia de feira, comum. Sem data especial ou festa, porque eu ainda
acredito que todo dia é dia amor.